Quem nos acompanha lá pelo Instagram (segue a gente também) viu que passamos o final de ano – de 2022 para 2023 – no Brasil. Depois de dois anos morando fora, a viagem teve como foco ver parentes e amigos, mas fiquei feliz de poder dar uma escapada para visitar à capital de São Paulo em alguns dias. E em um desses dias deixamos para ir ao Museu da Língua Portuguesa em São Paulo e é sobre essa visita o nosso post de hoje.
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O museu foi fundado em 2006 e eu já o havia visitado duas vezes antes do incêndio em 2015. Para quem não se lembra, um terrível incêndio destruiu as instalações do museu e ele ficou fechado por anos. Felizmente, em 2021, ele reabriu ao público e nessa viagem ao Brasil nós tivemos a oportunidade de revisitá-lo e trazer esse post para você sobre como anda tudo por lá depois da reabertura.
Eu passei a valorizar muito mais a língua portuguesa quando me mudei para a Itália. Existem expressões, modos de falar, palavras inclusive, que só existem na nossa amada língua portuguesa made in Brasil. E isso faz parte da nossa riqueza cultural e eu amo que o museu traz todas as influências que culminaram no que hoje eu chamo de língua brasileira – linguistas, por favor, não desistam de mim!
Como chegar ao Museu da Língua Portuguesa?
Antes de falar sobre a nossa visita ao museu, vou te dar as informações práticas de como chegar. As demais informações sobre os ingressos estão no final do texto. Beleza? Então beleza!
Bom, nós fomos de carro, mas sinceramente não é o modo mais fácil de chegar ao museu. Eu geralmente sugiro ir de metrô, porque ele está localizado na Estação da Luz, bem no centro de São Paulo, do ladinho da Rua José Paulino (já citada aqui no blog), e por ali passam linhas de trem além das linhas Azul-1 e Amarela-4 do metrô – compensa mais o deslocamento. Quando chegar na estação, basta procurar pela saída sentido Parque da Luz, e procurar pelo Portão A.
Se você tiver que ir de carro, existem algumas opções de estacionamento que ficam relativamente próximas à Estação da Luz. Existe um estacionamento conveniado com o museu (Garage K), mas nós estávamos atrasadíssimos e achamos que fica um pouquinho longe, e resolvemos procurar por outro. Nós geralmente buscamos no próprio navegador (Waze ou Google Maps) as opções de estacionamentos mais próximas e direcionamos o GPS para lá.
Depois de estacionar o carro e chegar na Estação da Luz, mesma coisa, procure pelo Portão A que fica do lado de fora – exatamente em frente à Pinacoteca do Estado de São Paulo (outro museu que amo, mas que não deu tempo de visitar).
Existe, por fim, a possibilidade de chegar de ônibus também. Algumas linhas passam pela região da Luz e do Bom Retiro e, dependendo de que lugar de São Paulo você estiver, pode ser uma opção. No site da SPTrans você pode planejar o seu trajeto.
O Museu da Língua Portuguesa
“Valorizar a diversidade da língua portuguesa, celebrá-la como elemento fundamental e fundador da cultura e aproximá-la dos falantes do idioma em todo o mundo. Foi com esses objetivos que nasceu o Museu da Língua Portuguesa; os mesmos objetivos com os quais ele renasce, em 2021, após sua reconstrução no edifício da Estação da Luz”.
Eu não sabia, li no site deles de onde tirei esse parágrafo aqui em cima, mas a cidade de São Paulo abriga a maior população de falantes da língua portuguesa em todo o mundo (!!). Incrível né? Por esse motivo, Sampa foi eleita para ser a casa do Museu da Língua Portuguesa e, como a linda Estação da Luz foi um dos principais pontos de passagem dos inúmeros imigrantes que chegavam por aqui, foi ela a escolhida para abrigar esse museu tão significativo.
Pela minha escolha de palavras já dá para ver que eu gosto real-oficial desse museu né? Por esse motivo, não pude deixar passar a oportunidade de me unir aos mais de 3,9 milhões de visitantes que passaram por ali nos seus primeiros 10 anos de funcionamento (os números se referem ao primeiro período do museu, antes do incêndio).
Nossa visita ao Museu da Língua Portuguesa
Agora sim, vamos falar sobre a nossa visita pelo Museu da Língua Portuguesa, e assim você já chega sabendo o que vai encontrar por lá para aproveitar ao máximo. Começo dizendo que nós, falantes do português, fazemos parte de uma grande família de 260 milhões de falantes em todo o mundo. Tá bom para você? Pois eu, confesso, fiquei surpresa. Claro que só no Brasil somos muitos, mas é incrível pensar no quanto um idioma pode conectar as pessoas mundo afora – palavra de quem está vivendo em outra língua e sente as barreiras no dia a dia.
A língua é um dos principais elementos da nossa identidade cultural. E a primeira coisa que eu percebi é que o museu tinha mudado. Já não era o mesmo que eu havia conhecido as outras duas vezes que estive ali e isso faz parte também da nossa cultura né? A língua evolui e nada mais natural do que o museu ir se renovando e tendo o seu conteúdo revisto de tempos em tempos, trazendo novas perspectivas.
