Bate e volta de Dublin: Newgrange e Knowth, pré-história perto da capital irlandesa

Mais antigas que as Pirâmides do Egito. Mais antigas que Stonehenge, na Inglaterra. Assim são definidas os monumentos de Newgrange, Knowth e Dowth localizados no vale de Boyne, no condado de Meath, a cerca de 1h30 de Dublin, capital da Irlanda. Esse conjunto de monumentos, reconhecidos como patrimônio mundial da humanidade pela UNESCO, são tumbas de passagem do período Neolítico.

Mas, calma aí, Jeanine. Tumba de passagem? Período Neolítico? É o que?

Seja muito bem-vindo ao nosso post aqui do Voyajando.com. Puxa uma cadeira, pega um café. Hoje falaremos desse destino que é o mais novo integrante da série de bate e voltas a partir de Dublin. E que é reconhecido principalmente pela sua experiência durante solstício de inverno. Solstício de inverno? É, voyajante. Falarei dele mais adiante… Conheço você, se eu queimo a largada você não me dá o Ibope que eu mereço (e preciso). Aproveita e ajuda a gente lá no canal e no Instagram).

Como visitar Newgrange?

O Centro de Visitantes Brú na Bóinne fica a cerca de 45 minutos de carro de Dublin, a capital da Irlanda. Você vai utilizar a rodovia N2 via Ashbourn sentido Slane para chegar até lá. Também estão pertinho as cidades de Navan, Drogheda e Trim.

Legal ressaltar ainda que a visitação dos monumentos é feita a partir do Centro de Visitantes Brú na Bóinne, por meio de um ônibus (shuttle bus). Então, quando for selecionar o destino no seu GPS (Maps, Waze ou qualquer outro aplicativo que você prefira) coloque o centro de visitantes, e não Newgrange ou Knowth. Se você não fizer isso, vai parar do outro lado do rio e, como os bilhetes possuem horário marcado, pode ser um tanto quanto caótico ter que recalcular toda a rota.

Dá para ir de transporte público?

A única rota que eu encontrei é partindo de Drogheda, então você teria que ir até lá e de lá pegar um ônibus para chegar até o Centro de Visitantes Brú na Bóinne, o que dá um pouco menos de duas horas de locomoção.

A linha é operada pelo Bus Eireann e no site oficial deles você encontra mais informações de preços e horários. Pode até planejar a sua jornada pelo site do Transport For Ireland – TFI. Por exemplo, o ônibus 901 da Matthews Coach Hire que sai da região do hospital Rotunda e deixa você em Dogheda. De lá, você precisa pegar o ônibus 163 para Brú na Bóinne operado pelo TFI Local Link Louth Meath Fingal.

Outra opção é contratar uma excursão. É só sentar e relaxar.

Um pouquinho de história

Senti que é preciso de um pouquinho de contexto antes de entrarmos nos pormenores de Newgrange, Knowth e todos os outros montes que formam Brú na Bóinne. Principalmente porque eu fiquei MUITO confusa enquanto pesquisava informações sobre a atração turística e enquanto estava lá no centro de visitantes, hahaha. A gente passa rápido pela pré-história na época da escola, então obviamente eu não me lembrava das nomeclaturas e especificidades da chamada Idade da Pedra. Pois bem. Os monumentos discutidos aqui são todos considerados construções megalíticas, ou seja, datados do período neolítico.

E se você quiser um pouco mais de infomação apenas para fixação, é legal lembrar que lá nos primórdios da civilização, os homens era nômades. Eles estavam sempre em movimento. É a partir do período neolítico que começa a sedentarização (lembram desse termo?), ou seja, a criação de assentamentos, a preocupação para ter onde morar, agricultura e o uso de ferramentas – simples, claro, de pedra polida.

A descoberta

Estudos mostram que Newgrange foi construída por volta de 3.200 a.C e, assim como Stonehenge, ninguém sabe ao certo o grande porquê de sua existência – mas existem as teorias. O lugar foi “descoberto” em 1699 por um fazendeiro, já que as construções estavam dentro de seu terreno. Como é de se esperar, ele mexeu no terreno para adequá-lo às suas necessidades, mexendo nas pedras de maneira descuidada.

Com o passar dos anos, tanto Newgrange quanto as irmãs, Dowth and Knowth foram utilizadas como depósitos e como minas, o que agravou a situação dos monumentos e acelerou a sua deteriorização. Foi somente a partir dos anos de 1960 que escavações arqueológicas finalmente começaram no local assim como processos de restauração e revitalização.

Newgrange tem cerca de 85 metros de diâmetro e 13 metros de altura, ocupando um espaço de aproximadamente 1 acre (ou cerca de três piscinas olímpicas, para melhor visualização) e com um formato de “fígado”. Ela não é a maior (Knowth é), mas acabou se tornando a mais famosa pela possibilidade de visitação interior. E é bom ressaltar que ali no vale de Boyne existem ainda outros 35 montinhos menores e que toda essa região é chamada de Brú na Bóinne.

