Roteiro Reino Unido: 1 dia em Bristol e os grafites de Banksy

Que grata surpresa foi Bristol, a maior cidade do sudoeste da Inglaterra! Ela corresponde ao 14º dia da minha Eurotrip, viagem de 35 dias que fiz – junto com o marido Gian – para celebrar o final do nossa intercâmbio em Dublin, na Irlanda. Antes de chegar aqui passamos pela Escócia, onde conhecemos Edimburgo e fizemos uma excursão para as Terras Altas do país, e de lá entramos em território inglês e visitamos Liverpool, Manchester (com direito a Old Trafford, estádio do Manchester United), Chatsworth House (residência que inspirou Jane Austen a descrever a Pemberley de Mr. Darcy ), Londres, Bath, Stonehenge e Cardiff, no País de Gales. Já tem post de todos esses destinos aqui no blog.

Como chegar em Bristol?

Ao contrário de todos os outros trechos da nossa Eurotrip que foram feitos de trem, nosso trajeto entre Cardiff, no País de Gales, e Bristol, na Inglaterra, foi feito de ônibus. Compramos passagens da National Express e saímos do Cardiff Central Bus Terminal por volta das 7h50 da manhã e chegamos no Bristol Bus & Coach Station às 9h20. Pertinho, né? Da rodoviária seguimos sentido à nossa acomodação para deixar as malinhas e começarmos a passear. Simples até aqui, certo? Certo. Mas vou ter que abrir um novo tópico para falarmos sobre o tema acomodação porque não eu poderia deixar este assunto passar batido aqui, hahahaha. Mas, se você não quer ver meu “drama”, só pular a próxima parte do post.

Que que tem a acomodação, Jeanine?

Preciso começar dizendo que foi a minha primeira vez em um hostel. Quer dizer, em um quarto compartilhado dentro de um hostel. Já tinha tido experiências em Santiago e em São Pedro do Atacama, ambos no Chile, mas naquela época eu e o Gian sempre optávamos por quartos e banheiros privativos. Ou seja, um hotel em um hostel. Minha principal motivação para tanto apego era o banheiro. Eu tinha pavor da ideia de compartilhar este cômodo com outras pessoas fora do meu círculo familiar. Mas, aí, caro leitor, o intercâmbio aconteceu e eu não poderia me dar o luxo – por questões financeiras, principalmente – de ter um banheiro só para mim. Já viu o preço dos alugueis em Dublin? Enfim, eu tive que aprender a dividir meu sagrado ambiente. E, sabe, não foi o fim do mundo? Claro que eu tive muita sorte de dividir casa com pessoas tão asseadas quanto eu no quesito higiene e limpeza. Feito este gigantesco parêntese, vamos voltar à Bristol.

Embora a minha questão com o banheiro tivesse sido superada, nem eu e nem meu digníssimo marido (que na época era namorado) paramos para pensar em outro ponto: compartilhar quarto. Que agora, ao meu ver, é o novo cômodo sagrado. Veja bem, caro leitor, eu não sou filha única. Eu passei anos da minha vida dividindo quarto com a @jenifercarpani. A gente quase se matou no processo? Talvez. Tanto que nossos pais se deram por vencidos e ergueram umas paredes lá em casa para resolver o problema. Mas eu nunquinha tinha dividido o meu espaço de sono dos justos com mais vinte pessoas. Exagero, não. Tinham VINTE pessoas naquele quarto. Assim que eu abri o quarto e me deparei com aquele cenário, confesso que uma lágrima solitária escorreu pela minha bochecha direita.

Ai, Jeanine, que frescura! Talvez seja, talvez não. Deixa eu colocar o que eu senti aqui naquele momento: existem outras formas de começar a ficar em um hostel. Eu poderia ter ficado em um quarto menor, em um quarto feminino ou ainda em um quarto com cortininhas que dão privacidade no leito. Como a gente nunca tinha se hospedado em um hostel no modo compartilhado, escolhemos tudo errado para uma primeira vez. Assim que eu atravessei o batente da porta, meu radar mulher começou a apitar e eu senti desconforto. Até medo. Mesmo que eu tivesse com o Gian junto comigo. E esse é o meu ponto aqui. O quanto vale a sua tranquilidade? Eu não descansei aquela noite. Dito tudo isso, eu sei que estou dando a impressão de que eu odeio hostel, mas não. Depois do choque inicial de Bristol, tive experiências bem legais em Amsterdã, Budapeste e Reykjavik, na Islândia.

