Portugal, voltamos! Depois de nossa breve estadia em Lisboa (que você acessa o roteiro aqui, que conta também com Sintra) e na inacreditável Ilha da Madeira, decidimos voltar à terra dos colonizadores – apesar de todas as ressalvas de @jenifercarpani, e se quer saber o porque vai lá no Instagram @voyajandoblog perguntar para ela. Dessa vez, a experiência foi mais longa: uma road trip em Portugal.
Sim, voyajante, uma viagem de carro por pela terra dos colonizadores. De Lisboa até Porto, de Porto até Lisboa. Nesse roteiro de 10 dias passamos por Mafra, Óbidos, Peniche e Arquipélago de Berlengas, Nazaré, Alcobaça e Batalha, Coimbra, Aveiro, Santa Maria da Feira, Porto, Guimarães e Braga, Tomar e Leiria (e Cascais). Então se você vai visitar uma cidade ou outra sem necessariamente fazer o uso do carro, já pode clicar na cidade de preferência e ir para o roteiro no detalhe. Se não tem link ainda, peço perdão. Há de ter. Por enquanto, fique aqui com o roteiro geralzão dos nossos dias por Portugal.
E se você acompanha o Voyajando a algum tempo sabe que está quebrando o meu coração fazer várias matérias separadas para vocês, no maior estilo Eurotrip. Mas é preciso. E a culpa é de vocês que não leem tudo até o final e saem da matéria, deixando o nosso índice de rejeição super alto – e fazendo os algoritmos derrubarem a gente. Brincadeira. Mas não muita.
E se essa matéria ajudar você de alguma forma, considere alugar seu hotel, carro, ou comprar seus passeios utilizando os nossos links afiliados. Uma pequena porcentagem vem para a gente e utilizamos o valor para manter o blog no ar. Fica aqui também o convite para seguir a gente nas redes sociais e no canal, que a cada dia, cresce um pouquinho mais. Obrigada a você por isso!
Agora, vamos de roteiro?
Chegando e saindo do Aeroporto de Lisboa
Eu sinceramente acho Lisboa uma das cidades mais tranquilas para se chegar (ou sair) do aeroporto de transporte público. Com uma linha de metrô lá dentro, em menos de 1 hora você chega no centro da cidade. Não tem erro. E se você adquirir um Lisboa Cartão de turismo – que já expliquei nessa matéria aqui – você já consegue resolver lá no terminal mesmo, o que é ótimo porque o transporte público está incluso nesse cartão.
É bom dizer também que você consegue usar o seu cartão contactless na catraca do metrô e dos trens (ou comboio) em Lisboa – coisa que não era possível há alguns anos. Você paga por trecho: vai encostar o seu cartão ou celular, e a catraca vai abrir. Daí é só bater no final da viagem novamente. Não se esqueça de usar o mesmo cartão, é claro.
De carro a história é outra. Como em todo aeroporto, é um pequeno caos para parar nos arredores do aeroporto e o trânsito pode ser meio pesado dependendo do horário que você estiver por ali. Táxis tem preferência, mas isso também não faz milagre. Então leve isso em consideração se tiver que fazer essa opção, que pode ser mais prática dependendo da quantidade de malas, se estiver com criança, e assim vai.
Alugando carro em Portugal
Como chegamos à noite no aeroporto e começaríamos a nossa road trip em Portugal no dia seguinte, de manhãzinha. Decidimos pernoitar na casa do nosso amigo Ed (com convite dele, é claro – não somos desses) que fica em Seixal, uns 40 minutos de carro do Aeroporto Internacional Humberto Delgado. Logo, Seixal seria o nosso ponto de partida para a nossa viagem de carro por Portugal.
Mas, ao invés de pegar o carro só no dia seguinte, achamos melhor já retirá-lo direto no aeroporto para ele estar na mão. Alugamos com a locadora Centauro (a mesma de Málaga) e pagamos €85 pelo carro e €70 pelo seguro, para 12 dias. A experiência da retirada do carro foi boa, e não estamos ganhando nada com essa indicação. A devolução não foi tão sossegada porque a loja só abria as 7h e alguns carros passaram na nossa frente, o que fez a gente perder a primeira van-shuttle para o aeroporto e fez a nossa manhã bastante corrida.

Importante dizer que para alugar o carro em Portugal é bem tranquilo, já que a CNH brasileira é aceita por lá graças a um acordo entre os países. O único contra, na minha humilde opinião, é pedágio (vou nem falar de gasolina). Que nossa senhorinha, quanto pedágio! Se você não quiser parar em várias cidadezinhas, só fazer o trecho Lisboa-Porto ou Porto-Lisboa, pegar um trem ou um ônibus é muito mais vantajoso financeiramente para você. Em três pessoas, dividimos a conta.
O total de pedágios foi de €75 na nossa viagem de carro por Portugal (deixamos um caução de €100 na locadora, já que o carro era equipado com o Via Verde, o Sem Parar de Portugal, e eles devolveram a diferença no momento da devolução). E de gasolina, foram dois tanques cheios, que deu cerca de €140.
Onde nos hospedamos?
Foram cinco hotéis ao todo durante a nossa road trip em Portugal. É cansativo fazer todas essas mudanças? Sim. Mas era melhor no quesito custo-benefício. Menos tempo de deslocamento, logo menor gasto de gasolina. Outro ponto positivo é poder ter uma média geral com acomodação – embora alguns hotéis ofereçam descontos para estadias de longo termo, algumas cidades são mais turísticas que as outras, possui uma rede hoteleira maior que a outra… E tudo isso afeta preço, não é mesmo?
Dito tudo isso, vamos às avaliações sinceras?
Óbidos – duas noites na Casa António Moreira foi €157,47 (para três pessoas). Para ser bem sincera? Foi bem legal ter a experiência de hospedagem dentro das muralhas de Óbidos. O processo de check-in foi bem tranquilo – e nos deram a opção de retirar na loja que fica pertinho da entrada da cidade ou no próprio lugar. Como chegamos cedo por lá, fomos até a loja. E o anoitecer na cidade foi uma delícia – já que os turistas (kkkkk, que nem a gente) foram todos embora, e tivemos a cidade só para a gente. Óbidos serviu de base para a nossa visita ao Arquipélago de Berlengas, e Peniche.
Coimbra – ficamos apenas uma noite em Coimbra, e eu me arrependi. A cidade merecia pelo menos duas noites – especialmente com a Biblioteca Joanina fechada para visitação bem nos dias em que eu estava por lá. Enfim, um motivo para voltar, não é? Ficamos no Miguel Torga Gold II e pagamos €98.60. O lugar tinha ventiladores – o que foi uma mão na roda com o calor que fazia na cidade. O estacionamento subterrâneo também ajudou bastante. Falei da localização? Não? Fizemos tudo em Coimbra a pé no primeiro dia, após largar o carro no hotel. No segundo dia, fomos de carro após o check-out.
Aveiro – foi apenas um dia no Light Brown Central Apartment que, realmente, é muito central e bem localizado. Minha única reclamação aqui é que marcava ter estacionamento e, no dia que chegaríamos na cidade, o anfitrião nos falou que não poderíamos parar no apartamento. Ele nos deu duas sugestões de lugares, um pago e um gratuito – sendo o gratuito a quase 10 minutos de distância. Acabamos parando por lá e transferindo o que precisaríamos para a noite para as mochilas. Arriscamos em deixas as malas no carro, mas não tinha muito o que fazer, né? Ah! O preço foi de €92,22. O apê foi muito bom – com ar condicionado.
Porto – Passamos três noites em Porto por €307,58. Foi nossa base para desbravar a cidade e para o bate-e-volta que fizemos a partir dela para Guimarães e Braga. Ficamos no FLH Porto Comfort Flat e eu não gostei da experiência. Foram dias quentes por lá e o apartamento não tinha nem ventilador e nem ar condicionado. O secador de cabelo não estava funcionando. Fora o check-in, que tivemos que retirar a chave a mais ou menos 10 minutos de distância DE CARRO do lugar onde realmente nos hospedaríamos. Se não estivéssemos de carro, seria ainda mais inconveniente.
Leiria – Na nossa viagem de volta para Lisboa, pernoitamos em Leiria, depois de passarmos o dia em Tomar. O hotel com café da manhã incluído foi €109 tinha piscina, academia e estacionamento. À noite, subimos até o rooftop para drinks – e foi bem bacana. Digamos que foi o sono dos justos.
Beleza, Jeanine, mas cadê o roteiro?
Aqui vai um roteiro bem do simplificado, voyajante. Como expliquei lá em cima – você não me lê até o final. Então, desta vez, serão diversas matérias separadas com o roteiro detalhado da road trip em Portugal. Sim, vai ter que abrir várias abas para pegar as informações completas de cada uma das atrações e pontos de interesse visitados. Bora fazer o Google ajudar a gente.
Dia 1 – Palácio de Mafra e Óbidos
Nosso primeiro destino? Mafra! Mais especificamente, o Palácio Nacional de Mafra. Por quê? Bem – sabe aquela história de “cadê o ouro do Brasil, Portugal?”. Pois bem, uma parte está aqui – grande parte foi para a Inglaterra… O que é uma outra discussão, hahaha – já que o lugar foi financiado com os lucros da ex-colônia! Eu? Eu paguei €15 para visitar comprando meu ticket com o parceiro GetYourGuide.
O Palácio Nacional de Mafra foi construído em 1711 a mando do rei D. João V como uma espécie de promessa, por rainha D. Maria Ana engravidar do seu herdeiro. Trata-se de um complexo que conta com o palácio, um convento, uma basílica e a biblioteca monumental. A obra envolveu mais de 50 mil operários e durou cerca de 13 anos. Em 1730, foi sagrada a Basílica, e o complexo foi sendo finalizado gradualmente. O edifício se estende por cerca de 1.200 salas distribuídas ao longo de 38 mil m².




Para esta que vos escreve, o destaque é a biblioteca – que conta com mais de 36 mil volumes do séculos XV ao XIX. Exemplos do acervo? Temos! Primeiras edições de Plinio, Virginio, Cícero, obras de Galileu Galilei,L, edições antigas de O Lusíadas, de Camões. Enfim. Mas, ela não é famosa (só) por isso, e sim pelos morcegos que moram por aqui e ajudam a conservar as obras por se alimentarem das traças e insetos que danificam os livros. Curioso, né?

A basílica também é linda, viu? Inspirada nas igrejas romanas, de estilo barroco, é todinha de mármore português. A gente só viu de cima, já que na ocasião estava fechada para revitalização. O palácio, além de toda mobília da época, é legal dizer foi o ponto de partida para a fuga da família real portuguesa para o Brasil, em 1807, fugindo das tropas napoleônicas. Ou, como eles escreveram na placa explicativa, retiraram-se.



