Dicas de acomodação: trabalhando como camareira durante o intercâmbio

Todo mês, o grupo Viagens Por Escrito escolhe um tema novo para compartilhar conteúdo de qualidade nesta grande nuvem chamada internet. E a bola da vez de outubro é “dicas de acomodação”, ou seja, lugares incríveis que já tivemos a oportunidade de nos hospedar e que você, leitor, deveria fazer o mesmo. O que é bom é para ser compartilhado, não é mesmo? E a lista com as indicações dos blogs e seus temas está no final deste post!

Só o bom? Sim. Nós jamais indicaríamos uma furada para você, voyajante. Prova disso são os posts da Eurotrip (viagem de 35 dias que eu e o Gian fizemos em 2018 para celebrar o final do nosso intercâmbio de estudo e trabalho em Dublin, na Irlanda) onde todas as acomodações “arrependimentos” não foram citadas no decorrer dos textos. Quando o lugar era bacana, seja pela localização ou por todo o custo-benefício, o nomes está lá, firme e forte. Outro motivo de fazermos isso é: tudo no turismo tem a ver com pessoas. Às vezes a gente calha de estar em um lugar onde tudo está dando errado naquele dia, e por mais frustrante que isso possa ser, pode acontecer. Claro que esse pensamento não justifica muita coisa, viu? Como, por exemplo, má-educação.

E essa empatia – ou pensamento, chame como quiser! – floresceu muito depois que fui contratada como camareira part-time (meio-período) de um hotel aqui em Dublin. Trabalhei nessa posição durante quatro meses, sendo que em um deles – de férias da escola – eu trabalhei de forma integral. E decidi usar o tema do Viagens Por Escrito da vez para mostrar esse outro lado da acomodação para você como é o trabalho de housekeeper ou accommodation assistant em um hotel quatro estrelas. Vem comigo?


E se você quiser dica de acomodação aqui na Irlanda, ficamos em um hotel-castelo em Killiney e relatamos a experiência neste post aqui. Ah! E tem vídeo no Youtube também. Aliás, já se inscreveu no nosso canal?


A vaga

O trabalho de camareira (ou housekeeper ou accommodation assistant), em resumo, é exatamente o que você sabe sobre ele: limpar os quartos. Parece simples, não é mesmo? Mas, olha, não é não. Você tem que limpar, organizar de acordo com o padrão do lugar onde você trabalha, repor os amenities, toalhas e afins e, ainda por cima, tem tempo quase que cronometrado para fazer tudo isso. Ah! E até aqui estou falando de quartos vazios, ou seja, quando o último hóspede já foi embora e você vai prepará-lo para um novo. Existem ainda aqueles que são chamados de stay over, ou seja, você precisar arrumar COM as coisas dos viajantes lá dentro. Ou com eles mesmos lá dentro. Que, para mim, eram os piores.

Por quê? Porque existia uma regra no hotel onde eu trabalhava que nós não podíamos tocar nas coisas dos hóspedes, salvo quando estava em cima da cama ou no banheiro. Aí era tirar, arrumar a cama, e colocar de volta de uma forma caprichada. Mas, existem seres humanos que não são exatamente organizados. E está tudo bem. Férias são férias! Porém é mais desafiador arrumar um quarto pulando mala aberta ou pilhas de roupas no chão, sapatos jogados em lados contrários do quarto, e assim por diante. Uma vez eu tive que chamar uma supervisora para me ajudar a tirar a meia do indivíduo do aspirador de pó. Pois imagina todo esse corre-corre com o hóspede dentro do quarto.


Treinamentos

Existe, é claro, um treinamento antes de você assumir os seus quartos sozinhas. Sim, no hotel que eu trabalhava, as limpezas eram feitas de maneira solo – embora trabalhar junto com outra pessoa era muito mais divertido e rápido. Durante uma semana, eu seguia alguém mais experiente como uma sombra aprendendo por partes. Um dia era como limpar o banheiro. No outro era como arrumar o quarto. Depois, como fazer a cama. E assim por diante. No último dia você limpava o seu primeiro quarto sozinha e alguém supervisionava depois, apontando o que você poderia ter feito diferente ou melhor.

