Como foi a entrada na Itália durante a pandemia para o processo de cidadania italiana

Entrar na Itália para fazer o reconhecimento da Cidadania Italiana em tempos “normais” já é um assunto que rende nos grupos de Facebook que falam sobre o tema. Isso porquê não há um visto específico para quem vem ao país fazer o reconhecimento. Você entra como turista e, enquanto turista, você faz a residência no país e dá entrada no processo de cidadania. Imagine você então, caro leitor, como foi entrar na Itália durante a pandemia, enquanto o país proibia pessoas que chegavam diretamente do Brasil. E esse é o tema do relato de hoje.

  • Hey voyajante! Só um lembrete: todas as matérias aqui do blog sobre o reconhecimento da cidadania italiana foram feitas com base na nossa experiência com o nosso processo administrativo, feito diretamente em uma comune da Itália. Cada caso é um caso, e nenhum processo de reconhecimento é igual ao outro (nem o meu e o da @jeaninecarpani foi). Para ver os demais posts que já fizemos, clica aqui.

A ida pela Croácia

Contei nesse post aqui como foi a primeira parte do processo de reconhecimento da Cidadania Italiana no Brasil. Abordei os dois anos de busca por documentos, as retificações e tudo o mais que envolveu essa parte do processo no nosso país. Também falei um pouco sobre o desafio que é encontrar uma casa para morar aqui na Itália, para fazer o reconhecimento da cidadania.

O que faltava então? Ir para a Itália. Passagens compradas e tudo certo para fazermos o nosso reconhecimento na região do Vêneto, em um comune e uma casa que o Bruno havia encontrado para nós. Tempo de processo bacana, já havíamos falado com a oficial e já tínhamos uma casa lá bem legal. Aí veio a pandemia, as fronteiras fecharam em março e nossa passagem foi cancelada, claro…. e aqui vem uma pausa de espaço-tempo de sete meses de quarentena em Suzano (SP), na casa dos meus pais.

Aproximadamente meio ano depois, tudo havia mudado. A casa no Vêneto já havia sido alugada e nos grupos de Facebook nós estávamos acompanhando as pessoas que estavam conseguindo chegar à Itália por meio da Inglaterra e da Croácia. Esses países haviam aberto as fronteiras para pessoas que estavam no Brasil, por meio de algumas regulamentações como quarentena de 15 dias em um endereço na Inglaterra; ou teste PCR negativo para COVID, para entrar na Croácia. Além disso, a Itália aceitava pessoas – até mesmo para turismo – que viessem desses e de outros países da União Europeia.

Nós saindo do Brasil rumo à Croácia e depois, finalmente, à Itália

A gente não sabia quanto tempo mais a pandemia ia durar e estávamos com medo de perder todo o investimento em documentos que já havíamos feito (o post de quanto custa a cidadania italiana é um dos próximos da série). Pesamos todos os prós e contras de viajar em uma pandemia – respeitando, claro, todas as regras de todos os países envolvidos – e decidimos ir para a Croácia no início de outubro. Os principais motivos dessa escolha foram: a moeda da Croácia (mais econômica para nós do que a libra inglesa) e a possibilidade de passear enquanto esperávamos os 15 dias de “distância do Brasil”, exigidos pela Itália.

No entanto, estaríamos desalojadas quando chegássemos finalmente na Itália. Logo, precisávamos de uma casa nova. Foi quando a Jeanine resgatou o contato que já havíamos feito antes com a Luciana Quadro Canassa, que nos ajudou a alugar uma casa na região do Piemonte, na Itália, para a data que precisávamos (contei no post da parte Brasil). Tudo certo: Croácia e depois Itália, lá vamos nós.

Já contamos aqui no Voyajando como foi:

O que não contei ainda foi a nossa ida da Croácia para a Itália. Então bora para o infame episódio com a Flixbus que fomos expulsas do ônibus.

