Chegamos ao quarto dia da nossa Eurotrip e à cidade de Manchester, no norte da Inglaterra. Se você chegou direto neste post – seja bem-vindx! – e deixa eu explicar melhor o que que está acontecendo. Em 2018, para fechar o meu intercâmbio em Dublin, na Irlanda, em grande estilo, peguei minha malinha de bordo e meu namorado na época (hoje, marido) e fizemos uma viagem de 35 dias diretos pela Europa e Marrocos, no norte da África. E hoje vou compartilhar com você o meu roteiro de 1 dia em Manchester e as principais atrações da cidade.
E, já vale lembrar, que Manchester é cidade grande! Então tem muita coisa para ver e fazer. Como deixamos apenas um dia para ela tivemos que dar uma bela selecionada. Mas vou explicando cada escolha ao longo do post.
Como chegar em Manchester?
Como você já viu no post de Liverpool, nós não pernoitamos na cidade porque seguiríamos a viagem até Manchester. Saímos na estação Liverpool Lime Street às 22h25 – vou sempre repetir, lembre-se da pontualidade britânica! – e chegamos em Manchester Piccadilly às 23h30. Foi 1 hora e 50 minutos de viagem pela Northern. De lá, seguimos para nossa acomodação pelo Airbnb porque começaríamos cedinho nossa tour pela primeira cidade industrial do mundo.
O que saber antes de visitar Manchester?
Para entender – e se apaixonar ainda mais por – Manchester, é preciso de uma rápida contextualização histórica. É interessante saber que ela foi, lá por volta de 79 d.C. um assentamento romano de nome Mamucium? Sim, é. E você pode até mesmo visitar vestígios desta época ainda nos dias de hoje. Porém é no século XIX que as coisas acontecem. A industrialização da cidade – fomentada pelo têxteis, mais especificamente, o algodão – fez de Manchester um dos motores da Revolução Industrial. E este passado fabril é mais do que perceptível em qualquer passeio pela cidade.
Eram tantas tecelagens de algodão em Manchester que a cidade ficou conhecida durante um tempo como Cottonopolis (algodão, em inglês, é cotton). E tudo aqui que estudamos na escola aconteceu: o êxodo rural (a fuga dos camponeses para a cidade afim de arrumar emprego), a superpopulação dos centros urbanos e a automação dos meios de produção (e com ela, a escassez de trabalho, aumento da criminalidade e da pobreza) e a proliferação de doenças (causada por falta de higiene e pestes).
Por isso a chamada “desindustrialização” foi um baque tão grande para Manchester. Com o fim da Segunda Guerra Mundial o processamento e o comércio de algodão – que era o carro-chefe da cidade – caiu drasticamente e isso ocasionou o fechamento da Bolsa de Valores da cidade (1968) e do porto (1982), que chegou a ser o terceiro maior do Reino Unido.
Mas, e o futebol?
E, sim. Além de tudo que já contamos até agora, Manchester respira futebol. Não é nada parecido com o que presenciamos na La Bombonera, em Buenos Aires, mas eles tem muito orgulho e gostam muito do esporte em si. O Museu Nacional do Futebol que fica no centro é uma mostra disso. Outra é quando fomos almoçar perto do Old Trafford, o estádio do Manchester United e os senhorzinhos que estavam lá queriam puxar papo com a gente para falar do Pelé quando souberam que somos brasileiros. Nossa cara foi impagável. Mas eles perceberam sozinhos que quando a gente nasceu, o “rei do futebol” já tinha se aposentado há mais de 30 anos (e sim, eu dei um Google nisso para poder fazer essa constatação hahahaha). Mas Manchester e futebol é o tema do próximo post (em breve!).
As principais atrações de Manchester
Eu já disse que Manchester é uma cidade grande. Mas, mesmo assim, a maioria dos seus pontos turísticos podem ser percorridos a pé. E foi o que fizemos. Além das atrações históricas e dos museus, passear no centro comercial da cidade também é muito legal. É aquele fervo de gente indo e vindo em seus afazeres diários e eu simplesmente adoro parar para tomar um café e ficar observando a agitação. O nome do centrinho nervoso de Manchester é Deansgate, que na verdade é uma rua, e passamos por ela inúmeras vezes durante o nosso dia.