Com o passar do tempo, você vai conquistando mais prática e, é claro, isso vai agilizando o trabalho. Você já não se embanana toda em diferenciar qual lençol é king, qual é casal e qual é solteiro. Você fica mais esperta na hora de enrolar o fio do aspirador de pó. Você consegue decorar com mais facilidade quais os amenities, águas e cafés/chás que você precisa repor no quarto. Não digo que o trabalho fica fácil, porque em alguns dias parecia que um trator tinha passado em cima de mim e dado ré. Mas, ele vai ficando mais simples.

E fora esse treinamento relacionado ao trabalho em si, o hotel em que eu estava também oferecia treinamentos relacionados à segurança do trabalho. Então, o Manual Handling, que é basicamente um “como não ferrar a sua coluna enquanto trabalha com a gente, mas se você fizer isso, a culpa é sua”; teve um treinamento sobre trabalhos em altura; como usar os produtos de limpeza (nunca misturando, obviamente), e assim por diante. Ah! E teve um de como agir em casos de ataques terroristas. Nunca vou me esquecer desse. Lembro que fiquei chocada. Ainda estou, na verdade.

Say Yes To The Guest

Esse era o lema. Dizer sim para o hóspede, mesmo quando a resposta era não. Por questões óbvias de segurança, por exemplo, a camareira não pode abrir a porta do seu quarto para você. Não importa se sua esposa está esperando por você lá embaixo. Não adianta insistir. Outra coisa que também aprendi depois de trabalhar como housekeeper após alguns meses: as plaquinhas de porta são ESSENCIAIS. Sim, eu escrevi em letras maiúsculas porque elas são essenciais para o bom funcionamento da vida. Estou sendo dramática? Talvez. Mas, sério, se você for tirar um ensinamento de todo esse post é: use as plaquinhas na porta. Geralmente são três: uma que sinaliza um “não perturbe”; um que pede pelo serviço de quarto; e outra sobre lavanderia.

Sabe porque ela é importante? Porque a camareira não tem ideia se você está dentro do quarto ou não. Foram várias as vezes que eu bati na porta – a regra eram três vezes, igual o Sheldon do The Big Bang Theory – e ninguém respondeu. Então eu entrava para limpar e encontrava alguém dormindo na cama. Aí eu saia dando ré de fininho para não acordar o hóspede. E eu tive sorte! Muitas das minhas colegas de trabalho encontravam pessoas como vieram ao mundo e olha o constrangimento para todo mundo, não é mesmo?

As camareiras trabalham com total afinco entre os horários de check out e check in do hotel. Mas quando o hóspede vai ficar mais de uma noite, é complicado saber quando ele está dentro do quarto, quando ele já saiu para passear ou quando ele está no café da manhã. Por isso as plaquinhas são tão boas. Se você for sair, só deixar um “limpeza de quarto” e pronto. Se você vai dormir até tarde, é só colocar um “não perturbe”. Pronto. Simples, né?


Horários

Onde eu trabalhava, a maioria das camareiras atuava no horário da manhã. Quando eu estava na escola, eu entrava no período da tarde para limpar apenas os quartos remanescentes. Aqueles em que o hóspede pediu por late check out ou ele estava com placa de “não perturbe” pela manhã e retirou no período da tarde. E no início da noite, existia o trabalho de “abertura de cama” para os hóspedes do quarto andar, que eram os quartos de luxo do hotel. Quando eu escutei falar sobre esse tipo de serviço pela primeira vez, achei uma baboseira e julguei. Mas, mordi minha língua. É muito legal. A camareira entra no seu quarto para dar uma nova arrumada no banheiro, ela fecha as cortinas e liga os abajures para deixar tudo no clima comfy. Ai ela faz uma abertura do edredom da cama e põe um chocolatinho para você comer antes de dormir.

