Saga da Cidadania Italiana: resiliência é a palavra-chave para o reconhecimento

A palavra resiliência pode ser definida como a capacidade que alguns corpos tem de retornar à forma original após serem submetidos a algo. É a característica daquelas pessoas que recobram facilmente ou se adaptam às situações e mudanças inesperadas. Para a ítalo-brasileira Patrícia Ferrari, é ainda um atributo essencial para aqueles que estão em busca do reconhecimento de suas cidadanias italianas. Sabe por quê? Porque é um “processo” muitas vezes longo, cheio de idas e vindas e, às vezes, obstáculos. Como já mostramos em outros relatos por aqui. Tem quem teve que correr contra o tempo (e a pandemia), quem teve problemas com cartórios brasileiros, quem aprendeu a se comunicar em italiano por necessidade, quem reconheceu a cidadania enquanto estudava em um intercâmbio e quem viu na saga uma forma de se aprofundar as raízes italianas. É intenso, bicho!

Com a Paty não foi diferente. Sua árvore genealógica tem ascendência italiana dos dois lados: o materno e o paterno. E você acha que isso facilitou as coisas? Nananinanão. Porque os documentos brasileiros e italianos – a chamada Parte Brasil (que é o que dá para fazer por lá) – não foram tranquilos de serem encontrados e foram anos de buscas nos dois lados da família. Na história tem desde cartório incendiado até ida ao veterinário na Itália. Veterinário? Sim! A Paty levou o lindíssimo-fofíssimo-coisa-mais-linda Paco com ela para ser sua companhia durante o reconhecimento. Olha a foto dele aqui embaixo. Alguma dúvida de que ele conquistou a cidade inteira?

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Sim! Ele tem um Instagram! <3

Como eu sei disso? Porque a Paty também foi nossa vizinha – como a Gleice e a Rafa – durante pouquíssimo tempo. Quando chegamos ao Piemonte o processo dela já estava sendo finalizado (no dia que ela recebeu a identidade, por sinal, foi quando eu descobri que precisaria refazer meu passaporte brasileiro hahahaha). E mesmo com o curto período de convivência só tenho a dizer que: Paty, foi incrível conhecê-la! Obrigada por todas as conversas e companheirismo. Esperamos vê-la novamente por esse mundão grande e cheio de possibilidades! E gratidão por ter feito parte da nossa série. Temos certeza que o seu relato vai ajudar muita gente.

Agora, vamos à entrevista?


– Por que você quis reconhecer a sua cidadania italiana?

Desde pequena eu sempre tive o sonho de conhecer o mundo e de morar em vários países. Reconhecer a cidadania italiana com certeza facilita e muito esse processo. Agora com o passaporte europeu, além de poder morar em todos países que fazem parte da União Europeia, tenho o acesso facilitado em vários outros.

– Quando você soube que tinha direito ao reconhecimento da sua cidadania italiana?

A minha família é grande e toda de origem italiana. Sempre lembro das reuniões familiares regadas a muita comida com gastronomia italiana e de muitas histórias ouvidas dos mais antigos sobre a imigração. Além disso, muitos familiares gostavam de falar em italiano (ou pelos menos um dialeto). Nessas reuniões sempre alguém tinha um violão e todos cantavam a música “Merica Merica” e me lembro de ficar imaginando a viagem de navio e tudo o que os imigrantes passaram longe dos familiares, na época, em busca de uma vida melhor. Então a cultura italiana sempre esteve muito presente e desde cedo sabia da minha origem.

– Como foi a sua “parte Brasil” do processo?

A busca do documentos começaram a muito tempo atrás, acho que em torno de uns 15 anos. Meu tio – irmão mais novo de meu pai – fez as pesquisas e localizou as certidões italianas. Ele comentou comigo e com outros familiares, porém acabamos “desistindo” pois não achávamos duas certidões importantes no Brasil: o óbito do antenato e o nascimento do filho do antenato. O tempo foi passando e a vontade sempre esteve presente, mas parecia muito distante ou até impossível. Então comecei, junto com minhas primas, a procurar também o outro lado da família, o da minha mãe. Mas neste também faltavam, além dos documentos da Itália, uma certidão do Brasil cujo o Cartório havia sido incendiado e os registros perdidos. Deixamos este lado também em “stand by”.