Do Palácio de Mafra até o nosso novo destino, Óbidos, foram cerca de 40 minutos na estrada pedagiada. Legal dizer que a cidade está tão acostumada a receber visitantes que existem alguns estacionamentos perto das muralhas que cercam a cidade. Sim, no plural. Nós fomos para um chamado Campo da Bola, que é gratuito o dia inteiro (viajamos em Junho/2025).
Importante dizer aqui que não pode entrar carro no centro histórico, que por sua vez, é circundado por quase 2 km de muralhas, então faz sentido. Mas, Jeanine, tudo isso de muralha? Sim, voyajante, e o mais surreal não é nem isso – é o acesso que nos dão a elas. Você consegue “entrar” nela em diferentes pontos da cidade e a circulação é livre. Não tem ingresso, não tem corrimão, não tem guardirreio… Achei bem doido. Bem legal, mas bem doido. Então tomem cuidado por lá.




E não é só isso que é muito legal em Óbidos (sim, sinta a minha animação) – o seu passado é um tanto quanto curioso. Eu não sei nem por onde começar. Talvez citar suas ocupações romanas, mouras ou visigodas? Ou, sei la, dizer que a cidade ficou conhecida como um “presente das rainhas”, ja que foi parte do dote de algumas delas como Rainha Santa Isabel, Filipa de Lencastre, Urraca de Castela, Leonor de Aragão e Leonor de Portugal.
Daí, começamos o nosso passeio pela Porta da Vila que, ao mesmo tempo que era o acesso à cidade no passado (e ainda é), é uma capela dedicada à Nossa Senhora da Piedade, padroeira da cidade. Quem vê por um lado não imagina que do outro está um obra de arte em forma de azulejos datada do século XVIII. E sempre tinha um músico lá dentro se aproveitando da acústica para encantar os visitantes. Se eu achei que vi os famosos azulejos portugueses em Lisboa, achei errado. Ali, com desenhos que retratam a Paixão de Cristo, que eu posso dizer que vi.




De la, fomos passear pela principal rua da cidade, a Rua Direita. Que é à esquerda de quem vem da Porta da Vila, hahaha, E onde concentram-se as lojinhas de artesanato, os bares e restaurantes. Andamos por ela até o Castelo de Óbidos, uma estrutura gigantesca de origem romana construída lá no século l. Hoje? Hoje o Castelo de Óbidos é uma das Sete Maravilhas de Portugal – e sim, eles tem uma lista só deles. E não só isso, é uma pousada de luxo. Para fins de comparação, quando eu estava pesquisando nosso lugar da vez, ao invés dos €157,47 que pagamos, as duas noites da fortaleza nos custaria a bagatela de €930.
Bom ressaltar que antes de chegar no Castelo, passamos pela Igreja de Santa Maria de Óbidos, a padroeira da cidade. É o principal templo religioso da vila e um dos acontecimentos históricos mais marcantes de sua existência foi o casamento de Afonso V com sua prima Isabel, em 1444, quando eles tinham 10 e 8 anos respectivamente.


Dia 2 – Peniche e Arquipélago de Berlengas
O segundo dia foi, em grande parte, reservado para um passeio para lá de especial: Arquipélago de Berlengas. Trata-se de uma reserva natural protegida, acessível por barco a partir de Peniche. Depois de Islândia, Deserto do Saara e Ilha da Madeira, até mesmo da nossa Irlandinha, eu sempre fico surpresa o quanto a natureza pode me surpreender. E não só ela, mas a humanidade, que chegou lá, fez trilhas e construiu a Fortaleza de São João Baptista – que parece pertencer àquele lugar.

É difícil chegar até Berlengas?
Defina difícil, caro leitor. Em teoria, não é não. Você precisa contratar um barco para te levar e buscar – e no site do Arquipélago de Berlengas existe uma lista de todos os operadores disponíveis para fazer esse trecho de Peniche ida e volta – e precisa de um aviso de viagem – o Berlenga Pass, que custa €3 por pessoa (e você meio que seleciona ali no momento da compra um período em que muito provavelmente vai visitar). Você também consegue comprar o passeio do barco direto com o GetYourGuide, nosso parceiro aqui do blog.
Ai Jeanine, olha a publi! Primeiro, sim – é bom para a gente, não vou mentir. Nos ajuda a continuar no ar e a escrever matérias como essa para você que nos lê. Segundo, a maioria das experiências do GetYourGuide possuem cancelamento grátis em até 24 horas do passeio – e a gente sempre indica para esses rolês natureza que a gente nunca sabe como vai ser.
Sabe o que foi difícil? Os 45 minutos de viagem entre continente e ilha. Esta que vos escreve nunca foi grande fã de barcos, e por algum motivo desconhecido, ela não achou que teria problemas nessa. Barco grande, ela pensou. Pois. Antes mesmo do barco sair, eu já estava começando a sentir os efeitos da maresia. Eu conseguia sentir cada onda, cada vez que o barco subiu e desceu. Logo, quer fazer o passeio? Leve um remédio para enjoo, voyajante. O casal de portugueses atrás de mim o fez, e chegou pimpão lá na ilha, fazendo piadinha e tudo. Até verde eu ri quando escutei o sotaque pt-pt na frase: terra à vista!
Ah, e não sei se te ajuda, voyajante, mas as dicas que escutei enquanto estava passando mal: não tomar nada, sentar de ladinho, olhar para o céu, olhar para ponto fixo, não fechar os olhos, não tem diferença entre sentar no meio ou na ponta do barco…




Por que visitar o Arquipélago de Berlengas?
Situado a cerca de 9 quilômetros da costa, o Arquipélago de Berlengas é formado por três pequenas ilhas: Belenga Grande, Estelas e Farilhões. A única habitada é Berlenga Grande, local onde estão as principais atrações do passeio, que além das praias, são o Farol Duque de Bragança e o Forte de São João Baptista das Berlengas. Você também consegue contratar barco (haha!) ou caiaque para fazer visita ao redor da ilha. Eu não ousei, mas o Ed fez o de barco, e ele amou. Fica aqui a recomendação.
O Arquipélago de Berlengas é uma reserva natural e desde 2011 é reconhecida como Reserva da Biosfera pela UNESCO, um título importante que reforça a preservação do ecossistema local. A biodiversidade por lá é riquíssima – e da terra, você consegue observar muitas aves marinhas e os calanguinhos – ou como o nome oficial os chama: lagartixas-das-Berlengas, que estão em todos os lugares, a cada passo que você dá.




O que levar no seu passeio?
Roupas confortáveis, definitivamente. Com opção para fazer a sua trilha até o forte (que não é super desafiador, mas existe subida e descida) e para pegar um mar, já que a ilha possui faixa de areia. E, sinceramente, eu levaria petiscos para o dia. O lugar possui um bar e um restaurante, e por volta das 16h, que é quando deu uma fominha, pensei em pedir uma salada – mas já tava esgotado para o dia. Comi dois bolinhos de bacalhau, hahaha.
Depois do passeio (sem incidentes, amém), foi vez de conhecer mais um pouco de Peniche. O mais incrível na minha concepção é que essa cidade era originalmente uma ilha que, ao longo dos séculos, foi se conectando ao continente devido à sedimentação natural. Durante o período dos Descobrimentos, Peniche foi um porto estratégico, abrigando navegadores e pescadores que exploravam o Atlântico. Já no século XVII, a construção da Fortaleza de Peniche – a principal atração do lugar – fortaleceu a defesa da costa contra invasores, como piratas e corsários. Mais tarde, durante a ditadura do Estado Novo (1933-1974), a fortaleza foi usada como prisão política, sendo um símbolo da resistência contra o regime de Salazar. A gente tirou umas fotos dela de manhãzinha, antes de partirmos para Berlengas – e o climinha tava fantasmagórico.



Outro ponto de atenção em Peniche é o Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, uma pequena capela, um tanto quanto isolada, e que já estava fechada quando chegamos. E ali do ladinho, do Miradouro da Cruz dos Remédios, um dos melhores pôr do sol da região. É o que dizem, já que no horário de verão o anoitecer é muito tarde e nós já estávamos em tempo de voltar para Óbidos e jantar.
Dia 3 – Nazaré, Alcobaça, Batalha e Coimbra
De Óbidos até Nazaré, o primeiro destino do terceiro dia, foram cerca de 30 minutos. Decidimos parar por ali para ver as famosas ondas gigantes que se formam no local, e que atraem surfistas profissionais e amadores do mundo inteiro. Mas Nazaré não é só do esporte marítimo não – apesar da recente fama. A cidadezinha é devota de Nossa Senhora de Nazaré, e tem uma lenda curiosa que é o cerne da devoção. E eu trouxe para cá, diretamente do site do Turismo Centro Portugal.
O Sítio está intrinsecamente ligado à lenda de D. Fuas Roupinho, segundo a qual, o alcaide-mor de Porto de Mós, praticava o seu desporto favorito, a caça, quando de repente, viu um veado branco e lançou-se na sua perseguição. Ao chegar ao Promontório do Sítio, o veado subitamente desaparece, quando D. Fuas se apercebeu que estava prestes a cair para o mar. Desesperado, invocou de imediato a ajuda de Nossa Senhora, e logo de seguida, o cavalo estanca a sua pata traseira na rocha, salvando a vida de D. Fuas Roupinho. Em forma de agradecimento à Nossa Senhora, D. Fuas manda erigir ali uma Ermida em honra de Nossa Senhora da Nazaré, a Ermida da Memória.
Estacionamos o carro e fomos passear. Nossa primeira parada foi tomar café da manhã foi exatamente a Ermida da Memória, um pequeno templo quadradinho com o telhado e o interior revestido de azulejos azuis e brancos do século XVIII. Lá dentro fica, virada para o mar, a Nossa Senhora de Nazaré – que foi encontrada dentro de uma gruta ali na região. Ela estava fechada, já que estamos por lá antes das 8h da manhã.

Quase que de frente para a Ermida da Memória está o Santuário de Nossa Senhora da Nazaré, encomendado pelo rei D. Fernando, o Formoso, em 1377, devido o aumento da devoção à Nossa Senhora de Nazaré. O templo é bem grande e lá dentro você ainda encontra o Museu de Arte Sacra Reitor Luis Nési, caso esteja com tempo por lá.



Por fim, fomos até o Forte de São Miguel do Arcanjo, construído em 1577 a mando de D. Sebastião. De estilo maneirista, foi ampliado e remodelado em 1644 por ordem do Rei D. João IV. Além do seu peso histórico, ali de cima é o principal posto de observação das ondas gigantes na Praia do Norte.




