Reconhecimento da Cidadania Italiana: como foi o nosso processo (Parte Brasil)

Para quem está chegando agora, oi, eu sou a @jenifercarpani. E sou cidadã italiana, reconhecida na Itália, no louco ano de 2020. Eu e a @jeaninecarpani viemos para cá no fim de outubro e fomos reconhecidas no final de dezembro (no post sobre a parte Itália, compartilharemos todas as datas aqui com vocês). Pensamos muito sobre se escreveríamos ou não sobre esse assunto aqui no blog, mas decidimos que se pudermos ajudar pelo menos uma pessoa que sonha em reconhecer sua cidadania, já terá valido o relato.

Então.. senta que lá vem história! (E é história mesmo, se você não tá afim e quer dicas mais práticas, pule para os demais posts da saga que virão a seguir).

  • Hey voyajante! Só um lembrete: todas as matérias aqui do blog sobre o reconhecimento da cidadania italiana foram feitas com base na nossa experiência com o nosso processo administrativo, feito diretamente em uma comune da Itália. Cada caso é um caso, e nenhum processo de reconhecimento é igual ao outro (nem o meu e o da @jeaninecarpani foi). Para ver os demais posts que já fizemos, clica aqui.

Lembro muito bem quando comecei a me interessar pela possibilidade de reconhecer a Cidadania Italiana. Estava na academia, no intervalo das sessões entre os aparelhos, quando vi um post no Pinterest de uma menina que tinha acabado de reconhecer sua cidadania, chamando de “saga”. Achei engraçado o uso da palavra e, no começo, até achei um exagero. Mas assim que li o texto percebi que o emprego dessa palavra para descrever todo o processo é bem coerente.

Isso aconteceu lá pelos anos de 2017/2018. Na época, até sabia de um Paolo Carpani que estava nas listas do Museu da Imigração de São Paulo, sabia que tinha descendência. Mas por puro desconhecimento, não entendia muito bem se tinha direito à cidadania italiana e muito menos como poderia fazer tudo isso. Comecei a fuçar um pouco no assunto, mas depois deixei “morrer”.

O reconhecimento da nossa cidadania italiana começou ainda no Brasil
Até visitei o Museu da Imigração em São Paulo em busca de pistas!

Quem já viveu essa saga sabe: precisa querer muito – ou ter acesso fácil aos documentos. Sem o desejo real de querer reconhecer, provavelmente você não vai se empenhar o suficiente para encontrar os documentos, se planejar financeiramente e viver a montanha-russa que é todo o processo. Claro que tudo isso – e todo o mais que vamos falar por aqui sobre esse assunto – é com base unicamente na nossa experiência; mas o que podemos ver do processo é que muita gente simplesmente acaba desistindo no caminho. Existem também as pessoas que encontram os documentos facilmente – ou alguém passa para a pessoa onde estão as coisas – mas ainda assim depende bastante dela dar andamento à segunda parte dessa saga (que aqui chamamos de Parte Itália).

Parte Brasil

Após deixar então o assunto se perder na lista de “amanhã eu vejo” (até porque na época ninguém na minha família se empolgou comigo, kkkkkcry), a @jeaninecarpani foi para Dublin fazer um intercâmbio (que ela já contou aqui no blog). em 2018 Logo na imigração, o oficial perguntou porque ela não estava ainda com o passaporte italiano dela, já que o sobrenome Carpani deixava clara a nossa origem. Era só o primeiro indício que ela teve de que deveríamos – sim – ir atrás desse reconhecimento. Logo depois, ela viveu os altos e baixos de um imigrante intercambista em Dublin e percebeu que a cidadania europeia – e consequentemente um visto permanente – daria muito mais oportunidades para ela de trabalho e moradia na capital da Irlanda, do que o visto de estudante possibilitou na época.

A busca pelos documentos

Foi aí que ganhei uma aliada na busca pelos documentos. Ela pesquisando da Irlanda, e eu do Brasil. Não sabíamos quase nada sobre o italiano em questão e meu vô, que estava vivo na época, não lembrava muito bem das histórias que ouvia quando era criança. Foram tantos altos e baixos nessa busca que já nem sei mais. Noites e finais de semana revirando páginas e páginas de pesquisa do Google, do Family Search, de cartórios e muito mais.

A nossa felicidade era tipo essa quando chegavam os documentos!

Para resumir o nada resumido relato: foram meses de busca, entrevista com minha mãe, meu avô – até eles cansarem da gente, kkkkk. Eu e o Bruno quase viramos noites procurando documentos na internet. Foram vários desencontros, tipo o Paolo Carpani que estava na lista de imigração do museu não era o mesmo que o nosso (o que nos fez buscar por datas e locais completamente errados por um bom tempo). Qualquer novo indício, nova cidade que meu avô se lembrava, lá íamos nós atrás do cartório. Mandávamos e-mail, ligávamos, pagávamos buscas. Em paralelo, pagamos pela emissão em inteiro teor de uma das certidões do meu bisavô e lá constava – graças ao Universo – a indicação da cidade de onde o pai dele, Paolo Carpani (nosso italiano), havia nascido.

