Quando a gente pensa em Cidadania Italiana, muitas vezes a gente pensa no passaporte vermelhinho e nas milhões de possibilidades e vantagens de ter uma dupla cidadania pode oferecer. O que nem sempre levamos em conta no início dessa saga, são os desafios que podem surgir ao buscar as suas origens e a documentação do passado da sua família. No caso da bióloga Rafaela Bobato, foi exatamente essa parte inicial que trouxe mais dores de cabeça para o reconhecimento do processo da cidadania italiana dela. Retificações e erros de cartórios no Brasil foram os grandes desafios desse relato que ela trouxe aqui para a gente hoje nessa série especial que o Voyajando está fazendo sobre o processo de reconhecimento da Cidadania Italiana.
A Rafa, como a gente a chama aqui, foi uma das nossas queridas companhias do comune onde fizemos o nosso reconhecimento no Piemonte. Além de nos ajudar muito a nos situarmos por lá, ela faz um antipasti MARA e foi nossa guia pela cidade, já que conheceu cada cantinho em suas caminhadas diárias – mesmo no mega frio que estava fazendo. Além disso, ela, a Gleice (que já contou o relato para nós aqui) e a Paty já estavam por lá quando eu e a @jeaninecarpani chegamos na nossa casinha. Foram elas que nos levaram para um piquenique único e também nos apresentaram a cidadezinha nos nossos primeiros dias por lá. Obrigada de verdade por essa acolhida meninas!
Porque você quis reconhecer a sua cidadania italiana?
Para ter direito de estudar e viver na Europa. Esse desejo nasceu após um período de intercâmbio acadêmico realizado em Portugal. Durante esse período eu tive contato com novas formas de aprender, de ensinar e de fazer ciência, e isso me motivou a buscar novos horizontes para além das fronteiras do Brasil.
Quando você soube que tinha direito ao reconhecimento da sua cidadania italiana?
Desde muito pequenina eu sabia que minha família era de origem italiana. Meus nonos conversavam em italiano entre eles. Minha nona nasceu em um navio que partiu da Itália para o Brasil e meus tios-avôs sempre contam histórias dos combates na Segunda Guerra Mundial e da fuga das más condições sociais pré-Primeira Guerra. Por outro lado, alguns parentes haviam me dito que uma igreja que continha registros importantes pegou fogo (quem nunca ouviu histórias desse tipo?!) e que, em decorrência disso, não seria
possível conseguir o reconhecimento da cidadania por esse lado da família. Mas isso não me fez desistir, eu queria ter certeza que tais documentos haviam sido queimados, e então eu veria o que seria possível fazer, ou então partir para outro lado da família, dado que de 4 avós, 3 são 100% descendentes de italianos.
Como foi a sua “parte Brasil” do processo?
Costumo dizer que meu processo ocorreu ao contrário dos famosos memes de monstros da cidadania italiana – monstros pequeninos na busca dos documentos no Brasil que tendem a crescer até chegar no processo na Itália. No meu caso, a minha “parte Brasil” foi a mais difícil. Sinto três tipos de arrepios distintos só de pensar em precisar ir à cartórios. Tentei correções administrativas e fui extremamente mal atendida. Solicitei certidões que foram emitidas com novos erros ocorridos durante a emissão dessas novas certidões solicitadas. Como eu precisaria solicitar judicialmente a emissão de uma certidão tardia, acabei solicitando todas as retificações por essa mesma via. Desde o início da busca dos documentos até a emissão das certidões para apostilamento foram 4 anos que terminaram com o início do isolamento social devido à Covid-19.
Como foi a sua “parte Itália”?
Muito tranquila. Desde o primeiro contato com a igreja onde meu antenato nasceu e se casou, até a assinatura das minhas certidões no comune italiano, e recebimento da ID e do passaporte.
Quais foram as suas principais dificuldades durante o processo?
O processo foi simples, as maiores dificuldades e/ou medos que tive estiveram relacionados ao período no qual realizei o reconhecimento da cidadania: a pandemia do Covid-19. Planejar tudo nos mínimos detalhes para passar na imigração, cumprir quarentena, fazer teste de PCR, o medo do comune e da questura fecharem.
O que você diria para você mesma lá no início do processo?
Vai ser uma loucura, mas vai valer a pena. Ah e pense também na sua mala! Se você for passar o inverno, prepare uma mala para o inverno. Ou: você não vai precisar dos seus vestidos de verão e vai sentir saudades das roupas de frio que você deixou.
Qual a principal dica que você daria para quem está pensando em reconhecer ou começando agora?
Aprenda o básico de italiano, qualquer coisa que você aprender lhe será útil. Conheça todas as etapas do processo (pode colar usando as dicas do Sagabook). O mais difícil é alugar casa por conta própria, mas existem pessoas que fazem a intermediação para o aluguel de residências na Itália.
Mais um relato em que deu tudo mais do que certo! Rafa, nós somos muito gratas pelo seu relato aqui no blog, e, principalmente, por ter nos acolhido e ajudado durante essa fase doida das nossas vidas em que escolhemos cruzar o oceano e viver aventuras na nossa cidadezinha do interior. Em breve estaremos nos encontrando de novo por esse mundão à fora, até porque a gente ainda quer provar o naked cake que você faz – a gente leva o vinho para acompanhar! Grazie mille!
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