E uma das coisas que é importante salientar é que no Reino Unido a maioria dos museus são de graça. Isso mesmo, é for free. Mãs, também na maioria deles, não é só chegar-chegando. Pelo menos foi essa a percepção que eu e o Gian tivemos. Nas placas, nas recepções e nos funcionários que abordam você, eles incentivam fortemente a doação. Ou seja, pedem que você ajude com o valor que você puder para manutenção do lugar.
Comecemos?
Bee in The City
Uma das coisas que mais me chamaram atenção em Manchester foi o contraste entre passado e futuro a cada esquina. Perto de construções seculares, prédios modernos foram erguidos. Perto de uma catedral gótica, um museu interativo e tecnológico. E, no meio disso, uma intervenção artística que une todas as polaridades da cidade. A Bee In The City – Abelhas na Cidade, em tradução livre – espalhou mais de 100 esculturas estilizadas do inseto, incluindo a Rainha, pelas ruas. Foi tão legal encontrá-las durante o passeio.
Mas, por que abelhas?
Nos anos 1800, as fábricas têxteis de Manchester eram chamadas de colmeias e, consequentemente, seus funcionários reconhecidos como abelhas. Desde então, as abelhas-operárias tornaram-se símbolo da cidade. É então uma herança de seu passado industrial.
Castlefield
Nas margens do rio Irwell fica o bairro de Castlefield, considerado o berço da cidade de Manchester. É lá que começamos o nosso roteiro. Mais especificamente à beira do Bridgewater Canal, via aquática construída para transportar carvão para as fábricas da região. De lá seguimos para as ruínas do Forte de Mamucium, um dos resquícios – e prova – de que a área foi um assentamento romano no passado. Ali pertinho está também a estação de trem mais antiga do mundo que hoje é um dos maiores museus de ciência e indústria do globo.
Bridgewater Canal
Para que as máquinas que impulsionaram a Revolução Industrial funcionassem era preciso de carvão. Antes da construção do Bridgewater Canal o combustível era levado para as fábricas por carrinhos, mas – como dizem – tempo é dinheiro, não é? Daí a importância dos canais como via para navegação. E não para por aí. O engenheiro responsável pela construção desse canal também desenvolveu, um ano mais tarde, uma método para içar o carvão das embarcações usando a força da água. Por isso você vai ver que muitas construções possuem “portões” a nível da água para já agilizar esse trabalho. Legal, né?
Império Romano em Manchester
Escavações arqueológicas mostram que os romanos ocuparam a região de Castlefield por volta de 79 d.C. E não se tratava apenas de uma fortaleza militar, mas de um assentamento completo com direito a vila de civis com familiares de soldados e comércio. Estima-se que mais de duas mil pessoas viveram ali, entre o Forte de Mamucium, a “cidade” e os jardins. Além de ver as ruínas, é possível visitar reconstruções e ter uma ideia do que foi esse período na história de Manchester.
Museu da Ciência e da Indústria
Instalado dentro do primeiro terminal ferroviário de passageiros do mundo, de 1830, o Museu de Ciência e da Indústria (Science and Industry Museum) tem como objetivo mostrar 250 anos de inovações e ideias que tiveram origem na cidade e mudaram a nossa existência. Não é à toa que é considerado um dos maiores do globo.
Como você já viu na contextualização histórica ali de cima, a cidade cresceu por causa do algodão. Por isso, uma das seções do lugar é voltada para essa parte da sua história. Outra área grande da exposição é a que fala sobre trens e locomotivas, já que a ferrovia entre Manchester e Liverpool foi a primeira a levar pessoas, e não carga.
