A gente demorou para começar a produzir conteúdo sobre Milão aqui no blog. Quando chegamos na cidade, estava tudo fechado por conta do lockdown e quando a reabertura chegou, acabamos priorizando outros passeios e conteúdos aqui da Itália – clica para ler tudo – para o blog e acabamos não visitando realmente os principais pontos turísticos da nossa própria cidade!
Foi quando a Milena Lucena me convidou para um tour que ela promovia em Milão antes da pandemia e que ela estava retomando agora, com o reinicio das atividades por aqui. Topei na hora! E hoje você vai saber um pouco mais sobre esse tour especial pelos arredores do bairro do Naviglio.
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Antes de mais nada, devo dizer que a gente super recomenda o tour. Em um sábado ensolarado, encontramos a Milena nas colunas de San Lorenzo, no centro de Milão, e é lá mesmo que ela começa o tour que ela carinhosamente chama de “um passeio para conhecer o bairro dela”. Mas eu já adianto que ela entrega muito mais que isso, mas não vou dar muitos spoilers porque a ideia é que você realmente se jogue na caminhada, sem saber direito o que vai vir pela frente.
Então se você quer conhecer uma Milão diferente, mais acolhedora, e passar por lojinhas bem encantadoras e de quebra curtir um fim de tarde no Navigli, você pode colocar no seu radar essa região quando estiver por aqui! No mais: roupas e sapatos confortáveis e muita disposição para andar, se divertir e aprender. O conteúdo e a alegria que complementam esse tour ficam por conta da casa: a Milena traz com ela.
Início do tour: Colunas de San Lorenzo e Basílica de San Lorenzo
O tour começa nas Colunas de San Lorenzo, uma parte da cidade que a gente não conhecia. Foi muito legal começar ali porque chegamos um pouco mais cedo e, enquanto esperávamos o horário do tour, o Bruno foi tirando as fotos que complementam esse post e eu pude ver uma tradução da vida em Milão. A mistura da agitação da cidade funcionando, o tram passando ali do lado e as colunas antiguíssimas lá mostrando que o que tem de moderna, tem também de antiga, e tudo acontece ao mesmo tempo.
As colunas romanas trazem todo um ar acolhedor para essa parte da cidade. São 16 colunas de sete metros de altura. de um mármore retirado da região de Como (isso, pertinho do Lago famoso). Antiquíssimas, do século II – talvez a construção histórica mais antiga da cidade -, elas já passaram por alguns desafios como ameaças de demolição e até bombardeios durante a segunda guerra mundial – um difícil restauro foi feito ali para elas permanecerem como são hoje.
Além disso, ao longo dos anos, até casas foram construídas entre a igreja e as colunas, arriscando ainda mais a sobrevivência das mesmas – as casas já foram retiradas e as colunas e a basílica voltaram a pertencer ao mesmo conjunto arquitetônico.
Entramos na Basílica de San Lorenzo, uma das mais antigas – ou até a mais antiga de Milão, dependendo da fonte de pesquisa hahaha – que fica em frente as colunas e ali dentro descobrimos através de fotos como era tudo ali antes. A Milena apresenta um pouco da história da igreja, relacionando com a história de Milão e a gente já percebe que tem muito a aprender e que o passeio vai ser bem interessante. A igreja é antiquíssima, construída entre os séculos IV e V, e passou por muitos momentos, reformas e reconstruções até ser o que ela é hoje. Foi construída fora dos muros da cidade antiga e tem uma história super interessante que você deve parar para escutar.
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Na frente dela fica a estátua de Constantino, o primeiro imperador romano cristão. No dia que visitamos a igreja, ela estava em reforma. Mas quando você visitar, não deixe de reparar nos mosaicos e nos mármores originais. Juro que vale a entradinha rápida por ali.
A Milena vai guiando o tour e nos contando sobre a vida na cidade – como era e como é. Em tom de conversa informal, as informações vão chegando. Como as histórias sobre os círculos de Milão e como a cidade foi, aos poucos, “empurrando” os pobres e marginalizados para cada vez mais longe do centro. Também nos mostrou onde mulheres chamadas de bruxas eram condenadas à morte e depois seguimos o nosso tour pela Corso di Porta Ticinese, onde vamos conhecendo lojas super diferentes e cheias de produtos modernos e artesanais que enchem os olhos.
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Porta Ticinese Medieval
No caminho – no meio da rua propriamente dito – encontramos como se fosse um portal com uma torre. É a Porta Ticinese da época medieval. Lembra que falamos que a basílica de San Lorenzo foi construída fora dos muros da cidade? Pois então, conforme Milão foi crescendo, o muro de proteção também foi sendo afastado, ou seja, construíram novos muros porque a circunferência da cidade era cada vez maior. Então, a Porta Ticinese, no período medieval, foi construída e, nessa época, a igreja já passou a fazer parte de dentro da cidade.