Expulsas do ônibus

Tenho até que respirar fundo antes de escrever essa parte do texto, hahaha. Mas, vamos lá. Como disse ali em cima, estava tudo certo para a nossa chegada na Itália. Nós cuidamos de seguir todas as regras de imigração; tudo certo para entrar na Croácia (teste negativo para Covid, seguro viagem, reservas de hospedagem, dinheiro para todo o período) e mesmo assim passamos aquele perrenguezinho que contei no primeiro post sobre o país. Também, lógico, estávamos com tudo certo para a entrada na Itália, e até o contrato feito em nossos nomes para o aluguel da casa nós já tínhamos.

Pois bem. Compramos passagens da Flixbus para ir da Croácia à Turim, na Itália. Tudo certo! Pegamos o ônibus em Zagreb com destino à Rijeka (ainda na Croácia), onde seria a nossa primeira parada. E aqui já tivemos uma surpresa com relação ao péssimo serviço dessa empresa. Resumidamente, em uma parada que o ônibus fez para os passageiros irem ao banheiro e comerem alguma coisa, o motorista e o ajudante simplesmente quase deixaram uma menina para trás. Ela era croata e estava viajando sozinha, no banco ao nosso lado, e ela só não ficou lá para sempre porque eu e a @jeaninecarpani percebemos que ela não estava no ônibus – e que todas as coisas dela estavam lá – e avisamos o motorista para ele voltar até a parada para buscá-la – sim, o ônibus já havia saído.

De boa na primeira parte do trajeto saindo de Zagreb. Sabia de nada, inocente.. kkkcry

Esse já foi o primeiro sinal do que estava por vir. Chegamos em Rijeka e lá ficamos por cerca de três horas, que era o tempo de espera até o próximo ônibus. A sorte é que tomamos um café por ali e conseguimos a senha e um sinal de WIFI que nos salvou dali a pouco. Na hora de entrar no ônibus, após já termos colocado as malas no bagageiro, o ajudante do motorista nos perguntou se estávamos com a documentação toda (porque o ônibus passaria pelas fronteiras da Eslovênia e da Itália), e dissemos que sim. Aí ele pediu para ver o passaporte enquanto perguntava de onde nós éramos. Nessa hora, mal deu tempo de falarmos “Brasil” e, assim que ele viu os passaportes, começou a GRI-TAR – no meio da rua/rodoviária, sei lá como chamam aquilo“BRASILIANO NO. LISTA F. BRASIL NO”, repetidas vezes (e em negrito que é pra ressaltar o drama aqui kkkk). E o motorista se juntou ao coro para, juntos, impedirem a gente de embarcar no ônibus, tirarem nossas malas dos bagageiros e colocarem no meio da rua e nos deixarem lá, às 9h da noite. Fim.

Foi um pe.sa.de.lo. a @jeaninecarpani nem quis escrever esse texto por causa do gatilho emocional, hahahaha. Tô rindo, mas de desespero. Que situação absurda, sério. Argumentamos de TODOS os jeitos, em todas as línguas que sabíamos, que a regra da querida Lista F era para viajantes que haviam saído do Brasil nos últimos 15 dias e não para brasileiros. Eu não sei por quê, naquele dia – e em outros dias também, soubemos nas semanas seguintes – esses dois cismaram de impedir os brasileiros de entrarem na Itália, sendo que estavam, logicamente, errados como provaremos a seguir.

Enfim. Fim da tour. Lembra do WIFI lá em cima que eu falei que era importante? Pois bem, fomos procurar consolo cibernético e avisei o Bruno que não havíamos embarcado. Ele acionou a Luciana e logo estávamos os quatro em ligação tentando ver como íamos fazer para, às nove horas da noite, resolver a nossa situação. Não tinha solução naquela hora, né? Então desligamos e fomos atrás de um hotel para passarmos a noite, achamos um ali na “rodoviária” mesmo e lá pernoitamos.