Por que existem ondas gigantes em Nazaré?
Eu trouxe para a discussão já pedindo perdão de antemão a qualquer especialista – pode ser que venha bobeira a partir daqui. Mas, fiquei curiosa, e fui atrás do motivo das ondas na Praia do Norte chegarem a 30 metros de altura. Aparentemente, existe um desfiladeiro submerso bem ali com uma extensão de 230 quilômetros e profundidade de 5 mil metros, carinhosamente conhecido como “Canhão de Nazaré”.
Mosteiro de Alcobaça
Terminado nosso passeio por Nazaré, seguimos para o Mosteiro de Alcobaça, onde estão enterrados Inês de Castro e Pedro I. Quem? Já explico – deixa eu falar sobre o lugar primeiro, que além de ser uma das Sete Maravilhas de Portugal, é também um Patrimônio da Unesco. Logo, não poderíamos deixar de fora do nosso roteiro, não é mesmo? A visitação na Igreja é na faixa, mas os interiores do mosteiro requerem um ingresso de €15 – existe uma lista de gratuidades, como por exemplo, cidadãos residentes em Portugal.
Fundada em 1153 pelo primeiro rei, D. Afonso Henriques, o Mosteiro de Alcobaça é a maior igreja gótica da Ordem de Cister de toda a Europa – e nasceu da doação das terras de Alcobaça à Ordem pela vitória sobre os mouros durante os anos da Reconquista. Sua construção demorou cerca de 100 anos, e olhando no detalhe, a gente entende bem o porquê.




Mas Jeanine, que história é essa de Inês de Castro e Pedro I? Talvez você se recorde dessa história como um dos contos do Lusíadas, de Camões. Talvez não – que era o meu caso. Pois saiba que a história dos dois é considerado o Romeu e Julieta de Portugal, e só por esse comparação você já sabe que a história de amor não tem final feliz. E a história é meio que real. Vou tentar resumir para você em um parágrafo, mas fique à vontade para pular. Eu não sosseguei enquanto não fui ler mais à respeito.



E se você ficou, trata-se de um resumo bem ruim, viu? Vá atrás da história completinha que ela deixou o meu coração triste e quentinho ao mesmo tempo. Pedro I era herdeiro do trono de Portugal. Não confundi-lo com o nosso D. Pedro I, esse ai, em Portugal, é o Pedro IV.
O pai de Pedro I, rei D. Afonso IV, arranjou o casamento do seu filho com D. Constança Manuel. Entre as aias da noiva, uma mulher chamada Inês de Castro. Foi amor à primeira vista, e os dois tiveram um caso. Boatos na corte, no reino! D. Afonso IV descobriu e exilou a mulher. Um ano depois, a esposa traída acabou falecendo e Pedro I recusou casar-se novamente. Mandou trazer Inês de volta – com quem teve quatro filhos. O Rei mandou executar a mulher. Mandou três assassinos atrás dela na Quinta dos Amores, local onde o casal se encontrava. Três homens cumpriram a ordem do Rei. Reza a lenda que o local onde o sangue dela tocou, nasceu uma flor vermelha. Pedro declarou guerra ao seu pai, que morava em Porto (ele em Coimbra) e só não lutaram por intervenção da mãe, a Rainha. “Agora Inês é morta”, disse. Quando Pedro finalmente subiu no trono (morreu o Rei), dois anos depois, vingou-se daqueles que mataram Inês, arrancando-lhes os corações. Uma analogia de como ele se sentia agora sem ela. Afirmou a todos que casou-se com ela em segredo, coroou-a Rainha e mandou trazer o seu corpo para que fosse sepultada ao seu lado – de frente para ele, hoje no Mosteiro de Alcobaça. A frase que a gente encontra ali é “Até ao fim do mundo”.

Mosteiro da Batalha
É considerado por muitos um dos mosteiros mais bonitos de Portugal e eu confesso que tinha ficado um tanto quanto cética quando li isso antes de visitá-lo propriamente. Afinal, eu tive a oportunidade de ver o Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa, e ele foi de cair o queixo. É o que dizem, nunca diga nunca. Na minha humilde opinião, valem os €15 da entrada.




Legal também ressaltar que ali estão enterrados muitos nomes conhecidos dos nossos livros de história – como D. João I e o seu filho Infante D. Henrique, o Navegador. Mas a minha parte favorita foi sem sombra de dúvida as Capelas Imperfeitas. A obra do mosteiro foi tão longa – cerca de 200 anos – que foram muitos os responsáveis pela construção, de diferentes estilos arquitetônicos, do gótico ao manuelino, com influências renascentistas… Enfim, quase tornando-o uma colcha de retalhos. Algumas obras acabaram sendo interrompidas e ficaram ali, daquele jeito mesmo. E, sinceramente, não foi uma má ideia.




De lá partimos para Coimbra, nosso próximo destino. O bom do verão é que os dias são longos, com luz solar até mais tarde, o que dá a sensação de dias mais bem aproveitados. Pois bem, chegamos na cidade e já tivemos a possibilidade de adiantar o roteiro. O lado complicado? Calor, né. O que me traz ao nosso próximo tópico: vestimenta.
O que levar na mala para Portugal?
Eu geralmente detesto esse tipo de discussão – já que cada um, cada um, não é mesmo? Mas senti a necessidade de escrever sobre só para dar aquela ajudada mesmo. Pelo menos eu peguei um pouquinho do que aprendi na pele na viagem para o Sul da Espanha, e aprimorei.
Primeiro, leve bonés e chapéus. Ai, Jeanine, vai estragar o lookinho… Pois leve um bonitinho – ajuda demais a proteger o seu rosto (que eu sei que você já passa protetor solar todos os dias) e a evitar queimaduras. Até nos ombros. O sol é forte gente, não vem com essa de “sou brasileiro” não como se isso fosse o bastante para resistir aos raios ultravioletas.
Depois, vai com roupa leve e de tecido natural, tipo algodão, linho… Que deixa sua pele respirar. E cuidado com as igrejas e os templos do seu roteiro. Se você estiver com um modelito muito leve, hahaha, chances são grandes de você precisar se cobrir durante a visita. Tenha sempre a mão um lenço – evita frustração.
E isso não vale só para Portugal. Eu não tive problemas na Terra de Camões, mas em Nápoles eu não entrei em um dos templos porque estava de shorts. Ninguém brigou comigo ou me barrou, mas as placas na porta foram o suficiente para eu respeitar – tinha gente que ignorou e entrou tranquilamente. Vai de você.
Coimbra
Continuemos com o roteiro em Coimbra. Depois do check-in no hotel da vez, começamos a andança pela Universidade de Coimbra, que fica a dica, é aberta 24h (ela, não as atrações dentro dela). Trata-se da universidade de língua portuguesa mais antiga do mundo. A sua principal atração é o Paço das Escolas. Trata-se de um conjunto arquitetônico reconhecido como Patrimônio da UNESCO construído em cima de uma Alcáçova – palácio fortificado onde vivia o governador da cidade no período do domínio muçulmano – no final do século X.



A partir de 1131, o Paço Real da Alcáçova tornou-se residência de D. Afonso Henriques – que já mencionamos algumas vezes – tornando-se no primeiro Paço Real do país. Foi aqui que nasceram a maioria dos reis da primeira dinastia. Tornou-se parte de uma universidade durante o reinado de D. Filipe I, em 1597, recebendo o nome de Paço das Escolas.
Depois, fomos conhecer a Sé Nova e a Sé Velha de Coimbra, respectivamente. A Sé Nova de Coimbra, construída no século XVI para os Jesuítas e transformada em catedral no século XVIII, tem fachada maneirista e barroca e abriga retábulos dourados; fica próxima à Universidade de Coimbra. A Sé Velha, do século XII, em estilo românico com claustro gótico, foi a primeira catedral da cidade e serviu não só como templo, mas também como fortaleza. Se você olhar bem, tem bem jeitão de castelo, né? Por mais contraditório que possa parecer uma igreja defensiva. Mas, enfim, a Idade Média parece ser de outro planeta as vezes.




A última parada foi na Igreja de Santa Cruz, onde está enterrado o Dom Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal. A gente não pagou pela visitação, entramos apensar na igreja. E se você quer saber mais sobre o monarca, a contextualização histórica eu coloquei no final desse texto – e sim, eu sei, já está quilométrico. Então se você tem curiosidade para entender um pouquinho mais quem é quem na guerra dos tronos português, talvez te ajude um pouco. Me ajudou durante toda a road trip em Portugal.


Dia 4 – Coimbra e Aveiro
O roteiro no dia seguinte começou ainda em Coimbra e cedinho, já que partiríamos no dia para o nosso próximo destino português. Após o café da manhã, decidimos levar o roteiro para o outro lado do rio Mondego. Começamos do topo, mais especificamente no Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, de 1330, construída após o antigo ter sido inundado pela cheia do rio já citado. É lá que descansa os restos mortais da Rainha Santa e padroeira de Coimbra, Dona Isabel, que também assinou a obra do mosteiro.

Nós não entramos. Pegamos o carro e descemos para ver mais duas atrações antes de partir para nosso novo destino: a Quinta das Lágrimas e o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha que foi o primeiro mausoléu de Inês de Castro. A primeira é hoje um hotel, mas você consegue (pagar para) visitar o jardim, onde reza a lenda que Pedro I e a amante se encontravam, e onde ela foi assasinada.



Já o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha é um importante exemplo da arquitetura gótica portuguesa, De 1314, foi construído para abrigar freiras da Ordem de Santa Clara. Devido sua proximidade com o rio, enfrentou constantes inundações, o que levou ao seu abandono em 1677 (quando as irmãs foram para o novo). Durante séculos, o lugar permaneceu soterrado até que, no final do século XX, foi alvo de escavações e obras de recuperação. Hoje, é possível visitar as ruínas preservadas. É muito, muito legal!