Ok, e Bristol?

E sabe qual é a melhor coisa da maioria dos hostels? A localização! Eles são centrais e muito bem posicionados na cidade em relação aos pontos turísticos. E em Bristol foi assim. Depois de deixarmos nossas malinhas de bordo no quarto superpopuloso, partimos para turistar a cidade. Como mencionei no último post da Eurotrip, em Cardiff, depois de deixar o Reino Unido nós iríamos para o Marrocos. E como não há voos todos os dias para o país localizado no norte da África, decidimos pernoitar e visitar Bristol que, afinal, é a maior cidade do sudoeste inglês. Logo, não sabíamos muito bem o que esperar do local em relação a turismo, a única coisa que eu sabia da cidade é que Banksy havia surgido ali.

E quem é Banksy?

A Superinteressante chama de “o anônimo mais famoso do mundo”. E é meio que isso mesmo. Banksy é um artista de identidade desconhecida, ninguém sabe o nome da pessoa física por traz dessa “marca”. Ele (ou ela, quem sabe?) iniciou sua trajetória nos anos 80 e, como sempre, antes de suas obras serem consideradas artes, elas eram pichações. Banksy começou a chamar atenção não só pelo seu mistério, mas pelo teor de suas pinturas feitas com estêncil: são trabalhos que contém ironia e impregnados de temas sociais e políticos. E já que eu ia pernoitar na cidade onde o artista supostamente começou, por que não incluí-lo em nosso roteiro por lá? Ele é motivo de orgulho nacional (sim, nível país)! Tanto que um de seus grafites, chamado Rose on a Mousetrap fica em uma simpática área residencial e os próprios moradores fizeram uma vaquinha para proteger a obra de possível vandalismo. Fofo, né?

Enquanto montávamos o nosso roteiro na cidade encontramos o post da Justine Jenkins do Wanderer of The World. Lá ela disponibilizou três rotas – ou walking tours, como chama – com as obras de Banksy em Bristol para você escolher de acordo com a vontade, disponibilidade e tempo na cidade. Com isso em mãos, eu e o Gian unimos um dos trajetos sugeridos por ela com o que gostaríamos de ver na cidade e seguimos com um bem-bolado entre os dois. Vale ressaltar que, cara, são grafites. Embora hoje Banksy seja considerado um gênio e suas obras valem rios de dinheiro, no começo a coisa tinha que ser na surdina. Então você não vai achar todas as suas pinturas em paredes no centro da cidade, mas em locais escondidos e periféricos. Tá bem? Então tá bem.

Então, sigam-me os bons!

Roteiro de 1 dia em Bristol

Como você já viu, nós não passamos um dia inteiro em Bristol, porque até fazer o check-in no hostel e deixar as malas por lá, demorou um pouquinho. Então, na parte da manhã, fizemos apenas o Museu da Cidade de Bristol e a Torre Cabot. Aí almoçamos e seguimos para o Habourside que fica ao longo do Rio Avon, centrinho de onde a cidade cresceu devido a importância histórica e econômica do porto e das docas. O dia seguinte seria “meio morto” porque pegaríamos um ônibus até o Aeroporto de Londres para seguirmos viagem. Foram 5 horas e 45 minutos de deslocamento, e como passaríamos à noite dentro do aeroporto – o que eu não recomendo, por sinal – para pegar o voo para o Marrocos, tínhamos que organizar as malinhas certinho e fazer o check-out. Tudo isso para explicar para você porque não teve “dia 2” em Bristol, só 1 mesmo.