Essa Porta Ticinese medieval, junto com os arcos de Porta Nuova, são as únicas sobreviventes das antigas muralhas de Milão do século XI.
Basílica di Sant’Eustorgio
Nosso caminho seguiu e a dica aqui é aproveitar para, nessa caminhada pela Corso Ticinese, conhecer – e anotar se quiser – dicas de restaurantes, lojas e achados que a Milena vai sugerindo no meio da conversa. Como uma boa local – e que está na Itália há mais de 15 anos – ela tem muitas dicas legais para você explorar durante a sua estadia na cidade. Aliás essa rua é conhecida pelo seu comércio descolado e alternativo, cheio de brechós, bares e restaurantes jovens e diferentes.
Mas minha sugestão é não perder tanto tempo assim nesse caminho, já que o melhor está por vir mais tarde e, logo, a gente encontra a nossa próxima parada: a Basilica di Sant’Eustorgio.
A origem dessa igreja é suuuper antiga e tem bastante história, a ponto de ser um local que não deveria passar despercebido para quem faz esse trajeto. Entre as colunas de San Lorenzo e o bairro do Navigli, tem ali no meio essa basílica construída no século IV que, segundo reza a lenda, guardou as relíquias dos Reis Magos, dadas por Constantinopla. No entanto, em 1164, Frederico Barbarossa saqueou a igreja e levou as relíquias dos magos para Colônia, na Alemanha. Desde então, Milão já fez inúmeras tentativas de obter as relíquias de volta, mas apenas alguns fragmentos retornaram em 1903.
Entramos na igreja e conhecemos ela por dentro. É bem legal saber da história e a Milena nos levou para uma parte atrás do altar, onde há escavações antigas e afrescos bem bonitos no teto. Achei bem interessante conhecer essa igreja e não fazia ideia dessa história dos reis magos. Só pela importância histórica, já vale a passadinha rápida por ali.
Porta Ticinese
Outra? Pois sim. A cidade continuou crescendo e foi necessário fazer uma nova muralha entre os anos 1549 e 1560 e, com ela, uma nova porta. É interessante pensar – e ver – o mapa de Milão como círculos, porque eles mostram o crescimento da cidade ao longo dos séculos. (Parênteses para dizer que, até hoje, o mapa é visualizado como círculos, dividido em zonas (M1, M2, M3 e por aí vai)).
Falando da Porta Ticinese agora, foi construída no início do século XIX e era uma verdadeira porta de Milão para quem chegava na cidade pelo sul. Localizada ali na praça XXIV Maggio, ela sempre foi como uma porta alfandegária, já que ali acontecia o comércio, havia um mercado de abate de animais e o cais, já que sua posição estratégica está no Darsena.
E é nessa parte do tour que a gente sente que a Milena está “chegando em casa”. A quantidade de informações e de pessoas que ela cumprimenta porque fazem parte do seu dia a dia é cada vez maior. E ela vai apresentando com carinho o seu bairro e mesclando com informações históricas e curiosidades sobre a região do Navigli.
Mercato Comunale Ticinese
Já havíamos visitado a região do Navigli uma outra vez, mas a Milena nos levou para conhecer as pessoas e lugares que ela conhece. Foi legal percorrer a região pelos olhos dela e nós começamos o passeio por ali no Mercato Comunale Ticinese, um lugar bem legal para a gente se “sentir em casa”; explico: existem várias lojinhas com produtos importados – de todas as partes do mundo – então ali a gente pode ter acesso inclusive à produtos que estamos acostumados no Brasil, como picanha, frutas específicas – que não tem aqui tão fácil – como mamão, e por aí vai. Foi bem legal dar um giro pelos corredores e ver a multiculturalidade de Milão traduzida nessa espécie de “mercadão”.
A região do Navigli
Falei que não ia dar muitos spoilers mas o texto já está bem grande. É porque realmente o tour é um mergulho na história daquela região de Milão e que é super interessante para quem quer conhecer um pouco mais a cidade com um olhar diferente e descontraído. Aqui já estamos nos encaminhando para a parte final do tour – mas tem muito mais pela frente. E é aqui que começamos a conhecer os achadinhos da Milena pelo bairro dela.
Começamos a percorrer o Naviglio Grande, e a Milena começa a contar um pouco sobre a reestruturação que Milão passou nos últimos tempos. Essa região de Navigli (se fala “navilhi” e, explicação básica: Navigli é o plural de Naviglio), hoje, é mega frequentada pelos milaneses que buscam barzinhos e restaurantes. Além de um cenário super bonito, é uma das regiões boêmias da cidade onde você vai ter muuuuitas opções de aperitivos, bebidas e comidas bem boas.
