Roteiro Milão: 9 cafés históricos para conhecer na cidade

Se você, amante do café, vai viajar para Milão e não quer deixar de experimentar a bebida quando estiver por aqui, você chegou à matéria certa. Hoje vamos falar sobre os cafés históricos de Milão e aí você já junta a sua necessidade vontade de tomar a bebida revigorante em locais que são repletos de história, unindo o turismo à maravilha de degustar um café quentinho e feito na hora.

E sabe o que é mais especial? É que as informações que você vai encontrar ao longo dessa matéria são da Arianna Migliaccio, uma amiga e milanesa da gema – ou DOC, denominazione di origine controllata como eles brincam aqui. Nascida e crescida na cidade, a Ari, participou de um tour que mostrou os cafés históricos da sua cidade e ela topou preparar com o maior carinho o material abaixo para que eu, você, e todo mundo também possa conhecer um pouquinho mais dessa outra faceta da cidade da moda e do design.

O café chegou aos poucos na Europa, vindo principalmente dos países orientais. O primeiro lugar a ser difundido e ganhar fama foi na Inglaterra. No entanto, a bebida recém chegada logo perdeu espaço para o mais-bem-aceito chá. Já na Itália, o café chegou primeiro em Veneza, e de lá se espalhou para todo o país. Na época, as cafeterias eram consideradas “escolas de saberes” já que a bebida dava uma ‘acordada’ no povo e ativava a mente para as conversas que aconteciam dentro dos cafés. Também eram ali que se reuniam artistas e pensadores.

Cafés históricos de Milão


Milão, o café e seus cafés históricos

Os primeiros cafés milaneses foram abertos na região da praça do Duomo. Eram construídos próximos ao centro e eram lugares para verem e serem vistos – ou seja, lugares da alta sociedade. Os cafés tinham seus próprio teatros, e eram ali que eram apresentados os espetáculos, além de outros eventos sociais como bailes e festas em geral. Eram frequentados principalmente por pessoas importantes da época e dentro dos cafés a galera se reunia até mesmo para uma jogatina como o poker, que era proibido em outros lugares.

No entanto, como tudo ali era construído com madeira, os incêndios era um problema comum nesses locais. Eis que surgiu, então, a necessidade de criar um teatro de verdade, estável e que durasse. E como durou: foi nessa época, lá pelos 1778, que nasce o Teatro alla Scala de Milão. Estima-se que em meados do século XIX, Milão já contava com aproximadamente 800 cafeterias espalhadas pela cidade.

E é por algum deles que nós vamos passear hoje. O tour guiado – que você pode fazer sozinho já que os locais funcionam até hoje – é um passeio de volta no tempo e espaço, quando nos anos dourados de Milão, meados de do século XVIII, a burguesia emergente começa a se reunir para propagar a ideologia iluminista. Claro que esses encontros não aconteceriam nos salões da nobreza, e então os cafés se tornaram pontos centrais para a discussão das novas ideias, política, negócios e cultura.

E como nem só de reuniões e conspirações se faz um bom café. As cafeterias aqui descritas têm uma história tão antiga que ela se mistura com a história da própria Milão. E o mais legal desse mini roteiro é que você vai poder conhecer um pouco mais sobre a cidade, vivenciar um pouco da rotina em torno de uma das bebidas mais apreçadas por aqui e, ainda, aprender sobre a história de Milão enquanto turista e degusta. Bom né?

Cafés históricos de Milão


Caffè Spadari

O tour começa no Caffè Spadari, praticamente de frente do museu Pinacoteca Ambrosiana, na Piazza Pio XI. Durante o período da Belle Époque, o café ficou famoso, principalmente quando o hoje bar se uniu à famosa pasticceria Le Tre Marie.

E aqui a gente abre um parênteses importante. Para quem não sabe, o panetone é típico de Milão. E a marca Le Tre Marie é uma marca histórica que simboliza essa tradição milanesa de doces e panetone desde 1896. Inclusive seu logo, que ainda hoje podemos ver na fachada do Caffè Spadari, tem uma das Marias segurando o panetone.

Milão e a origem do Panetone

E já que aqui estamos, porque não aprender um pouco mais sobre a origem do panetone? Assim se você vier próximo ao período do natal, já pode levar para casa o panetone original e ainda vai poder contar toda essa história para a sua família, que tal?

Bom, a história do clássico panetone de Milão pode ter três origens diferentes. Vamos explorar todas as três e depois você escolhe – e me conta – qual acha a mais provável, ou qual gostou mais.

A primeira história remonta à época da corte de Ludovico Sforza, il Moro, o duque de Milão. Estamos falando dos anos 1490 mais ou menos, quando um cozinheiro que trabalhava na corte esqueceu um doce no forno em plena véspera de Natal. O doce queimou todinho e o cozinheiro ficou desesperado porque não tinha mais nada para servir no lugar do doce. Eis que um ajudante salvou a noite de Natal. Seu nome era Toni, e ele tinha guardado um pouco de fermento para levar para casa mais tarde, mas acaba oferecendo seu fermento para salvar o cozinheiro. Ele acaba trabalhando com os poucos ingredientes que restaram para inventar uma massa macia e fermentada com ovos, manteiga e frutas cristalizadas.