Aveiro
Então, partimos para Aveiro, conhecida como a Veneza de Portugal por causa dos canais que cortam o centro histórico da cidade, e que ligam o Ria de Aveiro ao mar. Sim, Ria. Com A. Assim como Veneza tem suas gôndolas, a versão portuguesa possui o chamado moliceiro. As embarcações coloridas recebem esse nome porque antigamente eram usadas para pegar moliço, uma alga utilizada como fertilizante na produção agrícola. Hoje, é para o turismo mesmo – e as bichinhas são fotogênicas que só (e cheias de gracinhas)!
Já vou abrir os parênteses aqui porque o site do Turismo de Portugal mandou parar a comparação com Veneza, hahahaha. Falou que “ambas as cidades são únicas, peculiares e bem diferentes, por sinal”. E completou falando que “qualquer analogia é portanto dispensável. Ambas inesquecíveis e incomparáveis, é de Aveiro que aqui vamos tratar”. Então, melhoremos, hahahaha. Tá proibida a comparação com Copenhague também, viu?
Outro parêntese que posso abrir é explicar o que é uma Ria (porque eu fiquei achando que era erro de digitação do primeiro roteiro que eu abri, haha). Enquanto a versão com O é caracterizado como um fluxo de água que corre para o mar, a Ria é o resultado do recuo do mar, uma laguna que constitui um importante (e bonito) acidente geográfico na costa portuguesa.
Aveiro é considerada ainda uma cidade-museu pela quantidade de prédios e edifícios de estilo Art Nouveau, que dominaram a cidade durante o Estado Novo. Se você gosta de arte, pode visitar o Museu da Arte Nova, em uma das margens do Canal Central. É ali do ladinho que a gente experimentou os nossos melhores Ovos Moles da viagem, um docinho com base de ovo que é muito gostoso (doce, mas gostoso). Se você gosta de quindim, é parecido – embora eu puxe mais sardinha para o brasileiro. Outra iguaria famosa por lá é o sal, tanto que foi a nossa primeira parada na cidade.



Visitar a “plantação” de sal foi uma experiência interessantíssima e muitas pessoas recomendam fazê-la no final da tarde, e pegar o pôr do sol por aqui. Tem ali perto um museu ao céu aberto (Ecomuseu Marinha da Troncalhada) para você que quer percorrer todo o espaço por lá lendo mais sobre a extração do minério, com indícios que remontam os romanos. Bastante diferente do que vimos nas Minas de Sal de Waliska, na Polônia.

Importante: se esse é um assunto que te interessa, vale dizer que o fim de junho é a época da colheita do sal. Você pode ainda fazer reserva para tour guiados por lá direto no site do núcleo de Museus de Aveiros.
Saímos de lá e fomos fazer o check-in no hotel da vez a pé, já que o carro teve que ficar parado no bolsão de estacionamento da cidade – no dia da chegada, o anfitrião do Light Brown Central Apartment (pagamos €93 para as três pessoas) nos avisou que não poderíamos estacionar na acomodação. Chateação. Colocamos a troca de roupa e as necessaires na mochila, e largamos as malinhas no carro.
E aí, começamos a rodar. No caminha até o hotel, passamos pelo Canal de São Roque e conseguimos já admirar (e cruzar) a a Ponte dos Botirões, também conhecida como Ponte do Laço e/ou Ponte Circular de Pedestres, hahaha – esta última bem literal. Embaixo dela, o canal de São Roque se encontra ao canal dos Botirões. Local considerado fotogênico pela presença de edifícios coloridos ao redor. Fora a construção em si, que liga três margens, super bacana. De lá, passamos pela Ponte dos Carcavelos, uma das mais antigas da cidade, estampada com o brasão da cidade, até chegar no Largo da Apresentação, onde a nossa acomodação da vez estava localizada. Ali já visitamos a Igreja da Vera Cruz (Igreja de Nossa Senhora da Apresentação). Além dos azulejos portugueses adornando a fachada, vale a entrada para ver os altares talhados em dourado.




Nossa próxima parada foi o Museu de Arte Nova, voltado aos elementos da Art Nouveau – encontrada por toda a cidade. E, por conta disso, decidimos não entrar. Preferíamos bater as nossas perninhas e admirar o estilo na “vida real”: nas pontes, nas fachadas dos prédios e nos monumentos espalhados por Aveiro. E eu sempre sou do time dos museus, viu, gente? Se tivessemos mais tempo na cidade, talvez esse seria a minha escolha de passeio.
Outra museu famoso por lá é o Museu do Aveiro, instalado dentro de dois prédios históricos: Convento e a Igreja de Jesus, ambos do século XV. Ali dentro você tem a oportunidade de se embasbacar mais um pouquinho com azulejos portugueses e a arquitetura barroca, com destaque para o túmulo de Santa Joana, filha de Afonso V, canonizada em 1693.
Da região onde estão os museus, caminhamos até o cais dos Moliceiros. Se você não quiser contratar um passeio – lá mesmo – ou com antecedência pelo nosso parceiro GetYourGuide (link aqui), não deixe de reparar na pintura de cada uma das embarcações. Elas não são somente coloridas, elas possuem desenhos únicos na parte de trás. Alguns poéticos, alguns cômicos, algumas sátiras – e até de cunho sexual. Então fica a dica antes de sair apontando para as crianças!


(O lado bom de fechar seu passeio com o GetYourGuide é poder cancelar de graça até 24 horas antes. Então dá para ficar de olho no clima tempo e, se ele não for favorável, recalcular a sua rota sem qualquer ônus).
Nossa próxima parada, agora margeando o Canal Central de Aveiro, foi a Praça General Humberto Delgado. Mais curioso do que o prédio da Capitania do Porto de Aveiro que você encontra por ali, em cima da água, é que a praça toda tem essa característica. Sei lá. Achei impressionante! Hahaha
(Pelo menos em Veneza – que você por ler a nossa experiência pela cidade aqui, eu não reparei em algo do tipo. Olha eu comparando – shame on me – as duas cidades. #hipocrisia)
E se você ainda não viu o suficiente de azulejos portugueses, e você não viu (vai por mim), nossa próxima parada foi a Igreja da Misericórdia de Aveiro, que tem a sua fachada revestida por eles. Visitação paga, não entramos. Também passamos pela Sé Catedral de Aveiro de 1464 – ali pertinho. Nessa a gente entrou.



Fomos caminhando até a Capela de São Gonçalinho, dedicada a São Gonçalo, o padroeiro da cidade. Já fechada por conta do horário, e bem pequeninha quando comparada as outras. Legal ressaltar aqui que eles possuem uma celebração em janeiro que consiste em atirar cavacas para a multidão. Cavacas são bolos secos, redondos e côncavos, tipicamente cobertos com uma calda de açúcar e claras. Então, se estiver por lá, deve ser interessante de assistir (ou fazer parte, vai de você).
Nós deixamos de incluir no nosso roteiro a Estação de Comboios de Aveiro, que chama atenção pelo prédio. Então mesmo se você visitar a cidade chegando e partindo de carro, talvez vale dar aquela passada ali. Parece especial. Outro lugar que não conseguimos chegar foi a Praça Marques de Pombal, onde está o antigo Convento Carmelita. Na praça tem ainda um mosaico que representa os signos do zodíaco.
Por fim, mas não menos importante, cruzamos (e fotografamos) a fotogênica Ponte Laços da Amizade, toda coloridinha graças às fitas que os passantes deixam ali para celebrar, homenagear ou explicitar, seus amores. Fica tão bonitinho que a tradição se espalhou para outras pontes por ali, deixando a região bem charmosa. Se você estiver na região mais cedo do que a gente, pode visitar o Mercado Manuel Firmino, uma espécie de mercadão da cidade onde você encontra frutas, verduras e flores. A gente entrou, mas já era fim de dia.


Dia 5 – Porto
Praia da Costa Nova em Aveiro
Antes de pegar a estrada para Porto, fizemos uma parada na Praia da Costa Nova, ainda em Aveiro, a cerca de 15 km do centro histórico, só para ter a sensação de colocar o pé na areia e ver as casinhas coloridas que são o chamariz do lugar. Bom dizer que a praia fica de um lado e as casinhas do outro, mas a gente estacionou errado mesmo e andamos por ali – embora fosse bem cedinho e estivesse tudo fechado. E frio, hahahahaha.

Reza a lenda que os pescadores da região pintavam suas casas com cores diferentes dos vizinhos para que pudessem vê-las do alto mar. Bacana, né? Aqui em Dublin, o boato é que as casas possuem portas coloridas para que os bêbados consigam achar suas residências após alguns pints no pub local. Cada um com a sua tradição, né não?

Porto
A viagem até Porto durou cerca de 1 hora. Fomos direto para o hotel da vez fazer o nosso check in e estacionar o carro – já que foi decidido que a cidade seria desbravada a pé. A segunda maior cidade de Portugal oferece inúmeras opções de transporte público como ônibus e metrô, além dos carros de aplicativos – bom ressaltar caso você escolha um local mais distante.
Nossa primeira parada foi a Capela das Almas de Santa Catarina, datada de 1733, que possui toda a sua fachada coberta por azulejos azuis e brancos que retratam a vida de São Francisco de Assis e de Santa Catarina. Fotografamos o seu exterior icônico e até entramos para ver o lado de dentro – mas como estava tendo missa, a gente saiu rapidinho para não atrapalhar. De lá, fomos para o Mercado do Bolhão, que além dos costumeiros itens dignos de um mercadão, como frutas e flores, o lugar também tem uma área de comes e bebes.



Bom dizer desde já que estivemos em Porto nos dias que antecedem o São João (24 de junho). Então a cidade estava bem cheia, e temática. E se você estiver por lá nesse período, estude se não quer presenciar a festa na cidade do Porto. Não vou me aprofundar muito porque não vivenciei, mas as tradições envolvem de martelinhos de plásticos a fogos de artifícios. Se essa é a sua vibe, só vai!
Depois do almoço ali na Rua Santa Catarina, é hora do café, certo? Certo. Então já fomos direto para o famoso Café Majestic que fica ali na região – para não tomar o café por lá. Fundado em 1921, foi inspirado nos cafés parisienses do inicio do século XX, em estilo Belle Époque. É barato? Não é – nem para os padrões irlandeses. Na época, um café espresso estava custando €6. A media praticada na cidade era de no máximo €1,20. Não tivemos coragem. Reza a lenda que a autora do Harry Potter, aquela que não podemos mais nomeada, esteve no local para escrever a saga.