Uma das coisas mais legais por ali é toda a interação que você tem, através da tecnologia, e isso nos faz mergulhar na nossa língua e aprender um pouco mais sobre ela de uma maneira bem envolvente e nada tediosa – pelo menos para mim não foi. Sendo assim, pode também ser uma boa opção de visita para crianças em fase escolar.
A exposição principal começa no terceiro andar. Então quando saímos da bilheteria, pegamos um elevador que nos leva até o último andar do museu e de lá vamos percorrendo a exposição e descendo as escadas, passando por cada um dos andares – o elevador passa a ser de uso exclusivo de pessoas com deficiência.
3º andar
Começamos então pelo “Falares”, uma série de painéis que mostram as diferentes línguas faladas dentro do português brasileiro. Como assim? É que dentro de um país como o nosso, que é gigantesco e super plural, existem vários “brasileiros” falados ali dentro. E através desses painéis vamos ouvindo diversos sotaques, modos de falar, expressões. É uma imersão bem bacana porque podemos ir além e observar não só o modo de falar, como também as visões de mundo que são comunicadas por meio da língua.
É também no terceiro andar que está o auditório e depois dele, a Praça da Língua. Um combo que indico DEMAIS você conhecer. Para isso, é necessário verificar os horários na entrada do auditório e pegar uma senha para a experiência completa, que dura aproximadamente 40 minutos. Foi isso que fizemos na nossa visita e aguardamos alguns minutos girando por ali e ouvindo um pouco mais do “Falares”, para depois, no horário da nossa senha, nos dirigirmos para o auditório para viver uma das experiências mais bacanas do museu.
No auditório nós assistimos a um filme de Carlos Neder: “O que pode a língua?” e eu achei bem bonito e envolvente. É uma ótima maneira, inclusive, de começar a visita ao museu já que vários conceitos interessantes são apresentados nesse filme. A gente se dá conta da enorme complexidade que é saber – e falar, e escrever, e entender, e ler – uma língua. Nas palavras do próprio museu: “Concatenar palavras e sentidos é um dom que já nasce com a imensa maioria de nós. O verbo é a nossa praia”.
E após a exibição do filme, na sequência, vamos para a Praça da Língua, um planetário de palavras que é simplesmente a minha experiência preferida dentro do museu. Me lembrava dela já das visitas anteriores que havia feito, e devo dizer que após a reforma, está diferente e ao mesmo tempo igual. As palavras se mesclam em poemas, textos e com a música brasileira, em uma sequência de projeções de som e luz no telhado do Museu. Vale muito a visita!
Depois de ficarmos no escuro, encantados com as projeções, o céu de São Paulo nos recebe no terraço, aberto pela primeira vez ao público. Por essa novidade eu não estava esperando, e foi bem legal ter uma visão de uma parte do centro de São Paulo, do alto, pertinho do relógio da estação da luz – que badala a cada meia hora.
2º andar
Do terraço somos orientados a descer pelas escadas e acessar o segundo andar da mostra. E começamos nossa visita ali pela linha do tempo: uma parede inteira contando a história do Português do Brasil. É muito legal ver o quanto a língua foi se modificando, se criando e se transformando ao longo do tempo, começando lá atrás no latim, se espalhando pelo que hoje conhecemos como Portugal, chegando aqui um tempo depois e, aí sim, adquirindo toda a nossa malemolência de influências indígenas, africanas e de tantos outros imigrantes ao longo dos anos. Herdamos, modificamos e recriamos muitas palavras, verbos e é interessantíssimo perceber o quanto isso é tão presente até hoje.
Ao mesmo tempo que fomos percorrendo a história do português no Brasil, o segundo andar do Museu da Língua Portuguesa também nos proporciona totens interativos (oito no total) que tem recursos audiovisuais para expor e explicar as principais línguas e povos que contribuíram para a formação da nossa língua. Ou seja, por ali temos a origem de palavras que vieram de outras línguas como o tupinambá, o espanhol, o italiano, o japonês e assim por diante. A instalação se chama “Palavras Cruzadas“.
O cenário de toda essa instalação é: de um lado a linha do tempo que falei ali em cima e do outro uma tela de simplesmente 106 metros. A parede inteirinha de tela compõe a “Rua da Língua“, uma instalação que vai trocando bem depressa, com imagens de muros, paredes, murais, outdoors.
Além disso, e ainda no segundo andar do museu, amei ver que o “Beco das Palavras” voltou. Em uma sala à parte podemos jogar um joguinho interativo de unir sílabas até formar as palavras, e quando finalmente conseguimos uni-las (não é tão fácil com vários visitantes querendo brincar junto hahaha), podemos descobrir a origem da palavra formada.
Já no finzinho do segundo andar – pelo menos na direção que estávamos andando – nos deparamos com a instalação “Línguas do Mundo“. E eu simplesmente amei. Hoje existem mais de 7 mil línguas em todo o mundo, e ali nós pudemos ouvir os sons de 23 delas, escolhidas por sua ligação com o Brasil por serem línguas de povos originários ou trazidas pela imigração. Achei legal porque me lembrou a sensação de quando estou passando por algum aeroporto internacional e me veio aquela curiosidade de quem escuta o som de uma língua sem necessariamente entendê-la.