The John Rylands Library
Existem algumas bibliotecas em Manchester e entramos na John Rylands simplesmente porque começou a cair uma senhora chuva em cima de nossas cabeças. E, agora eu sei, foi na verdade uma benção. Que lugar mais bonito. E foi lá dentro que soube de mais uma faceta de Manchester: ela foi lar das sufragistas, grupo de mulheres que lutaram muito para poder votar. A exposição – que infelizmente, era temporária – chamava-se Women Who Shaped Manchester (Mulheres que Moldaram Manchester) e trazia cartas de Emmeline Pankhurst, uma das líderes do movimento. A título de curiosidade: na Inglaterra, as mulheres só conquistaram o direito ao voto em 1928, depois de muitos anos de militância.
Sobre a biblioteca
A Biblioteca John Rylands – inaugurada em 1 de janeiro de 1900 – não chama atenção somente pelas obras que guarda. Ô lugar bonito! Você tem que entrar olhando para os lados e para cima. Nunca deixe de olhar para cima. É desafiador eleger o cômodo mais bonito, mas eu me apaixonei pela escadaria principal – com sua arquitetura neogótica toda em pedra – e pela Sala de Leitura (The Historic Reading Room) que se assemelha – e muito! – a uma igreja. Mas cada um dos seus nichos foi construído para dar privacidade no momento do estudo.
A biblioteca, que pertence à Universidade de Manchester, possui mais de 1,4 milhão de itens incluindo livros, manuscritos e mapas divididos em diferentes salas e coleções. Uma de suas maiores preciosidades está na The Ryland’s Gallery. O St. Johnn Fragment é o fragmento mais antigo do Novo Testamento e está em exposição permanente nesta sala.
O Manifesto Comunista
Falando em biblioteca… Você sabia que o Manifesto Comunista, escrito por F. Engels e Karl Marx, foi escrito em Manchester? Pois é. Uma das obras mais importantes do século XIX não poderia ter sido feita em outro lugar a não ser da primeira cidade industrializada do mundo. Engels estava em Manchester para trabalhar na fábrica de algodão de seu pai e Marx veio visitá-lo. Eles se reuniram e escreveram dentro da Biblioteca de Chetham’s – a mais antiga do Reino Unido – após se depararem com as condições de trabalho dos operários da cidade.
Catedral de Manchester
Por estar em constante reforma e renovação, a Catedral de Manchester aparenta ser do século XIX – que é muito recente quando o assunto é Europa – mas alguns elementos de sua estrutura datam de muito antes disso. E também, não é para menos. A igreja sofreu um bocado com guerras e terrorismo. Isso mesmo, ela sofreu danos tanto da Segunda Guerra Mundial quanto de uma bomba explodida pelo IRA (Exército Republicano Irlandês). Se você olhar mais atentamente vai ver que os vitrais são todos novos.
Museu Nacional do Futebol
Eu não sei explicar direito o que eu fui fazer no Museu Nacional do Futebol além de acompanhar o Gian no Museu Nacional de Futebol. Mas a experiência de observador em lugares onde somos “um peixinho fora d’água” é muito interessante. As pessoas gostam muito – incluindo meu marido – do esporte. E é uma paixão que une e faz desconhecidos – de nacionalidades, idiomas e classes sociais diferentes – conversarem. Ao contrário de estádios, onde geralmente quem visita são pessoas mais apaixonadas pelo time em questão do que com o futebol em si, museus são ambientes mais neutros. Torcedores de times rivais param na frente no mesmo objeto, olham para o lado e sorriem em cumplicidade. Acho mágico!
Nossa, Jeanine, mas vai fazer análise sociológica em um museu de futebol? Longe disso! Eu nem sou qualificada para fazer esse tipo de coisa. É só uma forma de “tirar o chapéu” para essa paixão que “move montanhas”. Hahahaha, estou terrível com as frases prontas neste texto. Agora, falando sério. A entrada no Museu Nacional do Futebol é mais barata se comprada com antecedência pela internet e existem alguns upgrades (ou seja, melhorias) possíveis de serem adquiridos. O Gian quis todos eles. Então, ele pegou na réplica do Troféu da Premier League (com direito a luvinhas) e brincou no Penalty Shootout, um simulador que analisa seu chute em termos de velocidade, força e precisão.