Museu da Cidade de Bristol e Galeria de Arte (Bristol Museum & Art Gallery)

Foi a primeira atração turística que visitamos na cidade. E pensa em um lugar que tem de tudo? Com entrada gratuita, o Museu da Cidade de Bristol conta com três andares e em cada um deles tem diversas coisas para ver e fazer. Um dos destaques já está bem no hall principal, no térreo, que eles chamam de Front Hall. Se você olhar para cima vai ver “voando” um Bristol Boxkite, a primeira aeronave (biplano) produzida pela British and Colonial Airplane Company. Foi um dos primeiros modelos a ser fabricado em massa por volta de 1911. Ali nós vimos também uma exposição sobre o Egito Antigo, uma mostra sobre os assírios e uma antiga civilização do Oriente Médio.

No primeiro andar a gente viu uns esqueletos (pode chamar assim, produção?) de dinossauros e uma exposição de animais selvagens que estão em extinção pelo mundo. O Museu conta ainda com uma mostra de fósseis e de minerais (como pedras preciosas e cristais). Já no segundo plano está a Galeria de Arte. Além das pinturas e quadros da exposição em cartaz no momento (na nossa visita, eram pintores japoneses como Katsushika Hokusai), você encontra ali também uma das melhores coleções de vidro chinês fora da Ásia.

Torre Cabot (Cabot Tower)

Saímos do museu e fomos em direção à Torre Cabot que fica dentro do Brandon Hill, uma pequena colina que proporciona uma bela visão de Bristol. Ele é também o parque mais antigo da cidade. A visão fica ainda melhor se você sobe na Torre, mas aí é preciso de fôlego porque ela é alta e em alguns momentos os degraus ficam mais estreitos. Mas é possível, eu subi. Fiquei meio “oxê” porque o acesso é livre, só chegar-chegando. Hahahaha. Fiquei com aquela sensação de que a linda Torre Cabot, construída em 1897 para homenagear os 400 anos da viagem de John Cabot ao Novo Mundo (o atual Canadá), deveria estar sendo tratada com mais cuidado.

Catedral de Bristol (Bristol Cathedral)

A gente almoçou nosso meal deal (um sanduíche rápido do mercado para poder aproveitar mais da cidade) sentados em em um banco da praça da prefeitura (City Hall) olhando para a Catedral de Bristol, datada do século XII. Nada mal a visão, né? O dia ainda estava ensolarado e bonito então nós e todo mundo fomos para lá fazer a mesma coisa. Vale lembrar que isso é cultural: os ingleses não almoçam como nós brasileiros fazemos. Para eles almoçar é sinal de sanduiche porque eles não fazem uma hora de almoço.

M Shed

Descemos da colina e andamos sentido Habourside, que é a área do porto. É lá que está o M Shed, um museu moderno que tem como objetivo mostrar como o tempo moldou Bristol. A entrada é gratuita e lá dentro o acervo reúne fotos e vídeos que contam as histórias de pessoas e lugares da cidade, bem como os costumes. Nós entramos, principalmente, porque é lá dentro que está a obra Grim Reaper de Banksy e ela tem uma história interessante. O artista pintou esse grafite no casco de aço de um navio que funcionava como casa noturna por volta de 2003. Mas o grafite estava se deteriorando e, com o passar dos meses poderia desaparecer para sempre. E como Banksy é Banksy foi feito todo um trabalho para remoção do casco. Junto com o grafite tem um pequeno filme mostrando como eles fizeram isso.

E vale ressaltar que todo o entorno do M Shed já é uma atração turística, já que está localizado perto das docas de Bristol. Ali você encontra gigantescos guindastes, um a vapor, datado de 1878 (é o mais antigo em exposição na Grã-Bretanha), e outras quatro elétricos construídos para carregar e descarregar navios durante o apogeu comercial da cidade, nos anos 50. Tem também os trilhos e os vagões de trem e, é claro, os barcos. Diante de tudo isso, vale ressaltar que entre os séculos XIII e XVIII, Bristol foi uma das cidades mais ricas do Reino Unido já que seu porto era muito utilizado para aqueles que deixavam a ilha em busca do Novo Mundo. É claro que esse apelo trouxe muita gente para a cidade que teve a sua economia aquecida.