O resultado foi levado para ser servido à mesa e o pani di Toni, ou seja, o “pão de Toni” na minha tradução livre, se tornou um grande sucesso, muito apreciado pelo duque e seus convidados e mais tarde veio a ser chamado de Panetone.

A segunda possível origem do Panetone viria da história de amor de Ughetto e Adalgisa. Conta a lenda que o nobre Ughetto degli Atellani era apaixonado pela bella Adalgisa, filha do padeiro Toni. Para conquistar o coração da amada, ele se candidatou para ajudar na padaria e foi lá que inventou a primeira receita do Panetone, ou seja, o “Pão do Toni”, um pão fofinho, cheio de uvas passas e frutas cristalizadas.

A terceira história é sobre a Irmã Ughetta, uma freira que inventou o panetone para animar o Natal de um convento pobre onde vivia. Essa receita, inventada por ela com o que tinha as mãos, ou seja pão doce com uvas passas, caiu nas graças do povo e ajudou financeiramente o conventou que passou a vender o panetone por ali.

Cafés históricos de Milão


Peck

Nos anos dourados de Milão, quando a cidade teve um boom econômico e um crescimento vertiginoso, o Peck nasceu e hoje é considerado quase que uma instituição na cidade, de tão tradicional. Foi em 1883 que Francesco Peck, um empreendedor que vinha de Praga, decide abrir um negócio onde fosse possível comer um almoço rápido e de qualidade: e eis que surge, na loja de frios ao interno do seu negócio, o famoso panino.

Sua ideia era se transformar em uma salumeria de prestígio e não é que deu certo? Seu negócio, onde eram vendidos salames, carnes defumadas e correlatos, acaba se tornando fornecedor da casa real de Milão. Os anos se passaram e o lugar passou pelas mãos de outros empreendedores e hoje se você quiser, ainda vale visitar o lugar histórico e se deixar encantar pela variedade de frutas, diversos tipos de massas feitas à mão, chocolates, pratos prontos e muito mais.

Peck faz parte da lista de cafés históricos de Milão


La pasticceria Galli, da Giovanni Galli

E não só de cafés se faz um tour na bonita Milano. A próxima parada foi, na verdade, em uma pasticceria – confeitaria para os íntimos e/ou falantes de português. Fundada em 1911, a Giovanni Galli ainda preserva o nome do seu fundador. O local até hoje é famoso pelos seus marrom-glacê, que se trata de uma castanha cozida e mergulhada em calda de açúcar, tudo feito à mão, sem nenhum conservante.

Segundo informações do site deles, a primeira loja não ficava nesse local. Foi inaugurado em outubro de 1912 e trinta anos depois, em 1942, foi bombardeada pelas tropas inglesas durante a Segunda Guerra Mundial. No mesmo ano, a Giovanni Galli também recebeu a almejada patente da Casa Real da Itália e a incumbência de servir como um dos fornecedores da família Savoia.

Mais tarde, foram abertas outras duas sedes e uma delas é a que o tour visitou, no centro da cidade, localizada na Via Victor Hugo.

Cafés históricos de Milão


Gran Caffè Biffi

A história do restaurante e café Biffi começa antes mesmo da galeria ser inaugurada, em 1852, quando Paolo Biffi, que trabalhava para os Savoias, família real da Itália, abre o café bem no centro de Milão. Para se ter uma ideia, na época ainda existiam os canais navegáveis na cidade.

Quando começaram a construção da galeria, homenageando o Rei Vittorio Emanuele II e comemorando a adesão da Lombardia ao Piemonte, o Sr. Biffi resolveu que poderia ser uma boa ideia mudar o local do seu restaurante e cafeteria e abri-lo ali dentro da nova galeria.

E, digamos, que foi uma decisão acertada. Afinal, desde a inauguração de um dos principais pontos turísticos de Milão, em 1867, o restaurante e café Biffi está ali. O restaurante era gigante (veja fotos no site deles) e era um dos poucos comerciantes que poderia na época se dignar a pagar o aluguel altíssimo da galeria.

Segundo o site do restaurante, eles foram também os primeiros ali dentro a ter luz elétrica, causando um burburinho na época.

Hoje o local ocupa cerca de 100 metros quadrados. Muita coisa mudou por ali, mas nem tanto. Desde os anos 70 o Biffi mantém sua característica retrô, com paredes verdes e cheios de quadros. Por ali, podemos encontrar pratos típicos da culinária milanesa, como o Ossobuco com Risotto alla Milanese e também a famosa Cotoletta alla Milanese.

Cafés históricos de Milão


Il Camparino

Mais que um café, na verdade um bar, o Camparino nasce em 1915 e hoje acumula mais de 100 anos de história. O local foi inaugurado por Davide Campari, primeiro cidadão a nascer dentro, sim, dentro, da Galeria Vittorio Emanuelle.