Existem outras atrações nessa área interativa e tecnológica do museu. Tem um para testar suas habilidades de passada de bola (sei lá se esse é o termo correto, corrijam-me os bons), outro para ver o alcance do seu passe, um que ensina você a trucar seus adversários e, por fim, o Shot Stopper que é trabalhar os reflexos de goleiro. Todos os ingressos podem ser comprados lá na hora de acordo com sua vontade. É bem divertido de ver todo mundo brincando por lá, quem tem e quem não tem habilidade.
Chinatown
É o segundo maior bairro Chinês de todo Reino Unido e o terceiro da Europa. Você nem precisa achar o belíssimo e gigantesco portal para saber que entrou nele, as vitrines e fachadas das lojas já deixam visível que o inglês é secundário por ali. Vale dar uma passada e, quem sabe, até comer por lá.
Alan Turing Memorial
Também não é preciso de muito para perceber que entrou na Gay Village, um bairro vibrante cheio de restaurantes, bares, pubs e clubes, que fica ao lado do Canal Street e bem pertinho Sackville Gardens, jardim onde está o memorial que homenageia o matemático britânico Alan Turing. Você já deve ter conhecido a história dele no aclamado O Jogo da Imitação (The Imitation Game, 2004). Ele foi considerado o “pai da computação” ao criar uma máquina nos anos 30 que ajudou a quebrar o Enigma, um sistema criptográfico usado pelos alemães para transmitir mensagens. E informação é poder, né?
Mas, por que o Memorial Alan Turing – inaugurado em 23 de junho de 2001, data em que comemoraria 89 anos – está em um jardim do Gay Village? Porque após a guerra, por volta de 1952, foi descoberto que o matemático era gay e a homossexualidade era considerada um crime no Reino Unido. Ele foi condenado. Para evitar a prisão, Turing foi submetido a tomar injeções de estrogênio sintético para controlar sua libido por um ano. Em 1954, foi encontrado morto por ingestão de cianeto. O veneno estava em uma maçã encontrada ao lado do corpo. Há quem diga que foi suicídio, há quem diga que foi queima de arquivo e há quem acredite que foi um acidente, já que o matemático estava fazendo experimentos com essa substância antes de partir. A verdade, ninguém sabe, né?
O que se sabe é que demorou muito tempo para que o governo britânico reconhecesse seu erro. Somente em setembro de 2009 que o Primeiro Ministro Gordon Brown se desculpou publicamente. “Em nome do governo britânico e de todos aqueles que vivem em liberdade graças ao trabalho de Alan, eu estou muito orgulhoso de dizer: me desculpe, você merecia coisas muito melhores”.
Outras atrações de Manchester
Confesso que a nossa parada em Manchester teve um motivo muito específico: visitar o estádio do Manchester United, que fizemos no dia seguinte. Se eu voltasse lá hoje eu não deixaria apenas um dia para a cidade como fizemos. Tem muitas outras atrações lá que merecem atenção e a visita. Como por exemplo, a Galeria de Arte de Manchester, a Central Library (que chama atenção pelo seu prédio arredondado) e a Câmara Municipal (onde tem o “Big Ben” deles).
Explicação necessária
Se você chegou até aqui – e agradeço muito por isso, é bom saber que não estou falando sozinha, hahaha – deve ter percebido que a parada em Manchester não foi exatamente uma escolha minha, mas do Gian. Porém, é inquestionável que eu ainda estou perdidamente apaixonada pela cidade. A cada rua ou prédio em que entrávamos, eu ficava mais e mais animada em desvendar e conhecer o lugar. Muitas das coisas que estão neste roteiro foram descobertas enquanto estávamos lá.
Nossa, Jeanine, mas você visita lugar que não tem vontade? Não é exatamente isso, mas sim, a partir do momento que você está viajando com outra pessoa é preciso equilibrar os gostos e as vontades. E alguns lugares tornam-se gratas surpresas. O bom é ser surpreendida, principalmente positivamente.
E vocês vão ver nesse Roteiro Reino Unido e na Eurotrip que o Gian também se viu em muito lugar que, provavelmente, ele não entendeu – até agora – o que foi fazer lá por minha causa hahahaha. Aguardem as cenas dos próximos capítulos.
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