As lendas

Reza a lenda que o nome de Newgrange vem de New Granary que significa, mais ou menos, um local na fazenda onde são armazenados grãos para alimentação animal. E, realmente, em determinado momento da história o monumento serviu para isso – lembra do fazendeiro?

Outra história bem aceita é que Newgrange deriva das palavras em gaélico para Caverna de Gráinne, uma referência ao mito céltico chamado The Pursuit of Diarmuid and Gráinner, que é a história de um amor proibido entre uma mulher chamada Gráinne, comprometida com Fionn MacCumhaill (líder dos Fionna), e o tenente braço-direito chamado Diarmuid. Conta o mito que um dia Diarmuid foi ferido em batalha e Fionn o deixou lá para morrer. O deus Aengus trouxe o seu corpo para Newgrange. Infelizmente, ele morreu por lá, assim como Gráinne que decidiu ficar lá dentro com ele.

Newsgrange, assim como todo Brú na Bóinne, também aparece na mitologia celta como An Brug, que significa mansão ou morada dos Tuatha De Danann, seres de outro mundo. O deus-chefe desses Tuatha De Danann era An Dagda (traduzido como deus-bom) e ele gerou um filho com a deusa Boann, do Rio Boyne. Esse filho era Aengus. Existem ainda outras histórias sobre ele e sua relação com o vale de Boyne, mas melhor não me alongar aqui. Algumas você encontra aqui.

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O motivo

O seu propósito é ainda foco de debates para pesquisadores, embora as duas teorias mais aceitas é que trata-se de um mausoléu (as tumbas de passagem) ou de um local para rituais. Já o alinhamento existente no solstício de inverno (calma, falaremos dele mais adiante) sugere que o local tem ligação com o calendário, com as estações do ano.

É sabido que as tumbas de passagens foram construídas por uma comunidade de fazendeiros que habitava a fértil região do vale de Boyne que hoje faz parte do condado de Meath. Os arqueologistas classificaram os monumentos como tumbas de passagem, mas hoje em dia estudiosos acreditam tratar-se de algo muito maior, como um templo, por exemplo. Afinal, existem aspectos astrológicos, espirituais e ritualísticos envolvendo as construções. O site oficial até usa um paralelo entre Newgrange e as catedrais de hoje, como locais de peregrinação e devoção.

Quando foi descoberta, foram encontrados dentro de Newgrange bacias de pedra com ossos humanos cremados. Além dos restos mortais, dentro das “urnas funerárias” acharam contas e pingentes, e moedas romanas. Muitos retirados do local bem antes do começo dos estudos e escavações arqueológicas. Quem sabe o quanto se perdeu? Bom, o que sobrou e não está no centro de visitantes do próprio local, está no Museu Nacional da Irlanda, no centro da cidade.

As artes neolíticias encontradas nas pedras que suportam e que circundam os monumentos são indicativos (ou melhor, sugerem) de que o povo que vivia ali, e que construiu as tumbas, vivia em uma sociedade organizada, com grupos específicos para cada um dos processos de construção. Estima-se que foi preciso pelo menos 300 homens e 20 anos para construir Newgrange, por exemplo. Tem um vídeo no canal Nostalgia, do Castanhari sobre A Vida de um Trabalhador da Pirâmide que é bem interessante e mostra mais ou menos as divisões dos trabalhadores em uma contrução desse porte. É bem interessante.

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E aproveita que já está na vibe do Youtube e vai lá se inscrever no canal do Voyajando Blog.

E digo mais – Brú na Boinne é reconhecida como lar da maior coleção de arte megalítica pré-histórica da Europa Ocidental, daí o principal motivo de ser reconhecida como um Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO. Uma das coisas que achei interessante é que muitas das imagens engravadas na pedra são famosos símbolos celtas (alguns você encontra aqui). Mas é importante dizer que os celtas vieram muitos, muitos anos depois.

Outro fato digno de nota é que as pedras brancas que circundam as tumbas de passagens são provenientes de Wicklow, outro condado irlandês, a cerca de 70 quilômetros de distância. Incrível, né? E se você não acha, deixa eu explicar. Essas pedras foram carregadas sem ajuda da roda ou de tração animal! A teoria dos estudiosos é que elas foram trazidas pelo mar e, depois, pelo próprio rio Boyne e que muitas delas estão ainda hoje enterradas.

Estima-se que ao todo foram trazidas cerca de 200 mil toneladas de pedras – e, digo mais, elas não foram só colocadas de uma forma a sustentar o telhado das tumbas como foram dispostas de modo a criar um sistema de drenagem complexíssimo que evitou que água se infiltrasse no interior da tumba nos últimos 40 séculos.

E gente, estamos falando de Irlanda, um país muito chuvoso. Isso é muito impressionante!