SS Great Britain

Se você der uma caminhada pelo porto vai encontrar o SS Great Britain. Trata-se de uma embarcação que ficou conhecida por ser o primeiro navio de ferro a vapor a cruzar o Oceano Atlântico, ou o primeiro grande transatlântico do mundo. Ele foi projetado pelo engenheiro Isambard Kingdom Brunel, o mesmo da Ponte Suspensa de Clifton (que está mais adiante aqui no texto). Hoje, ele fica ancorado ali no Rio Avon e funciona como uma atração turística.

E para desculpar a ausência de imagem – que aparentemente nenhum de nós dois teve a capacidade de tirar o celular do bolso para o um clique – encontrei um tour virtual do navio. Então para você poder ver do que se trata e decidir se quer ou não ir, vale acessar este link aqui.

Pero’s Bridge

A Pero’s Bridge recebe este nome porque trata-se de uma homenagem a Pero Jones, um homem africano escravizado que viveu na cidade. Aqui é importante lembrar que não eram apenas viajantes e cargas que passavam pelos portos de Bristol, existia ali um “mercado” de escravos. A ponte foi inaugurada em 1999 e atravessa o Rio Avon. Ela possui um mecanismo de elevação para passagem de embarcações, por isso o par de esculturas em suas laterais que se assemelham a chifres – são, na verdade, contrapesos.

Pero’s Bridge

Ponte Suspensa de Clifton (Clifton Suspension Bridge)

Se você jogar “Bristol” no Google, é a imagem desta ponte que você vai ver primeiro. Pode ir lá, eu espero. Hahaha. A Ponte Suspensa de Clifton possui 412 metros de comprimento e liga as duas margens do Rio Avon – para atravessá-la a pé ou de bicicleta não tem custos. Ela foi inaugurada em 1864 e dá para ter uma boa visão da construção do Clifton Observatory, que inicialmente era um moinho de vento para milho. Hoje ele é um estúdio de arte e uma câmera obscura que é possível visitar. Nós ficamos ali fora mesmo vendo o pôr-do-sol. É deslumbrante. Ah! E vale ressaltar que a ponte é mais afastada do centro histórico. Eu e o Gian fizemos – como sempre! – o trecho a pé, mas vimos muitas pessoas passando por nós de bicicletas (mesmos que tenha uma elevação).

Extra: balões, balões e balões

Quando estávamos voltando de um dos grafites do Banksy olhamos para o céu azulzinho – muito diferente do que vimos em Londres no nosso último dia – e vimos balões. Sim, no plural. Fui pesquisar sobre e descobri que a cidade é palco do maior evento de balonismo da Europa, o Bristol Baloon Fiesta. Mas se você não estiver por lá durante o festival, tá tudo bem. É possível fazer o passeio durante todo o ano. Para nós, não foi dessa vez (por isso que é um extra!), mas fiquei com vontade!

Igreja de São Pedro

Bom, era uma igreja. Ela ficou assim, em ruínas, após bombardeios durante a Segunda Guerra Mundial. Não tiramos muitas fotos porque achei triste. O templo foi deixado dessa forma de maneira proposital como forma de homenagear àqueles que perderam suas vidas por causa do conflito. Em volta há um jardim muito bonito e é comum as pessoas levarem flores artificiais vermelhas, conhecidas como papoulas, como sinal de respeito a essas vítimas. Ficamos por ali até dar o horário de pegar o ônibus sentido o Aeroporto de Londres. Foi a única atração que visitamos no dia seguinte, que aproveitamos para ver lojas e passear mesmo, sem pretensão – na verdade, comprei uma calça hahaha. Não tinha cabimento eu fazer um post novo da Eurotrip para falar somente isso, não é mesmo? Hahaha

Cara de quem passou a noite inteira no Aeroporto de Londres papeando com outro brasileiro e enganando o sono

E assim termina o Roteiro Reino Unido da nossa Eurotrip de 2018. O 15º dia foi somente de necessária locomoção. O próximo destino? Marrocos, onde pegamos um pacote de 5 dias para conhecer o Deserto do Saara, uma das experiências mais indescritíveis da minha vida. Espero por você!

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