FINALMENTE: A ENTRADA NA ITÁLIA

Para tentar resumir essa tour nada resumida – mais um post gigante, sorry, not sorry – conseguimos fechar com a empresa Go.Optiessa sim, eu recomendo – para sair de Rijeka e nos levar até Trieste, já na Itália – passando, claro, pela Eslovênia. No dia seguinte, embarcarmos na van e o motorista nos levou para a fronteira da Eslovênia, que não foi difícil, mas também não foi tranquila. Mostramos toda a documentação e o contrato que tínhamos em nosso nome e os oficiais pediram para o motorista encostar e esperar. Foram quarenta minutos de ansiedade dentro da van, sem notícias sobre se poderíamos ou não entrar no Espaço Schegen. Eles haviam ficado com nossos passaportes e o nosso contrato esse tempo todo mas, no fim, deu tudo certo e após verificarem uma mala de cada novamente, os passaportes foram carimbados e seguimos viagem.

Nisso, com essa espera – não esperada – de 40 minutos a mais, perdemos o trem rápido que nos levaria até Milão, saindo de Trieste. Chegamos na Itália sem sinal de celular e não conseguíamos nem avisar ninguém que tinha dado certo (consegui depois um celular emprestado só para avisar que estávamos vivas e que trem íamos pegar). Aliás, nem nós acreditamos que tinha dado certo – porque os motoristas da Flixbus, vejam vocês, nos fizeram duvidar que estávamos fazendo algo dentro da lei. Com o alívio estampado no rosto, seguimos para mais uma parte absurdamente cansativa da viagem até o Piemonte: 15 horas de trem regional, com três trocas de trem (com três malas cada uma totalizando uns 60 kg para cada). Viramos a noite viajando e trocando de trens, carregando as malas para a troca de plataformas nas estações. Foi um perrengue não-tão-chique bem louco

Mas chegamos! Combinamos com a Luciana de descer em uma das estações de trem do Piemonte e ela estava lá para nos buscar. Até hoje a gente lembra com carinho do abraço que recebemos dela porque, além de tudo, ele significava que havia dado tudo certo e que havíamos, finalmente, chegado.

A Luciana, que nos resgatou e nos acolheu durante todo o processo na Itália!

Esse era só o começo da nossa vida na Itália. Chegamos bem na nossa casinha e, a partir dali, fomos guiadas pela Luciana e pela Verônica (nossa intérprete) em todos os passos da nossa caminhada rumo ao reconhecimento da cidadania. Mas isso já é assunto para o próximo post da série! Até lá!

PS: Sobre a Flixbus

Com esse post já pronto, voltei aqui só para acrescentar uma observação sobre a Flixbus. Sei que muita gente viaja com eles pela Europa e, realmente, é uma das opções mais econômicas. No entanto se eu puder, não farei outra viagem com eles tão cedo. Além de tudo o que aconteceu na nossa viagem e de terem deixado a outra menina para trás sem o menor pudor (simplesmente porque não contaram direito os passageiros antes de sair), também soubemos que várias pessoas que fizeram o mesmo trajeto que nós nas semanas seguintes e também foram ilegalmente impedidas de embarcar. Ou seja, a prática ilegal da empresa e dos seus funcionários continuou.

Fizemos uma reclamação formal com a Flixbus, que retornou dizendo que essa atitude do motorista foi “inadmissível” e depois pagou pelas passagens da Go Opti e dos trens que pegamos para chegar em Turim. No entanto, se recusou a pagar nossa hospedagem em Rijeka, além dos demais custos como alimentação que tivemos porque fomos impedidas injustamente de embarcar. Para a reclamação enviamos para eles, além do contrato da casa registrado pelo comune, nossa Declaração de Presença emitida pela questura (polícia) da Itália provando que podíamos estar ali e que nossa entrada era legal.

Enfim, não recomendamos a viagem com a Flixbus para ninguém. O Bruno e o Gian também vieram da Croácia para a Itália, mas viajaram por outra empresa de ônibus e, com eles, deu tudo certo!

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