Visitando Newgrange e Knowth (e não Dowth)

Por que não Dowth? Porque a partir do Centro de Visitantes Brú na Bóinne você tem acesso apenas a Newgrange e a Knowth – por meio de um tour guiado e um ônibus que leva você para os dois monumentos. Ah, então eu posso ir sozinho? Não, não pode. Quer dizer, você pode ir até a frente do local e ver os monumentos a partir da estrada, mas não chega tão pertinho não. Já Dowth, pelo o que diz o site oficial, não tem visitação pública.

Dicas importantes. A primeira é para você comprar o seu ticket com antecedência – já que as vagas são bastante (repito: bastante) limitadas. A segunda é para você reservar bastante tempo por lá. Você não achou que eu escreveria uma matéria intitulada “bate e volta” se você precisasse apenas de 1 horinha visitando a atração, não é mesmo? Pois bem, voyajante, deixa eu explicar.

Além da visitação nas duas tumbas demorar cerca de 2 horas, existe ali no Centro de Visitantes um café (com um bolinho de cenoura bem gostoso), uma lojinha e uma super interessante amostra que explica tudo o que se sabe dos monumentos até hoje. Só fique atento, é claro, ao horário do seu ticket – já que você precisa estar no ônibus no horário combinado.

Só para você ter uma ideia – o centro de visitantes fica localizado no sul do Rio Boyne. As atrações ficam ao norte. Você atravessa o rio com suas próprias perninhas para ir pegar o ônibus.

Por fim eu diria para você ir com calçados confortáveis, já que circundar as tumbas quer dizer andar na grama e na terra. Você até sobe em cima de Knowth! E leve um casaquinho com você. Eu visitei o lugar em Março e estava ventando bastante – acabei comprando um lencinho para proteger o pescoço (porque já estava gripada também, haha) e, mesmo assim, choveu e abriu sol. Nada de novo na Irlanda, para dizer a verdade.

Importante:

Eles pedem que você não fotografe o interior de Newsgrange – por isso você não tem fotos da real camâra por aqui. Mas, lá na exposição do centro de visitantes, eles fizeram uma réplica que simula o solstício de inverno e você consegue ter uma pequena noção de como é a experiência. O corredor é estreito e não recomendado para pessoas claustofóbicas. Por esse motivo também que mochilas grandes não são aceitas – teve gente que deixou no ônibus.

Solstício de Inverno

Entre os dias 19 e 23 de dezembro, o sol nasce alinhadinho à “janela” ou à abertura localizada em cima na entrada principal de Newsgrange. Os raios de sol aos poucos vão tomando conta da passagem dentro da tumba, iluminando a escuridão ali dentro por exatos 17 minutos. Infelizmente, viver essa experiência na pele não é tão simples, já que a tumba de Newgrange não é tão grande.

Por isso, anualmente, é feito um sorteio e apenas 50 afortunados são convidados para ver de pertinho esse evento místico, memorável e, bom, único. Para você ter uma ideia, são mais de 30 mil pessoas tentando anualmente. É um grupo bem seleto aquele que consegue, eu diria. A gente se inscreveu por aqui – então mandem as suas energias positivas, quem sabe um dia eu venho atualizar essa matéria aqui com a experiência.

Deixa eu me explicar: Newgrange é muito grande sim, lembra que o seu tamanho é equivalente a três picinas olímpicas? O que eu quis dizer por “não é tão grande” é que a passagem que leva você para o interior da tumba é um estreito corredor de 19 metros. E apenas 1 vez por ano o sol nasce mais tarde, por volta das 9h da manhã, alinhado exatamente com a janelinha localizada acima da porta da tuma de passagem.

Incrível, né?

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Mas, vamos do começo. Solstício é uma palavra de origem latina e que significa “sol parado”. E antes que comecem os comentários terraplanistas, deixa eu me adiantar para dizer que, lá atrás, os estudiosos observaram bastante o sol e perceberam que todos os dias o sol nascia e se punha em alturas diferentes. Ele nunca fazia a mesma trajetória no céu. Até que em determinado momento do ano, voilà, ele fazia. Isso ocorre por conta da inclinação do eixo de rotação da Terra em relação ao sol e ocorre duas vezes por ano.

Solstício de Inverno é o “dia mais curto do ano”. Assim como o Solstício de Verão é o “dia mais longo”. Já escutou sobre isso, né? É basicamente o tempo em que o sol ilumina a gente naquele dia em específico. É válido ressaltar que o Solstício de Inverno na Europa é em Dezembro, enquanto no Brasil é em junho. Ao mesmo tempo que o Solstício de Verão no Brasil é em Dezembro e na Europa em Junho.


E aí, gostou da matéria? Espero do fundo do coração que ela te ajude de alguma forma a visitar Newgrange, que merece e muito a sua atenção. É um patrimônio da humanidade, oras! E se esse post de ajudou de alguma forma – não esquece de compartilhar com os amigos, fazer aquela indicação marota do nosso blog e, claro, seguir a gente nas outras plataformas como o Instagram e o Youtube. Dessa forma você ajuda a gente a crescer e nos incentiva a continuar escrevendo sobre as nossas aventuras por esse mundão. Muito obrigada!

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