E então, aproveitamos e passamos pela Igreja de São Ildefonso, de 1739, que conta com cerca de 11 mil azulejos revestindo a fachada – que foram instaladas em 1932 pelo artista Jorge Colaço, o mesmo que assina a Estação São Bento (que passaremos mais tarde). Os azulejos retratam cenas da vida do Santo Ildefonso e do Evangelho, além de elementos decorativos típicos do barroco português. O portão estava fechado, então não deu para ver de pertinho não.
A nossa próxima parada foi a Livrarias Lello. Eu fiquei MUITO em dúvida, voyajante, se eu entraria ou não no icônico estabelecimento. Eu gosto muito de visitar livrarias – e você já cansou de vê-las por aqui. Os roteiros de Veneza, de Bucareste, Londres, Buenos Aires… Enfim. São inúmeros os exemplos. No entanto, a ideia de pagar para poder entrar, não me foi confortável. No fundo, eu entendo. Eles muito provavelmente precisavam achar um jeito de controlar a quantidade de pessoas por dia que entravam lá apenas para fotos, e acabavam com toda a certeza afastando as pessoas que realmente queriam comprar um livro. A gente conhece a realidade das livrarias e bibliotecas hoje – gigantes da internet quebraram e continuam a quebrar muitas delas.
E trago mais um adendo – o último, eu juro. Eu trabalhei durante um tempo aqui em Dublin no gerenciamento de um prédio comercial instalado dentro de uma casa georgiana, lá do século XVIII. Os custos de manutenção de um prédio desses, gente, são muito altos. Então no fim, eu entendi, e comprei um ingresso para comprar na Livrarias Lello.





Existem alguns tipos de ingresso. No meu caso, eu peguei um onde eu podia investir o valor do bilhete na comprar de um dos livros da coleção da livraria. Sai de Porto com um souvenir especial, já que quis trazer para casa uma obra do português Fernando Pessoa. E, sinceramente, valeu cada centavinho.
A Livraria Lello é considerada por algumas organizações como uma das mais bonitas do mundo. Há quem diga que o local serviu de inspiração para o universo Harry Potter, embora a própria autora que não pode ser nomeada já negou o boato. Ela esteve sim na cidade portuguesa, e visitou o Café Majestic, por exemplo, mas não a Lello.
Acabamos o dia bebendo e comendo uma francesinha e um cachorro. Mas os detalhes de gastronomia vão para o post completinho que esta a caminho – e será linkado aqui quando estiver pronto.
Dia 6 – Porto e Vila de Gaia
Começamos o dia indo direto para a Rua dos Clérigos para encontrar, ta-dá, a Igreja e Torre dos Clérigos, uma das principais atrações da cidade. De estilo barroco, foi construída entre de 1735 a 1748 em cima de uma colina que, antigamente, era chamada de Colina dos Enforcados – e como o nome já diz, local onde eram enterrados aqueles que eram enviados para a forca.

Além da igreja, você também pode visitar a torre e ver Porto do alto. Como o passeio é uma recomendação presente em quase todos os blogs de viagem que está que vos escreve leu, fomos. A promessa era de uma visão imperdível da cidade do Porto – e ela foi cumprida com louvor. Compramos os tickets com antecedência pelo GetYourGuide e o processo para entrar foi bastante simples. São 200 degraus até ao topo? Sim. Lendo assim parece tranquilo, né? E sinceramente não foi das piores subidas não, se comparamos com outras atrações onde as coxas queimavam até o topo (alô Florença, alô York).





Legal citar a Capela da Nossa Senhora da Lapa no mesmo local. Linda – mesmo só podendo “ver” através de um vidro.

Seguimos para visitar mais duas igrejas: a Igreja do Carmo e a Igreja das Carmelitas, localizadas uma do ladinho da outra. Elas só não estão coladas, parede com parede, por conta de uma casinha que “enfiaram”, não tem uma palavra melhor, ali do meio.
Mas, vamos aos fatos. Primeiro veio a Igreja das Carmelitas, também conhecida como Igreja dos Frades Carmelitas Descalços, datada de 1628. Mais de um século depois, em meados de 1768, foi inaugurada a Igreja do Carmo. Os mais desavisados talvez não reparem de primeira que ali estão dois templos. E que no meio delas tem uma casinha de 1,5 metro de largura.



Reza a lenda (ou as más línguas) que foi instalada ali no meio para evitar comportamento inapropriado entre as freiras que moravam dentro do convento das Carmelitas e dos monges que habitavam o Carmo.
A casinha, por sua vez, serviu de morada para diversos profissionais que prestaram serviços para uma ou as duas igrejas. Médicos, carpinteiros, pintores, marceneiros… Hoje, é aberta para visitação. Enquanto a Igreja dos Carmelitas é gratuita, a do Carmo, por onde se acessa o anexo, tem custo de €7.



De estilos barroco-rococó, chamam demais a atenção já nos seus exteriores. Então mesmo que você não seja fã de passeios em igrejas (ao contrário desta que vos escreve, que fechou 1 dia em Milão apenas para isso), dá para dar aquela passadinha para fotos por fora. Eu, obviamente, recomendo entrar. É bem legal, tem até uma lasca da suposta cruz de Cristo no Tesouro (com certificado de veracidade e tudo!).




De lá, fomos direto para o Miradouro da Vitória, considerado um dos mais bonitos do Porto. De lá tem-se uma vista incrível do Rio Douro e da Vila Nova de Gaia, dá até para ver o nome das companhias de vinho do Porto de lá. Ali pertinho está a Estação São Bento, que apesar de uma estação de trem é uma das principais atrações do Porto. Inaugurada em 1916, foi construída no local de um antigo convento. O grande destaque é o átrio da estação, revestido com mais de 20 mil azulejos pintados à mão que retratam episódios históricos e cenas da vida portuguesa.


Ali do ladinho fica o Time Out Market Porto é um espaço gastronômico onde você encontra a versão menor de restaurantes e bares renomados da cidade. A gente entrou, mas não comeu. De lá fomos direto para a Sé do Porto, ou Catedral do Porto, a principal igreja da cidade e um dos seus monumentos mais antigos. Construída no século XII, mistura estilos românico, gótico e barroco. Por ser uma visita paga, a gente decidiu deixar para a próxima vez, já que andei pagando para visitar muita igreja por Portugal afora. E se eu zerasse Porto nessa viagem, o que é que eu vejo na próxima vez? Hahaha



Na próxima vez também faremos o Paço Episcopal do Porto, também conhecido como Paço dos Bispos. Trata-se da antiga residência dos bispos do Porto, um edifício imponente com uma escadaria monumental e vista privilegiada da cidade. Após uma grande restauração, o palácio foi aberto ao público em 2016.
Por fim, ali naquela região, demos uma passadinha no Miradouro da Rua das Aldas, para mais uma “vista” da cidade, que é lindíssima. Almoçamos por ali e seguimos rumo ao Cais da Ribeira, uma das áreas mais fotogênicas de Porto, com fachadas coloridas, restaurantes, bares e à beira do Rio Douro. No horário do almoço estava um fervo que só.
Foi um belo “dois coelhos com uma cajadada só”, eu diria. Já que dali tem-se as vistas para a Ponte Luis I, um dos principais cartões-postais de Porto. E com motivo. Foi construída em 1886 por um aluno (alguns lugares diz sócio, parceiro… Não sei bem) de ninguém mais, ninguém menos, que Gustave Eiffel. Aquele mesmo, que tem uma torre com o seu nome em Paris. Há similaridades, é verdade.

Fundada em 1886, possui 395 metros de comprimento e 8 de largura, e possui dois tabuleiros, sendo o superior utilizado por uma linha de metrô e a inferior de tráfego rodoviário. A gente cruzou a pé. Primeiro por baixo, e depois por cima. E o real motivo de atravessar a ponte foram os vinhos do Porto. Que sim, curiosamente, possuem as caves em Villa de Gaia, enquanto as plantações de vinho estão ao longo do Rio Douro, no chamado – a-há – Vale do Douro. São muitas, voyajante, muitas mesmo.
Foi bem desafiador escolher qual nós iríamos. De marcas mais famosas e conhecidas como Sandeman, Cálem, Ferreira e Casa Ramos Pinto, até outras menores. Acabamos indo para a Real Companhia Velha. Compramos os tickets pelo GetYourGuide para o final do dia – e recomendo que comprem seus tickets com antecedência. Porto é uma cidade bem cheia, viu?
Fundada em 1756, é a mais antiga empresa de vinhos de Portugal ainda em atividade, com uma trajetória diretamente ligada ao desenvolvimento da região do Douro. Durante o tour, a gente assistiu um vídeo introdutório com a história da empresa e de lá fomos visitar os galpões onde os barris de carvalho armazenam o vinho, que ficam ali envelhecendo. No trajeto, vamos escutando as curiosidades sobre o processo de produção e aprendendo sobre a importância histórica da companhia, que chegou a ser fornecedora da coroa portuguesa. E, obviamente, fizemos uma degustação de quatro tipos de vinho do Porto, incluindo rosé e branco, que eu nunca havia experimentado. Foi muito, muito bom!



Dia 7 – Guimarães e Braga
Porto serviu de base para visitar, agora com o carro, mais duas outras cidades localizadas no norte de Portugal: Braga e Guimarães. Legal mencionar que se você não estiver de carro, mas em Porto, você pode fazer o mesmo rolê de trem ou com uma excursão. No GetYourGuide, nosso parceiro aqui no blog, você encontra algumas opções de passeios. Vale conferir.
Saímos de Porto cedinho e partimos para a primeira cidade: Guimarães. O que tem lá? Bom, foi onde nasceu D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal – e a contextualização história eu escrevi no final deste texto, para não dificultar a vida de quem não quer saber quem é D. Afonso Henriques – só que ele foi o primeiro rei de Portugal, haha. Logo, ali está o castelo onde ele nasceu e um centro histórico que parece uma viagem ao tempo.

Porém, começamos o rolê pelo centrinho histórico de Guimarães. Depois de um belo café, conhecemos o Largo da Oliveira, Largo da República do Brasil (muito bonito!) e a Igreja da Nossa Senhora da Consolação. Ali das redondezas está o teleférico para você que quer visitar o Santuário da Penha. Nós não fomos. Preferimos ficar pelo centrinho e dar uma passadinha na bela Igreja de São Francisco. Mas, só por fora, era mais uma igreja que precisava pagar para entrar.




Curioso é que ali pertinho da igreja estão as chamadas zonas do couro, antigos tanques de lavagem de pele. Tipo aqueles que vimos no golpe que caímos lá no Marrocos – e você pode ler sobre a experiência aqui ou aqui (na matéria que escrevi em conjunto com a Jenifer sobre perrengues de viagem).
O mais legal é que fomos pegos de surpresa (você não vai, porque você lê o voyajando) pela Feira Afonsina, também conhecida como Feira Joanina de Guimarães. Realizada anualmente no centro histórico — que é um Patrimônio Mundial da UNESCO — a feira nos transportou para a Idade Média. É muito doido, gente! Durante os dias de evento (a gente acabou que estávamos no primeiro dia), as ruas ganham vida com artesãos, mercadores, taberneiros, cavaleiros, danças, cortejos e recriações históricas. Era muita informação!