Cada pequena vitória como essa era motivo de muita celebração por nós. Era como se um passo a mais fosse dado, sabe? Mas o caminho ainda era longo, sabíamos porque já havíamos lido as etapas do processo e vários relatos como esse que estou fazendo agora.

Faltava descobrir a data de nascimento dele para pedir o documento à comune (cidade italiana) de Ascoli Piceno, na Itália. Encontrei uma listagem na internet com os nascimentos naquela cidade separados por ano e, calculando mais ou menos a idade que o Paolo tinha quando o José (nosso bisavô) nasceu, conseguimos limitar a um número de anos. Aí começamos a olhar foto por foto, cada um dos nascimentos que tiveram nessa cidade naqueles anos. Eis que em uma noite X, achei o documento aqui embaixo. Esse dia também foi de grande comemoração.

Imagina a emoção que sentimos quando encontramos esse registro na internet!

Na mesma noite, enviamos um e-mail para essa comune pedindo a certidão de nascimento e casamento do Paolo e rezando para eles um dia nos responderem – várias comunes não respondem e achamos relatos no Facebook que essa era uma delas. Continuamos correndo atrás dos demais documentos – porque esse era só o começo da saga – e eis que cerca de três semanas depois: chega um e-mail todo em italiano com simplesmente o documento de nascimento e casamento do Paolo.

Parece pouco, mas quem vive o processo sabe o quanto tudo isso é motivo de, de novo, comemorar, kkkk. A partir daí já havíamos achado alguns cartórios no Brasil por onde minha linhagem tinha passado – sim, para “facilitar”, o pessoal resolveu migrar bastante e tivemos contato com uns seis cartórios diferentes para pegar todos os documentos (nascimentos, casamentos e óbitos). Sabíamos também que precisaríamos do documento original emitido pela comune na Itália e apostilado na prefeitura da cidade, para que o cartório do Brasil fizesse a retificação dos erros, algo que é bem comum já que grande parte dos documentos registrados em cartórios contém erros de grafia e/ou informações.

Vou até começar um novo parágrafo para contar que aqui começou a grande ajuda que tivemos. Já estávamos em setembro de 2019 quando encontrei a Camilla Saldanha em um grupo que tínhamos em comum de perfis de viagens no Instagram. Na época, ela morava perto de Ascoli Piceno e se prontificou a nos ajudar indo até a comune, retirar os documentos e levar na prefeitura para apostilar e enviar para nós no Brasil. Até hoje a gente não tem nem como expressar tamanha gratidão. De verdade, obrigada, Camilla!

Bilhete cheio de amor que recebemos da Camilla!

Retificações de Documentos

Nossa pretensão era vir para a Itália em fevereiro/março de 2020. Então a correria começou. A próxima etapa era arrumar os documentos. Então precisávamos entrar em contato com cada um dos seis cartórios e seguir as orientações de cada um (que são diferentes, já que cada cartório escolhe o que quer fazer…) para poder retificar todos os erros das certidões. Fora arcar com todos esses custos de retificação, Correios e buscas, mas isso é uma outra e enorme história. Vou falar melhor sobre esse processo de retificação no post sobre “por onde começar” na parte Brasil da Cidadania Italiana, mas só quero pontuar aqui que tivemos também a sorte porque todos os cartórios aceitaram fazer as nossas retificações via administrativa, o que acabou acelerando o processo – a judicial pode demorar bem mais.

Claro que tivemos contratempos nas retificações dos documentos. Alguns cartórios tinham burocracias maiores que outros e também tivemos que enviar para um algumas leis referentes às retificações para que desse prosseguimento.

O óbito do italiano

Na reta final do ano de 2019 – e também do nosso processo parte Brasil – havia uma questão que nos tirava o sono: não encontrávamos de jeito nenhum o óbito do italiano, o Paolo Carpani. Enquanto corríamos com as retificações, pagávamos buscas em vários cartórios do interior de São Paulo e de Minas Gerais (por onde ele havia passado durante a vida) para tentar achar a certidão.. e nada.

Foi aí que desistimos desse documento. Para quem não sabe, o óbito não é obrigatório e algumas comunes aqui da Itália acabam não pedindo. Não tínhamos mais força nessa reta final para continuar as buscas e ainda tínhamos muita coisa para fazer com os documentos (traduções, apostilamentos), fora planejar toda a vinda para a Itália.

Aí a pandemia veio e mudou tudo. A nossa viagem que seria em março de 2020 não aconteceu. As fronteiras fecharam e ficamos com todos os documentos na mão, já traduzidos e apostilados.

E agora a gente volta pro meio do ano de 2019 para mais um parênteses necessário de gratidão: na busca incessante por uma pista de onde o italiano Carpani teria ido parar, achamos outras irmãs Carpani no Instagram e… pasmem! A família delas é a mesma que a nossa. O Paolo Carpani é o mesmo e o filho dele é o irmão mais velho do nosso bisavô. Foram elas que, quando nós já havíamos desistido, acharam o óbito do Paolo para nós no meio da pandemia. Em uma cidade que já havíamos cogitado e já havíamos recebido uma resposta negativa do cartório. Foi uma das chamadas de vídeo mais especial que já tivemos, meninas. Mas muito mais do que um documento, a gente achou amigas de mesmo sobrenome que jamais conheceríamos se não fosse essa saga. Somos muito gratas por esse encontro! Gratidão Michelly, Mikely e Mileny Carpani!