E sim, o Camparino tem relação com a bebida Campari. O pai de Davide Campari era Gaspare Campari, e foi ele que inventou a famosa bebida amarguinha. Aliás, ele também abriu o Caffè Campari, que ficava na esquina da praça do Duomo de Milão.

O Camparino nasce bem mais tarde, então, com a ideia de ser um irmão caçula do café do seu pai, o Campari. Na época, recebeu o apelido de “caffè di passo”, uma espécie de lugar sem assentos, só para passar, tomar um cafezinho rápido, e já sair do local logo em seguida. Com o passar dos anos, o negócio cresce, e Davide aluga três espaços dentro da famosa Galeria Vittorio Emanuele e cria, ali, um negócio para vender seus licores. As pessoas se reuniam para falar de cultura, política e muito mais, e logo o Camparino se tornou uma instituição entre os milaneses.

Entre 13 e 15 de agosto a Galeria, e o Camparino junto com ela, foi pesadamente destruído pelos bombardeios da Segunda Guerra Mundial. Somente com o fim do conflito, o local foi passado para a família Miani, que permaneceu a frente dos negócios até meados de 2018.

Cafés históricos de Milão


Marchesi

Mais um café super tradicional em Milão e que você pode conhecer quando visitar o centro da cidade. A Marchesi é uma das pasticcerie mais famosas de Milão, conhecida pelos seus panetones e também pelo seu chocolate e sua tradição. O endereço original, que se conserva até hoje, é a rua Corso Magenta, mas é possível degustar um bom café Marchesi também dentro da famosa Galeria Vittorio Emanuele II.

Sua história começa lá em 1824, quando a família Marchesi decide abrir o negócio focado em pães e doces que, em pouco tempo, já começa a ganhar notoriedade principalmente pelo uso de produtos artesanais. Já nos anos 90, o lugar se espande e além dos bolos, biscoitos e doces, o café e drinks na hora do famoso aperitivo milanês ganham espaço entre a clientela.

O lugar conserva ainda boa parte dos antigos móveis então, entrar ali, é como voltar no tempo – e eu recomendo.

Cafés históricos de Milão


Café e Restaurante Savini

O Savini nasceu em plena Belle Époque e logo se tornou um dos locais mais bem frequentados de Milão. No seu site já rola uma auto-propaganda de todo mundo que passou por ali: jornalistas, personalidades de época, famosos e celebridades como Frank Sinatra, Charlie Chaplin, Henry Ford, e muitos outros foram servidos no Savini. O local também era frequentado por Filippo Tommaso Marinetti, idealizador do Manifesto do Movimento Futurista que foi publicado em 1909 no jornal Le Figaro.

Cafés históricos de Milão


Cova

Tem mais? Tem mais. O Cova é também considerado um dos locais históricos e tradicionais de Milão. Foi fundado em 1817 por Antonio Cova, que era um soldado de Napoleão, e até hoje mantém sua tradição e elegância.

O local foi inaugurado do ladinho do famoso Teatro la Scala (falamos dele aqui) e nasceu como um café literário refinado, dedicado à atender a clientela que ia ao teatro, mas que logo se tornou ponto de encontro inclusive para os patriotas do Ressurgimento italiano. Artistas e intelectuais da época frequentavam o Cova desde então e continuou assim mesmo quando o café transferiu a sua sede para a Via Montenapoleone, coração do famoso quadrilátero da moda milanesa.

Hoje o local acumula dois séculos de história e se você estiver na cidade no fim do ano, pode aproveitar para comprar e experimentar o tradicional Panettone di Cova, cuja receita é mantida em segredo de geração em geração.

Cafés históricos de Milão


Sant ambroeus

Por fim mas não menos importante, o Sant ambroeus nasce em 1936, um pouco antes do início da segunda guerra mundial, também pertinho da nata milanesa: em torno do Teatro La Scala. O café se inspira na história do padroeiro de Milão, Santo Ambrósio, e recebe o seu nome como homenagem, tornando-se rapidamente um local valorizado pelos milaneses que buscavam um bello cappuccino e um cornetto para iniciar a jornada.

O local cresceu tanto que cruzou até o oceano, e em 1982 chega inclusive a Manhattan, na Madison Avenue, abrindo as portas para os nova-iorquinos.

Cafés históricos de Milão


Agora eu quero saber: o que achou desse rolê histórico por alguns dos famosos cafés de Milão? Eu ainda preciso conhecer alguns – e mostrarei tudo lá no Instagram do blog – e já não vejo a hora de estar em cenários que vivenciaram tanta história junto com a cidade.

Espero que tenha gostado, e para saber mais sobre Milão (clique aqui) e veja tudo que já saiu aqui no blog. Além disso, também tem bastante conteúdo de Itália (clica aqui) e de Europa (clica aqui) para você explorar com a gente.

Cafés históricos de Milão


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