Então fica a dica caso você esteja se preparando para ir para lá no final de junho – procure a data certinha e aproveita! Chegue cedinho para conseguir estacionar o carro – ou, se estiver de excursão, só aproveite. Foi uma grata surpresa!
Depois, fomos para as grandes atrações de Guimarães. Fomos primeiro ao Paço dos Duques, datado do século XV. Trata-se de um palácio feito por D. Afonso, filho bastardo de D. João I, ainda mobiliado. Eu achei interessante – mas sinceramente, se você tiver que optar por um ou outro, eu escolheria o castelo. Para ser justa, a visitação do palácio estava reduzida por obras de revitalização – mas, mesmo assim. Bom dizer que não era esse o plano, viu? Não entraríamos no palácio. Mas, o universo deu aquela empurrada e eu vou explicar o porquê.
Os nossos tickets comprados com antecedência não estavam escaneando na entrada do Castelo de Guimarães. Porém, a bilheteria da atração (para tentar resolver o problema) era lá no paço. Chegando lá foi identificado que o ticket do GetYourGuide estava gerando bilhetes para o palácio, e não para o castelo, que era o que a gente queria (mesmo a experiência dizendo claramente Castelo de Guimarães). A bilheteria não conseguiu nos ajudar, porque segundo o atendente “ele não consegue fazer nada com a bilheteria online”. Porém, no auge da frustração (e com o atendimento do GetYourGuide providenciando o nosso estorno), o moço decidiu perguntar se ninguém no grupo é português. O Gian possui a dupla cidadania, e o Ed é residente em Lisboa.
Acabou que só esta que vos escreve pagou pelos tickets. O combo para as duas atrações foi de €8 (e cada um é €5).




No meio entre uma atração e outra está a Capela de São Miguel, pequena em relação ao Castelo de Guimarães e ao Paço dos Duques, mas imensa em peso histórico, já que reza a lenda que ali o primeiro rei português foi batizado. Sabe o que mais tinha entre uma atração e outra? Mais barracas da Feira Joanina – e foi lá mesmo que decidimos almoçar. De novo, gente, foi muito legal!



E aí finalmente entramos no Castelo de Guimarães, que também estava com a principal torre (Torre de Menagem) fechada para visitação. Andar por lá é visitar o que restou de um castelo medieval – suas muralhas, principalmente, e revisitar esse pedacinho de história português, datado lá pelo século X. Ver a Feira Joanina lá do alto das muralhas, realmente transporta a gente.



E aí pegamos o carro rumo ao próximo destino. Quando pesquisando sobre Braga, a única coisa que eu achei que “tinha” na cidade era o Santuário do Bom Jesus do Monte que, aliás, nos foi recomendado ao por do sol. Como visitamos a cidade no verão, e o sol se põe lá pelas tantas da noite, isso não foi uma possibilidade. Mas, enfim. O que eu queria dizer mesmo foi a minha surpresa ao conhecer também as outras atrações turísticas – ou pontos de interesse – de lá.
Começamos o passeio pela Igreja de Santa Cruz, de estilo barroco lá do século XVII, que quis colocar no roteiro por se tratar da igreja que guarda hoje a cruz presente na primeira missa do Novo Mundo – a gente. Em 26 de abril de 1500. Não entramos para paramos para admirá-la. Existe ali ainda uma lenda que se a mulher encontrar a figura de três galos na sua fachada – pronta ela está para se casar. A gente achou dois, mas como eu já casei mesmo, não perdemos muito tempo nisso, haha. E fiquei com aquela sensação de quem nem existe três que é um aprendizado que “casamento não resolve a vida de ninguém”.


Dali, caminhamos sentido a Avenida Central, datada do século XVI. O mais curioso ali, além dos prédios antiquíssimos que a rodeiam, é saber que ali foi o primeiro local iluminado por energia elétrica de toda Portugal.
Passamos em frente ao Café À Brasileira, que obviamente paramos depois para mais um café, e seguimos para a Rua do Castelo, ver de pertinho a Torre da Menagem, que é o que sobrou do Castelo de Braga, demolido no século XX. Ali na região também estão o Jardim de Santa Bárbara e o Paço Episcopal, do século XIV. Tá para construírem (mentira, tem vários, mas cabe aqui o exagero) lugar mais fotogênico. É bem bonito. Apesar do calor que nos fez conhecer em cinco minutos e correr para a sombra.



Um destaque do centrinho de Braga é o Arco da Porta Nova, um monumento nacional desde 1910 – que resistiu à demolição das antigas muralhas que circundavam a cidade. Eram 8 no total. Ali pertinho está a Sé de Braga, a arquidiocese mais antiga de Portugal, já que começou a ser construída lá em 1070. De lá para cá, passou por incontáveis reformas, revitalizações e ampliações. Os pais de D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal, estão enterrados ali – e você pode saber um pouquinho mais sobre a história do conde de Portucalense na contextualização história lá embaixo.
Aliás, bom dizer que você só consegue acesso aos túmulos não só dos pais do rei, como de arcebispos que Braga, por meio de visitação guiada. E, sinceramente, eu recomendo demais. Foi sem sombra de dúvidas uma das experiências mais legais de Portugal. A Sé de Braga é uma espécie de colcha de retalhos, e o guia foi levando a gente para diferentes portas, abrindo-as com seu molho de chaves digno de filme. Fora as explicações e curiosidades. Uma aula de história que não estava nem no nosso roteiro – foi muito, muito legal.





Mais antigo que isso, só as Termas Romanas do Alto da Cividade descobertas em 1977 – e datadas do século I. Por isso não é incomum você encontrar por aí pessoas chamando Braga de Roma portuguesa. E não fomos – era bem mais afastada do centrinho, que estava um fervo por conta da festa de São João, com bandeirinhas, música, fanfarra… Tudo colorido e o maior clima de festa. Ficaríamos mais, se não estivéssemos preocupados com o horário de fechamento (às 18h) do Santuário de Bom Jesus do Monte, nossa última atração do dia.

O acesso ao santuário pode ser feito pelo funicular (custo de €1) construído em 1882 – o que o torna o primeiro da península ibérica. Seu sistema de contrapeso de água é ainda o mais antigo do mundo em funcionamento, a pé ou de carro. Nós fomos na última opção, e foi uma surpresa saber que o estacionamento já é do ladinho do templo pela bagatela de €1. Sim, nós não precisaríamos subir a escadaria do Santuário do Bom Jesus, que estavam causando preocupação ponta conta também do seu tamanho, já que são 116 metros de altura dividida em 3 “seções” – ou 573 degraus: do pórtico (que conta com o brasão de armas do arcebispo responsável pela sua construção), dos cinco sentidos (com fontes de água que representam, bem, os cinco sentidos) e das virtudes (que representam a fé, a esperança e a caridade). O outro motivo é o calor.





Aí você acha que eu não subi a escadaria de São Jesus do Monte? Claro que eu subi, né voyajante. Você me conhece, eu me conheço, hahaha. O Gian foi subir o drone e eu fui peregrinar. Recomendo. A vista da escada é incrível – e pelo caminho a gente vai passando pelas cenas da Paixão de Cristo.


Aleatoriedade da vez – pode pular!
Quando a gente pesquisa as grandes cidades (para fins turísticos, bom sempre destacar), é muito fácil encontrar roteiros prontos, o que fazer, ou o que “tem-que-fazer” – que a gente detesta. Foi um desafio gostoso, e diferente, escolher as atrações turísticas dessas duas cidades no norte português. Não por que não há o que fazer, mas porque há tantos pontos de interesse, que a gente ainda está “descobrindo”.
Obviamente, não estou falando do Castelo de Guimarães ou do Santuário de Bom Jesus, presentes em todos os blogs e sites de viagem. Estou falando da Sé de Braga, ou da Feira Joanina. Menos conhecidas, sabe? E que não são unanimidade em todos os sites que eu abri quando preparando o nosso itinerário.
Muito do conteúdo estava em pt-pt. Por localização geográfica, já que moro na Irlanda, é normal as pesquisas puxarem os tugas. E vê-los escreverem sobre as duas cidades foi diferente – as referências “és de Braga?”, são interessantíssimas. Eu recomendo – apesar de ler com certo entrave a língua mãe na versão europeia. Hahahaha
No fim, o que eu queria dizer – escrever – é que se você conheceu já essas duas cidades e tem aí suas sugestões de ponto turístico, escreve aqui nos comentários. Manda para a gente lá no Instagram… ou no canal do YouTube quando o vídeo estiver no ar.
Dia 8 – Tomar e Leiria
Tomar foi uma boa surpresa – quem sugeriu colocar a cidade, localizada a mais ou menos 2h de Porto (e 1h30 de Lisboa, boa dica para bate-e-volta) foi o Ed, que fez essa road trip em Portugal com a gente. Trata-se de uma cidade fundada por templários. E desculpe, voyajante, aqui a contextualização história não vai poder ficar para depois. Então se você realmente não quer saber mais, pule o próximo tópico.
Breve (muito breve!) contextualização história
A gente escuta muito falar dos templários em filmes, como por exemplo, a busca do Santo Graal pelo Indiana Jones. E o que eu achei mais interessante da história dessa “ordem”, é que ela foi montada por cavalheiros de diversos países que queriam garantir a volta em paz de todos aqueles que foram para as Cruzadas.
Pense, voyajante. Os cristãos saíam de Portugal, Espanha e França, reinos católicos na época, e iam até a Terra Santa – aka Jerusalém – para lutar contra os infiéis (muçulmanos) e reconquistá-la. A volta para casa era longa, e muitos traziam consigo o que adquiriram nas batalhas. Só para perder mais para frente para saqueadores, ladrões, e assim por diante. Bem Idade Média.
Os templários (cavaleiros da Ordem do Templo) se formaram em cerca de 1118. Era uma ordem militar criada então por nobres cristãos (lembra da sociedade de classes medieval? Pois!) e financiada pelo rei Cristão em Jerusalém (pós-Cruzada), Balduíno I. Posteriormente, foram reconhecidos também pelo papa da época, viu?
Sim, gente, “exército” e religião caminhando juntos. E exército com aspas porque não eram exércitos nacionais. Não era do reino. Eram os templários. Faz sentido? Não muito, né? Já que a prerrogativa de um exército não condiz muito com o que entendemos como religião. Mas, enfim. Se existem guerras com viés religioso acontecendo até os dias de hoje, quem sou eu para julgar a Idade Média.
Em determinado ponto, a ordem ficou tão grande e poderosa, que a igreja católica convocava os cavaleiros para diferentes guerras contra os muçulmanos – realmente como um exército. Com o respeito dos reinos cristãos, os templários eram presenteadas com terras (um dos bens mais valiosos na época), e enriqueceram bastante. Com o passar dos anos, os templários foram perdendo suas características mais religiosas. E aí, o século XVI.
A história é que o rei Francês devia dinheiro para a Ordem e decidiu que eles eram então hereges. O negócio tomou proporções gigantescas, até porque muitos dos recém afiliados realmente não estavam ali para seguir os dogmas cristãos. As acusações de blasfêmias cresceram em diferentes cantos da Europa – e muitos cavaleiros morreram na fogueira. A ordem foi então extinta pelo próprio papa (sim, representante da mesma instituição que a consagrou). Loucura, né?
Vou abrir um parêntese bem rapidinho aqui para dizer que, em Portugal, a Ordem do Templo acabou inspirando (tornando-se, em outras palavras) outras ordens militares, sendo a mais famosa a Ordem de Cristo). Guarde esta informação.
Tomar
Tá, Jeanine, e Tomar? Tomar foi construída pelos templários! Lembra que eu falei que eles ganhavam muitas terras dos reinos católicos? Pois então. A cidade foi um presente de D. Afonso Henriques à Ordem do Templo. A construção de duas de suas principais atrações aconteceram a partir de 1160 a mando do Grão-Mestre D. Gualdim Pais. E nós conseguimos visitá-las nesta viagem: Castelo de Tomar e o Convento de Cristo – ou, a maior área monumental de Portugal, com mais de 54 mil metros quadrados. Tá bom, @?
Assim como em Guimarães, começamos o nosso dia em Tomar pelo centrinho histórico, mais especificamente tomando café por lá. Portugal é um país que acorda cedo se comparado com a Irlanda, por exemplo, com padarias e cafeterias abertas desde 8h. Começamos pela Ponte Velha que, reza a lenda, foi erguida pelos templários em cima de uma estrutura já existente deixada pelos romanos. E, sim, voyajante. Tomar tem muitos ‘reza a lenda’ já que a história da ordem é cercada de lendas, segredos e misticismo.
Já na Praça de República a gente encontrou, além da estátua do Grão Mestre Gualdim Pais, a Igreja de São Baptista e o antigo Paço do Concelho – que hoje dá lugar para a Câmera Municipal de Tomar. Ela é bem fotogênica, viu? Vale a ressalva. Visitamos algumas lojinhas de souvenir e fomos sentido o Castelo de Tomar, para voltar para trás e precisar colocar o carro em um estacionamento pago. Era um domingo, voyajante, e a cidade estava tomada por turistas no horário próximo do almoço.