Em 2016, uma das minhas primas – que aliás é prima por parte de pai e mãe – foi fazer um intercâmbio na Irlanda e então retornou às pesquisas e nos mobilizamos para ajudá-la. Não sendo possível encontrar a certidão de nascimento do filho do antenato italiano, fomos requerer em via judicial a certidão tardia. Após consegui-la, junto com todos os outros documentos, a minha prima foi para a Itália e conseguiu o seu reconhecimento em 2018 pela família Ferrari (família do meu pai) em um comune que não exigia certidões de óbito.

Depois do reconhecimento dela, continuamos as pesquisas sobre a outra parte da família Giusti (família da minha mãe) e encontramos um parente que era descendente do mesmo antenato e que havia localizado os documentos na Itália. No meu caso, eu estava indo para Portugal fazer mestrado e a ideia inicial era fazer o reconhecimento da minha cidadania italiana via consulado em Lisboa. Então comecei reunir toda a documentação da parte da família da minha mãe, pois a princípio estava mais “completa”, e via consulado precisava de todas as certidões de todos da linha descendente (nascimento, casamento e óbito).

Reuni todos os documentos, o que não foi fácil porque, por mais que sabia onde estavam, os cartórios não são tão cooperativos. Então faltava um documento somente que era do casamento do filho do antenato, o qual eu tinha a certidão original, mas o cartório onde havia sido feito o registro não tinha mais o livro pois houve o incêndio. Então reuni as provas e novamente fui requerer por via judicial a restauração da certidão civil. No mesmo processo requeri todas as retificações que precisavam ser feitas nas outras certidões. Juntei toda documentação, retificada, traduzida e apostilada e fui para Portugal em 2019. Porém descobri que o processo não seria rápido como desejava, afinal eu iria ficar dois anos por causa do mestrado e precisava fazer neste tempo, o que não seria possível. Então me organizei e nas férias do mestrado em agosto de 2020 fui para a Itália.

– Como foi a sua “parte Itália”?

Apesar do momento que estamos vivendo por causa da pandemia, a parte na Itália foi a mais fácil. Na verdade me considero com sorte por ter encontrado pessoas tão legais que me ajudaram muito e tornaram essa espera mais leve. Desde a entrega dos documentos até receber a tão esperada cartinha do reconhecimento foram 80 dias. Como fui na época do verão, consegui viajar para outras cidades e conhecer um pouco mais da Itália (que é linda!) antes do novo lockdown, claro que com todo o cuidado possível. Além de tudo tive a companhia do meu anjinho de quatro patas que embarcou nessa aventura comigo.

– Quais foram as suas principais dificuldades durante o processo?

Com certeza a espera (tentando não surtar hahaha). Claro tive alguns imprevistos, como ter que ir ao comune do meu antenato para buscar outra via do documento, já que a primeira estava errada. Tem também perrengues nas viagens, o cãozinho que fica doente e precisa ir ao veterinário, tudo isso aliado ao dinheiro que estava curto no momento, mas enfim, observando o todo, o imprevistos foram nada perto de toda a experiência positiva que tive.

– O que você diria para você mesma lá no início do processo?

Não desista tão fácil, seja mais resiliente. Com certeza se tivesse insistido mais no início teria conseguido reconhecer a cidadania muitos anos antes.

– Qual a principal dica que você daria para quem está pensando em reconhecer ou começando agora?

Planejamento financeiro, resiliência e muita paciência, que no fim, se este for teu sonho, com certeza valerá a pena!


E fazemos das nossas as últimas palavras da Paty. Planejamento financeiro é essencial para todo o reconhecimento da cidadania italiana. Ele é um investimento! A gente até fez um post com uma base dos valores que nós duas investimos e você pode encontrá-lo neste link. Fora isso, resiliência porque – mesmo planejando muito – tem coisas que saem dos nossos controles. Eu não tive que refazer meu passaporte brasileiro em Milão? Hahahaha. Paty, de novo, muito obrigada por sua participação. Foi um prazer tê-la conosco.

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