No geral, você tinha cerca de 40 minutos para limpar um quarto inteiro e menos para limpar os quartos stay over. Os quartos-família, que tinham três camas, acabavam demandando mais tempo – e todo mundo odiava pegar esses. Grupos são mais bagunceiros que viajantes individuais ou casais, isso é fato. Uma vez eu entrei em um desses e estava ocupado por um grupo de mulheres celebrando uma despedida de solteiro. Abri a porta e tinha uma faixa escrita “The Same Penis Forever” e vários apetrechos decorativos em formatos fálicos. Mas o que me desesperou mesmo foi a quantidade de glitter que tinha no chão, hahahahahaha. Que dia, senhores.


Outros causos

Teve tantos! Já fui subornada por comissária de bordo a trocar chocolate por mais creme de corpo no quarto; já tive que limpar quarto onde o hóspede estava com frio (e eu com calor) e ambientou o cômodo a 32 graus; já entrei em quarto que o hóspede trocou os móveis de lugar (e ninguém sabe o porquê); uma vez fui limpar um quarto em que o hóspede deixou para traz uma cesta básica – tinha picles, mostarda dijon, prosciutto crudo, sardinha – em cima da mesa, sendo que os quartos não eram equipados com cozinha… E por aí vai.

Acho que o causo mais especial foi que o hotel em que eu trabalhava foi escolhido como o hotel que receberia os cardeais da Igreja Católica quando estavam visitando a Irlanda e acompanhando o Papa Francisco na cidade. O andar inteiro em que eles estavam recebeu placas em italiano.

Dicas de acomodação

E, conforme prometido, aqui vão as dicas de acomodação dos outros blogs de viagem que fazem parte do Viagens Por Escrito. E tem tanto lugar bacana! Não deixe de acessar:

Experiência Barbara – Hospedagem em Manaus, Presidente Figueiredo e de selva
Descobrir ViajandoOnde ficar em Lisboa: melhores bairros
Mundo ViajanteOnde se hospedar em João Pessoa (PB)
Elizabeth WerneckOnde ficar em Aswan – Hotel Sofitel Legend Old Cataract
Viajante Colorido Melhores bairros pra se hospedar em Barcelona
De Lugar NenhumOnde se hospedar em Natal- RN
Classe TuristaComo escolher um bom hotel? Dicas para selecionar sua acomodação
Agarre o MundoMaldivas: dicas de hospedagem para uma lua de mel incrível

E para conferir todos os posts aqui do Voyajando que já escrevemos para o Viagens por Escrito, clica aqui!


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SOBRE NÓS

O Voyajando surgiu do sonho de criar um espaço para trocar dicas de passeios, restaurantes, hotéis e tudo o mais que envolve os pequenos períodos maravilhosos da vida que chamamos de viagens. São elas que nos proporcionam a possibilidade de descobrir novos universos, ter contato com outras culturas e outros jeitos de ver a vida. O Brasil e o mundo estão cheios de lugares incríveis. Vamos conhecê-los juntos?

VISITE O DUOMO DE MILÃO

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6 Comentários

  1. luciana mardegan

    Hahahaha! Adorei seu post e seus causos… sempre fico imaginando a vida corrida e as surpresas da vida das camareiras. Experiência incrível que você teve!

    Responder
  2. bacortat

    A melhor parte do trabalho de camareira são os causos. Vocês devia ser a estrelas dos happy hours!

    Responder
  3. keniamiranda

    Jeanine, que post sensacional.
    Sério, eu amei. Divertido, leve e instrutivo.
    Parabéns

    Responder
  4. Iza

    Acho que uma das experiências mais enriquecedoras é fazer um intercâmbio, ainda mais quando esse combina trabalho e estudo. Obrigado por compartilhar a sua experiência, abraços 🤗

    Responder
  5. robbacaravierienl

    Adorei o post e as dicas de acomodação trabalhando como camareira. Fazer intercâmbio deve ser muito enriquecedor. Um grande abraço!

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  6. ludimilarusso

    Que legal o texto e os causos! Muito boas as dicas de acomodação e trabalho durante o intercâmbio.

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