A família Carpani que conhecemos nesse processo!

Uma casa na Itália

Com todos os documentos em mãos devidamente traduzidos e apostilados, tínhamos mais uma saga pela frente: achar um imóvel na Itália para fazer o reconhecimento da cidadania italiana. Como agora tínhamos o óbito, a situação se tornou “um pouco mais fácil”, já que nossa pastinha de documentos estava completa.

O processo pode ser feito via consulado no Brasil – que pode demorar até 12 anos, no caso de São Paulo – ou diretamente na Itália se você se mudar para o país. Como o objetivo sempre foi vir morar na Europa, a segunda opção fazia muito mais sentido para nós desde o começo, já que o processo aqui pode levar em média de 3 a 6 meses para ser finalizado (uma diferença enorme para os 12 anos em São Paulo, no Brasil).

O grande desafio, no entanto, é que você deve se mudar REAL para a Itália, e isso implica em um contrato de moradia no seu nome, ou algum outro documento que prove que você está morando naquela residência. Muitos assessores prometem milagres de reconhecimento da cidadania em um mês mas que, na prática, é até ilegal. Já que para fazer o processo na Itália você está afirmando para os órgãos responsáveis que você se mudou para o país e, por isso, não está fazendo o seu reconhecimento no consulado do Brasil. Enfim, não é a ideia aqui entrar em legislação até porque não sou – de longe – a melhor pessoa para isso. Só peço que fiquem atentos com promessas milagrosas – são vários os casos de cidadanias italianas canceladas por conta de fraudes.

Veja bem: nossa ideia inicial era fazermos tudo sozinhas – até estudamos (muito pouco, hoje eu percebo) italiano para isso. Por isso saímos “à caça” de comunes que fizessem o processo em um tempo legal (muitas levam mais de um ano, às vezes até dois anos para fazer). Além disso, precisávamos achar proprietários de casas que fizessem o contrato de residência em nosso nome, para um curto período de aluguel (outra coisa que é quase impossível – e não estou exagerando – achar na Itália).

Meu marido, o Bruno, ajudou bastante nesse processo. Ele virou um verdadeiro detetive e foi atrás de investigar por fotos, vídeos e relatos, pessoas que haviam passado pelo processo de cidadania na Itália e que fizeram em um tempo legal (sem ficar um ano inteiro esperando o reconhecimento sair). Ele montou uma planilha com os comunes que tínhamos em mãos e saímos a procura de lugares para alugar. Até ligar para alguns oficiais nós ligamos, afim de saber como era o processo nesses lugares. (E aqui abro um parênteses para contar que, lógico, nem nós nem a pessoa que nos atendeu entendíamos o que falávamos no nosso italiano-via-google-tradutor. Recebemos como resposta um sonoro “Non capisco niente” = “Não entendo nada”. HAHAHAHA).

Quando íamos em março já estava praticamente tudo certo. Tínhamos uma casa – encontrada no Airbnb – em uma comune no norte da Itália e a comune era bacana para reconhecimento. A imobiliária que havíamos entrado em contato estava nos ajudando – apesar de não entender português e nós não falarmos italiano, a comunicação por inglês fluia. Mas como tudo fechou na pandemia, quando resolvemos ir em outubro, a casa já estava alugada. E nos vimos, novamente, sem saber para onde ir.

Além disso havia um “pequeno detalhe”: a Itália não aceitava viajantes vindos direto do Brasil ou que haviam passado os últimos 15 dias no nosso país. Ou seja, ir direto não era mais uma opção.

A @jeaninecarpani reativou os contatos que havíamos feito antes de acharmos essa primeira casa e, entre eles, estava a Luciana Quadros Canassa, que foi nossa ponte na Itália ao intermediar com o proprietário de uma casa o aluguel na região do Piemonte para nós (na real ela faz muito, muito mais que isso). Ela havia sido muito bem recomendada nos grupos de Facebook sobre Cidadania Italiana e, desde o começo, se mostrou bem coerente, nos enviando todas as informações sobre o processo, sem falar – claro – qual a comune que ela atuava. Confiamos e fechamos com ela e, em cerca de um mês, embarcarmos para a Croáciae essa viagem nós já contamos aqui.

Nossa casinha na Itália!

Se engana quem pensa que a maior dificuldade está em achar os documentos e arcar com todos os custos (faremos um post só sobre a parte financeira mais adiante, continue nos acompanhando por aqui), a parte italiana do processo de reconhecimento foi também bem desafiadora – em termos emocionais e mentais, principalmente. Fora o frio! Kkkkk, mas isso é história para outro post.

E se você quiser acompanhar nossas andanças por esse mundo afora pós-reconhecimento da cidadania italiana, continue por aqui e nos siga também no nosso Instagram e Facebook. Por lá nos falamos com ainda mais frequência!


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