TIvemos que subir (sim, é uma subida) para as atrações a pé mesmo. Foi mais ou menos uns 15 minutos de caminhada – o que não foi horrível, mas nada agradável por conta do calor. Entramos primeiro no Castelo de Tomar, que é gratuito. As ruínas estão em bom estado de conservação e é válido dizer que a fortaleza é enorme – assim como o acesso que nos dão a ela. Estávamos circulando e, quando demos conta, já estávamos dentro da Mata Nacional dos Sete Montes.




É um parque, um espaço verde – reza a lenda – utilizado pelos cavaleiros da Ordem do Templo para rituais de iniciação. Um dos locais que todos os sites e blogs visitados por esta que vos escreve cita é a Charolinha – que é sim uma Charola pequenininha. Ela fica mais entendível depois que entramos no Convento de Cristo, então repare bem na imagem abaixo. Ah, bom dizer que o próprio site oficial também confirma o rolê da iniciação, então talvez tenha um fundinho de verdade nisso aí. Curioso, vai.



Andamos quase 1 hora dentro do parque em busca da Charolinha. Descobrimos que pegamos a volta cênica e passamos por todas as atrações do parque, incluindo a Cadeira do Rei, que é um balanço com vista para o Convento de Cristo. Fazia tanto tempo que eu não balançava que nossa senhorinha, foi super legal hahahaha.
Aí a paciência se esgotou porque tava muito calor e a fome bateu. Na saída do castelo, fomos direto para uma cafeteria que tem na frente (e só tem ela e uma dentro do Convento de Cristo, então fica a dica) para comer. Depois de banheiro, água, sandes e sorvete, a alma voltou para o corpo e seguimos, para uma das minhas atrações preferidas da road trip em Portugal, Tá preparado?
O Convento dos Cavaleiros de Cristo de Tomar (ou Convento de Cristo), considerado um Patrimônio Mundial da UNESCO desde 1983, é diferente de todas as fortalezas que visitamos até hoje. Exatamente pelo simbolismo do lugar – por quem foi construído e com qual finalidade. A construção é dividida em vários claustros, e em todos eles encontram-se referências aos templários, em estilos Românico, Gótico, Manuelino, Renascentista, Maneirista e Barroco. Essa colcha de retalhos é um indício claro de que o lugar passou por diversas reformas e revitalizações no decorrer dos anos.
Entre as principais atrações do lugar, que é enorme, está a janela manuelina, um dos exemplos mais emblemáticos do estilo artístico tipicamente português, e pela Charola, uma espécie de capela, ou oratório templário de planta circular inspirado no Santo Sepulcro de Jerusalém. É uma das coisas mais diferentes que eu já vi – e, de novo, eu sou versada na arte de visitar igrejas. Se a Sé de Braga me surpreendeu, nem sei o que falar da Charola – que reza a lenda, era circular para os cavaleiros poderem entrar com seus cavalos.









Vale dizer que ali do lado tem a Ermida de Nossa Senhora da Conceição, construída a mando de D. João III para ser a sua morada final – ou, como eles gostam de chamar: Panteão. A construção é considerada uma das principais referências do Renascimento português. E não, D. João III acabou não ficando por ali, mas lá no Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa, que você pode conhecer nesse link aqui. A gente não visitou, estava fechada.
Leiria
Foi menos de 1 hora de viagem até Leiria, a última cidade da nossa road trip em Portugal e nossa pernoite da vez. Fomos direto para o hotel deixar o carro (Eurosol Residence Hotel Apartamento) e começar a explorar mais essa cidade portuguesa.
Quando estava pesquisando as principais atrações de Leiria, reparei duas coisas: primeiro, que a população brasileira morando lá é grande, já que a maioria dos vídeos no Youtube principalmente são sobre os prós e contras de se morar ali. Depois, nos textos, o quão poético Leiria é descrita pelos portugueses – “enamorada por dois rios, o Lis e o Lena, banhando-se nas areias douradas do Atlântico, povoada de belas matas, a cidade de Leiria propicia a quem visita locais inesquecíveis e de raro encanto”.
E como chegamos na cidade mais tardezinha, fizemos o caminho contrário – e não a conhecemos no mesmo sentido de sua formação. O Castelo de Leiria ficou para o dia seguinte – porque merecia calma (até porque eu já tinha lido que a subida até ali podia ser mais um desafio além do tempo).
Nossa primeira parada foi a Praça Rodrigues Lobo. Ao seu redor estão prédios importantes historicamente como os Paços do Concelho e o Pelourinho. Era ali que realizavam-se feiras semanais para a população rural ir vender os excedentes de suas colheitas.



Se você quer um cantinho fotogênico em Leiria, adicione a Casa do Arco no seu roteiro. Mas, é sério. Como o arco, decorado com azulejos e vidros no maior estilo Art Nouveau, atravessa uma estreita ruazinha, vai que você não dá a sorte de passar por ela durante a sua visita pela cidade?



No caminho até a próxima atração, o Largo da Sé, passamos pela Travessa da Tipografia. Por que, Jeanine? Porque ali viveu o escritor Eça de Queirós – e há uma homenagem ao autor na parede da pensão em que morou enquanto trabalhava como Administrador do Concelho de Leiria. A cidade serviu de inspiração, e cenário, de uma de suas obras mais famosas: O Crime do Padre Amaro. Legal, né?
Já a Sé de Leiria, um exemplo de estilo maneirista, começou a ser construída em 1559 e tem formato de cruz latina. A gente não entrou não porque os carros estavam encostando ali na frente porque era bem horário de missa. E a gente não faz turismo enquanto as pessoas vão para rezar. Só observamos por fora mesmo.




Por fim, é importante mencionar que Leiria teve uma forte presença judaica no início do século XVIII. No local onde hoje está a Igreja da Misericórdia ficava uma sinagoga, fora a relação entre o povo judeu e a tipografia na cidade.
Dia 9 – 23/06 – Leiria, Cascais e volta à Lisboa
O Castelo de Leiria não oferece apenas as vistas da cidade – mas história. E disso a gente gosta por aqui. Mas, primeiro, como chegar até lá? Existe um elevador, voyajante. Mas pelas avaliações do Google e a quase inexistência dele nos blogs e sites de viagem, nem arriscamos ir por ele. É de graça? Sim. Mas aparentemente quase nunca em funcionamento. Então é colocar as pernas para jogo e subir.
Já vou abrir a observação agora e dizer que ele estava funcionando SIM no dia da nossa visita e que tem uma plaquinha lá explicando que só opera nos mesmos horários do castelo. Só para testar, a gente desceu para o centro histórico por ele.
A dica para quem vai subir a pé é encontrar a Torre Sineira próxima à Sé de Leiria, e usá-la como guia para a subida. Eu não achava essa informação importante até estar em Leiria. Então, mesmo com o Google Maps na mão – acredita em mim e nessa dica de um blog português que eu perdi para referenciar. A subidinha é íngreme, mas não é horrível por esse caminho.

A Torre Sineira, por sinal, foi adicionada ao complexo do castelo logo depois de D. Afonso Henriques conquistar a fortaleza dos muçulmanos, lá em meados de 1135, como um anexo militar. O elemento civil veio com o Paços Novos (chegaremos lá) e o religioso com a Igreja da Nossa Senhora da Pena.

Compramos os nossos ingressos na bilheteria do castelo, localizada no que antes era a Casa da Guarda. Visitamos as cisternas do castelo, a torre de menagem e a porta da traição, que ganha esse nome porque aparentemente, durante as guerras entre os cristãos e os muçulmanos, é por onde o segundo grupo entrou no castelo e tomou a fortaleza de supresa. Ali dentro ficam também as ruínas da colegiada e a Igreja de Santa Maria da Pena, a primeira de Leiria, da década de 1140.
Ali de cima, em um contraste quase gritante com a arquitetura medieval do castelo, você consegue ver o Estádio Municipal Dr. Magalhães Pessoa. Grande, faz a gente aterrar e lembrar em que século que estamos!