1º andar
O primeiro andar é dedicado às Exposições Temporárias e antes elas homenageavam, principalmente, escritores consagrados da língua brasileira. Me lembro da exposição do Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa, que foi incrível, cheia de materiais simples de construção como tijolos, madeiras, areia. Era bem imersiva, com alguns painéis pendurados. Acho que foi ali que me encantei pelo museu no auge dos meus 17 anos hahahaha.
Nos últimos anos, aliás, a exposição temporária começou a abordar novos horizontes, e a trazer a música, as produções contemporâneas e outras linguagens que também refletem ou trazem o idioma para perto de nós. Dessa vez, por exemplo, pudemos conhecer a exposição “Nhe’ẽ Porã: Memória e Transformação” e eu já gostei da exposição assim que cheguei ao primeiro andar:
Ela propõe uma imersão na floresta e faz uma homenagem as línguas faladas ainda hoje pelos povos indígenas no Brasil. Achei as instalações muito bonitas e foi mega interessante o modo como escolheram mostrar as memórias e identidades desses povos, inclusive usando, claro, recursos audiovisuais para nos aproximar dessas culturas.
A exposição pode ser percorrida da maneira que bem entendermos, ou seja, não importa onde é o começo e onde é o fim. Isso foi legal porque as pessoas vão se espalhando e se envolvendo com as línguas indígenas apresentadas ali. Passamos por instalações que mostram, inclusive, a violência sofrida pelos povos indígenas, que nos faz refletir inclusive sobre a nossa responsabilidade como sociedade em tudo isso.
“O convite para conhecer as línguas faladas pelos povos indígenas e as transformações decorrentes da invasão colonial é também um chamado para experimentar outras concepções de mundo, e começa no próprio nome da exposição que vem da língua Guarani Mbya, composto a partir de duas palavras: Nhe’ẽ significa espírito, sopro, vida, palavra, fala; e porã quer dizer belo, bom. Juntos, os dois vocábulos significam “belas palavras”, “boas palavras” – ou seja, palavras sagradas que dão vida à experiência humana nesta terra”.
A exposição aproveita o mote da UNESCO, que está promovendo a Década Internacional das Línguas Indígenas. Achei mega interessante lembrar, inclusive, que a língua portuguesa-brasileira não é a única falada no nosso País. Às vezes parece óbvio, mas infelizmente muita gente esquece, né? Por isso foi importante finalizar a nossa visita ao museu com essa imersão na variedade e riqueza das línguas apresentadas ali. Além de, claro, salientar que a preservação da língua e da cultura indígena é fundamental em termos de preservar a nossa origem como brasileiros.
E aí, seguindo a ordem de visita que nós fizemos, a exposição termina assim:
“Ao acompanhar o percurso do rio, os visitantes alcançam um quarto ambiente, noturno, uma atmosfera onírica introspectiva que permite o contato com a força presente nos cantos de mestres e mestras das belas palavras. O rio que percorria o chão da exposição, agora sobe a parede como uma grande cobra até se transformar em nuvens de palavras – preparando a chuva que voltará a correr sobre o próprio rio, dando continuidade ao ciclo”.
Bonito né? A gente amou.
Para quem já havia visitado o Museu da Língua Portuguesa, como nós, deu para sentir que na realidade é um outro museu, né? Ele está bem diferente, apesar de ter mantido algumas instalações amadas pelo público – e por mim – como a Praça da Língua e o Beco das Palavras.
Assim como já pensava sobre o museu “antigo”, acho que o Museu da Língua Portuguesa tem uma função primordial de ressaltar a nossa língua, a nossa cultura. E isso é TÃO importante. Falei já algumas vezes que um dos principais objetivos do nosso blog é levar conteúdo de viagem de brasileiros para brasileiros – claro que falantes do português mundo afora serão sempre muito bem-vindos por aqui. E que bom que temos um museu em São Paulo que traduz esse sentimento de enaltecer nossa língua tão bonita.
A língua é o que nos faz humanos, é o que nos permite viver em sociedade e criar. Em nossa nova exposição principal, exploramos a língua portuguesa falada por 260 milhões de pessoas no mundo em sua história, suas influências e em como é elemento fundamental da nossa identidade cultural.
Demais informações: Museu da Língua Portuguesa
- Horários: o museu está aberto de terça a domingo (segundas fechado), das 9h às 18h (última entrada às 16h30).
- Ingressos: 20 (inteira); 10 (meia-entrada); o museu é gratuito aos sábados e crianças até 7 anos não pagam. A compra pode ser feita pelo site (clica aqui) ou pela bilheteria do museu.
- Existe uma parceria entre o Museu da Língua Portuguesa e o Museu do Futebol: quem adquirir pela internet o ingresso do Museu da Língua Portuguesa terá a opção de, no ato da compra, pegar o ingresso do Museu do Futebol pela metade do preço. A visita deve ser feita em 30 dias.
- Mais informações diretamente no site do museu.
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