O Navigli é formado por três “Naviglio”, que são canais artificiais navegáveis que eram usados para transporte de pessoas e mercadorias e por ali passaram até o mármore para construir o Duomo – o mais antigo deles é o Naviglio Grande, com registro desde 1209. E mais uma curiosidade, sabe quem ajudou na construção e engenharia desses canais: ele, o Leonardo. Sim, o Da Vinci.
A fama das opções gastronômicas por ali a gente já conhecia, o que não conhecíamos eram as diversas opções de lojinhas artesanais diferentes. E é isso que a Milena apresenta no seu tour. Vielas, lojinhas e itens super exclusivos, feitos por italianos, que traduzem em seus produtos tradições como a pintura, as bolsas artesanais, a fotografia antiga e também a gravura, mas essa merece um tópico à parte aqui embaixo, então espera só um pouquinho.
Só para concluir a parte das lojinhas, nossa, quanta coisa legal. É difícil não comprar nada porque são itens super exclusivos e muito legais de se levar para casa, sabe? Lembranças que fogem dos souvenires e lembrancinhas normais. A gente já sabe que quer voltar e adquirir pelo menos algumas fotos da Milão antiga em breve! Uma coisa a se acrescentar é que, se a Milena não tivesse nos levado lá, dificilmente teríamos conhecimento dessas exclusividades tão legais.
Centro Dell’Incisione
E agora eu vou falar do Centro Dell’Incisione. Que, para mim, foi emocionante conhecer. A gente estava andando beem devagar e curtindo o passeio e a Milena nos apressou um pouco, dizendo que tinha um lugar que ela queria nos levar, só que tinha horário para fechar. Apressamos o passo, claro, porque depois voltaríamos pelo menos caminho e poderíamos ver com calma as lojinhas do Naviglio Grande e curtir o passeio no por do sol.
Chegamos em um prédio com fachada beeem antiga, quase com uma impressão de abandonado. Não daríamos NADA, pra ele. E, para a nossa decepção, a porta estava sendo fechada por um senhorzinho. A Milena o abordou e pediu para conhecer ao menos o jardim e ele autorizou e entramos nesse lugar lindo aí que você pode ver pelas fotos. Ali dentro estava a esposa desse senhor e a Milena explicou sobre o Voyajando e que estávamos fazendo uma matéria para o blog. A senhora, com a maior gentileza do universo, abriu o Centro dell’Incisione e nos mostrou e explicou como é feito esse trabalho tão artesanal e tão bonito.
Foi uma experiência bem bacana!! Eu simplesmente amei conhecer o Sr. Gigi Pedrolli e a Sra. Gabriella Casarico, que são esses senhores que falei aí em cima. Verdadeiros artistas que não só continuam a utilizar técnica, como a difundem por meio de uma escola que eles têm ali mesmo, nesse lugar mágico. São super receptivos e a Sra. Gabriella nos explicou sobre a arte da gravura com um carinho enorme.
A gravura é uma técnica de incisão de um desenho em uma superfície dura, cortando ranhuras com uma broca. E é bem bonito de ver que até hoje esse trabalho é feito da mesma forma, nesse prédio antiquíssimo, que desde 1975 recebe turistas, alunos, milaneses de uma forma bem carinhosa. Vale muito a visita e foi um dos pontos altos para mim do tour.
Fim do tour?
E aí que a gente passa para parte final desse relato. Voltamos caminhando pelo Naviglio Grande e conversando sobre a antiga e a nova Milão. E quanta história a gente aprendeu ali! Desde a mãozinha de Leonardo da Vinci na construção dos canais até a forma como esses canais funcionavam e como ajudaram Milão a se desenvolver. Foi bem bacana caminhar no fim de tarde e fomos para o gran finale: conhecemos um lugar super bacana para tomar uns bons vinhos e conversar. A Milena finalizou o tour na La Vineria: Vini Sfusi e Oli. Um lugar super bacana onde é possível escolhermos o vinho que queremos e eles servem direto dos barris. Uma experiência bem legal, para fechar com chave de ouro a nossa tarde de tour por Milão.
Dica Extra: Hamburgueria
E se você quer aproveitar que já está ali no Naviglio, pode, após o tour, ir fazer um aperitivo na região ou jantar. E se você for jantar e quiser experimentar um ótimo hambúrguer, a Milena ainda nos deu a dica extra da Burger Wave. Um hambúrguer super gostoso que experimentamos e a gente indica! Fica ali na região e foi uma ótima maneira de fecharmos o nosso dia – a fome era tanta que nem tiramos uma foto para mostrar! Hahahaha.
Faça o tour no fim de tarde no Navigli com a Milena
Para fazer o mesmo tour que a gente e aproveitar essa oportunidade de conhecer Milão com outros olhos, o link para fazer o tour no fim de tarde no Navigli com a Milena é esse aqui (clica aqui). E caso você precise tirar alguma dúvida com ela antes de fechar o seu tour, pode entrar em contato pelo Instagram dela.
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