Cascais
Partimos para o nosso último destinos do dia – e da road trip em Portugal: Cascais.
Muitas pessoas faz esse destino como um bate e volta a partir de Lisboa. Da última vez que estivemos na cidade era Dezembro (aka inverno), então não incluímos o litoral no nosso roteiro. Dessa vez, não pudemos deixar de fora. A muito charmosa vila à beira-mar é repleta de lojinhas e restaurantes de frutos do mar. Aliás, recomendação de 10 entre 10 sites e blogs de viagem é comer por lá – aparentemente, você não encontra peixe mais fresco em qualquer outro lugar de Portugal. A gente, obviamente, quis testar por nós mesmos.
Mas antes, estacionar o carro – um desafio, eu diria. Estacionar na rua sai um pouquinho mais barato do que em estacionamentos privados (Largo da Estação ou o da Marina), mas no horário que chegamos lá, já no meio de tarde, estacionar na rua seria um milagre. E estávamos com fome. Então fomos para um estacionamento pago mesmo.
Cascais tem uma história rica que remonta à época dos romanos e mouros, mas foi no século XIV que começou a ganhar destaque como vila pesqueira. Durante os séculos seguintes, sua localização estratégica na foz do Rio Tejo a tornou um ponto importante para a defesa de Lisboa, o que levou à construção de fortalezas e de faróis. A cidade tornou-se também um destino popular da elite portuguesa (e agora dos turistas). A própria família real costumava frequentar Cascais – D. João I mandou construir uma casa de verão por ali, já no século XIX.





Outra atração conhecida na região de Cascais fica a cerca de dois quilômetros do centro histórico: Boca do Inferno. Trata-se de uma formação rochosa localizada na costa ali de Cascais – uma espécie de caverna aberta no meio das falésias, onde o mar entra com força, então a gente fica ali vendo as ondas quebrando contra as rochas. Reza a lenda que o nome vem do barulho das ondas ao baterem nas pedras, que lembra um “rugido” vindo das profundezas.





E assim terminou a nossa road trip em Portugal. Foram nove dias de roteiro com passeios, mas considerei os 10 dias com a chegada e a saída de Portugal. Em 2025 (ano em que fizemos a nossa viagem), o aeroporto de Lisboa estava com problemas de pessoal e as filas de imigração estavam quilométricas. Então é sempre bom planejar a sua viagem com algumas “rebarbinhas” de tempo, para você poder aproveitar cada um dos destinos da melhor forma possível.
Mais uma vez, é bom eu ressaltar para você, voyajante, que o existir do Voyajando é totalmente pautado no “vamos evitar perrengues”. Eles são engraçados, mas não na hora. E alguns, nem depois de um certo tempo.
É isso. Muito obrigada para você que leu até aqui e eu realmente espero do fundo do meu coração que esse texto ajude a você de alguma forma. Você deve ter percebido até aqui (e até porque muito provavelmente eu deixei passar erro de tipografia ou concordância) que este texto foi escrito por uma serumaninha que quer muito o seu biscoito. Então, considere dar aquela seguida na gente lá no Instagram ou no canal do Voyajando no Youtube. A equipe é bem pequena e o conteúdo demora para sair, mas ele vem!
Uma breve contextualização histórica
Por muitos anos, eu achava que Portugal nasceu como um reino logo após o período histórico que estudamos como Reconquista. Por isso, achei importante trazer um pouquinho de contexto histórico para esse texto – apesar de já ter entrado, inevitavelmente, nesse aspecto durante todo o roteiro. Mas, sei lá, senti a necessidade de uma cronologia, então se você também, senta que lá vem História.
Ocupação muçulmana
Podemos começar essa história sim pelo islamismo, como o professor Vitor Soares explica no História em Meia Hora (podcast obrigatório aqui no Voyajando antes de qualquer viagem), já que lá por volta do século VII, tratava-se de uma religião em plena expansão e que chegou à península ibérica, mudando o jogo de poder existente na época, e confinando todos os reinos cristãos existentes ali (onde hoje é Espanha e Portugal) ao norte, na região que atualmente são as Astúrias. Todo o restante era o califado de Córdoba.
Os muçulmanos dominaram a região por muitos anos, vide toda a influência na arquitetura e nos costumes que encontramos até hoje ao visitar ambos os países – na região de Andaluzia, no sul da Espanha, a presença Islâmica ser ainda mais presente, como já mostramos por aqui. E essa ocupação só foi abalada com as Cruzadas, a partir dos séculos XI, XII e XIII.
Portugal, o reino
Em 1096, o conde Henrique de Borgonha era casado com Teresa, filha do Rei Afonso VI, da casa de Leão e Castela, recebeu do sogro o governo de um condado chamado Portucalense (no norte-centro do país hoje, que visitamos nessa road trip em Portugal). Se foi um “presente”, é porque pertencia ao reino de Leão e Castela, não é mesmo? E é aquilo, o que é dado… Hahaha.
Henrique decidiu lutar contra o sogro pela independência de Portucalense – o que aconteceu em 1139, com liderança do seu filho, Afonso Henriques, na Batalha de Ourique. E sim, batalhas terão que ser citadas aqui já que os monastérios visitados nessa road trip em Portugal (e castelos também, né?) foram construídos após algumas delas. Tá comigo até aqui, voyajante? E claro que essa contextualização história vai ser repetida nas matérias individuais de cada destino e eu só peço perdão por isso.
Pois bem. Com a vitória, Portucalense tornou-se Portugal e Afonso Henriques o seu primeiro rei. Não só Leão e Castela reconheceu o novo reino, como a Igreja Católica. E aí, Afonso I, começou a aumentar o seu domínio e chegou até Lisboa. Chegar até a atual capital portuguesa não era tão simples como escrever “chegou até Lisboa”. Afinal, era um caminho repleto de muçulmanos.
Portugal, o império
Não foi do dia para noite que Portugal se tornou uma potência marítima. A gente falou um pouco sobre isso no post de Lisboa – que você pode acessar aqui.
Mas é legal ressaltar, antes da gente avançar muito, que Portugal nasceu como um estado muito antes de todos os outros, e talvez seja por isso que D. Afonso Henriques tenha sido tão bichão. Como assim, Jeanine? Como uma unidade, caro voyajante. Não era um reino de Lisboa, reino de Porto e assim por diante que brigaram entre si para enfim tornarem-se Portugal. Faz sentido? A Itália e a Alemanha, são dois exemplos de países com unificações tardias que a gente vê o reflexo disso fortemente.
O reino de Portugal e o reino de (Leão e) Castela, apesar de diferentes, eram muito próximos. Afinal, D. Afonso I era neto do rei de Castela, não é mesmo? Então a linha hereditária corria junto. Portanto, quando o D. Fernando de Portugal faleceu, em 1383, o sucessor era seu neto – que era também sucessor do reino de Leão e Castela. Como era uma criança na época, o trono foi ocupado por uma rainha regente, Leonor Telles.
Não houveram objeções por parte da nobreza, mas a burguesia não ficou contente. Foi em Lisboa que os comerciantes e parte da população se rebelou, e indicaram o D. João, Mestre de Avis, como rei. Pouco a pouco, foram conquistando cada um dos vilarejos e castelos castelhanos.
A vitória final (ou derrota, vai da perspectiva) dos “portugueses” se deu em 1385 na famosa (sim, você provavelmente estudou isso na escola) Batalha de Aljubarrota. Motivo pelo qual o Mosteiro da Batalha foi erguido.
Tá, Jeanine, e porque isso é importante? Porque agora, voyajante, com os laços rompidos com Castela, Portugal estreitou seus laços com a Inglaterra (e sim, estreitar laços na época e casar herdeiro), e essa aproximação vai ser responsável, em certo nível, ao incentivo português ao desenvolvimento marítimo, e o período que chamamos de Grandes Navegações, já lá no século XV.
Portugal era uma potência mundial. Um império. E conquistou territórios em diferentes pedaços do globo.
E aí muita água rolou embaixo da ponte. A minha ideia com essa contextualização histórica é melhorar não só o meu, mas também o seu entendimento, voyajante, sobre a importância histórica de algumas das atrações que vimos nessa road trip em Portugal.
Não falarei aqui sobre o rei Sebastião VI que sumiu no Marrocos e deu fim na Dinastia de Avis. Nem do período conhecido como União Ibérica, nem das colônias portuguesas. A Dinastia de Bragança, nossos conhecidos, também não merecem lá esse destaque por aqui. Não falarei do terremoto de Lisboa e do Marques de Pombal – já que não é o foco desse roteiro, tudo isso foi citado nessa matéria aqui.
Eu ia deixar a fuga da família real e a invasão de Napoleão Bonaparte de fora também – mas a importância do evento é tanta, que ia me embananar mais para frente. Isso porque com a família real e a corte inteira no Brasil, a partir de 1808 (sendo a última parada deles no Palácio de Mafra), coube à população, com ajuda dos ingleses, defender o território português dos franceses e dos espanhóis, que assinaram um acordo com Napoleão para dividir Portugal.
E conseguiram, viu? E a proximidade dos políticos portugueses com o liberalismo inglês, minou bastante a popularidade da monarquia em Portugal. Tanto que em 24 de agosto de 1820, os cidadãos portugueses exigiram a volta de D. João VI na Revolução Liberal do Porto. E ele foi – deixando seu filho, Pedro de Alcântara, no Brasil. O resto você já sabe… Acho (caso não, Brasil conquistou sua independência, e Pedro IV de Portugal tornou-se o D. Pedro I do Brasil-sil-sil).
Quando D. João VI morreu, em 1830, Portugal entrou em uma guerra civil: com D. Maria II (filha de D. Pedro) e D. Miguel I (filho de D. João IV) pegaram em armas pelo trono português. A primeira saiu vencedora – e Portugal tornou-se uma monarquia constitucional.
No inicio do século XX, os ideais republicanos estavam a todo vapor pela Europa – e em Portugal, a ala mais extremista atentou contra o rei Carlos I e seu filho, deixando o trono sem herdeiros. Foi o fim da Dinastia de Bragança. Portugal era agora uma república (5 de outubro de 1910).
Portugal, a república // Estado Novo
Em 1910, Portugal era um país rural, e tentou passar por um processo de industrialização e modernização. Mas, veio a Primeira Guerra Mundial – que acabou deixando a situação do povo português muito mais complicada e criando o ambiente perfeito para a eclosão de uma ditadura militar. Em 1926, Salazar chega ao poder.
E sim, eu estou voando aqui.
Portugal viveu sob uma ditadura militar durante 48 anos, de 1926 a 1974. Esse período foi chamado de Estado Novo (citado em Peniche, por exemplo). Foi quase meio século nesse regime, até que na década de 70, a crise econômica era tão profunda que parte das próprias forças armadas também de revoltou. O levante foi para as ruas. A Revolução de Cravos marcou a retomada da democracia portuguesa – que perdura (e ainda bem, até os dias de hoje!).
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